quarta-feira, 25 de junho de 2008

20 ANOS DE PSDB: ENTRE A DIVISÃO E A CORRUPÇÃO

O site “vermelho” fez ontem uma boa análise da história do PSDB, cujos 20 anos de existência agora se completam. O título é o mesmo acima colocado.

O autor é Gilson Reis, Presidente do Sinpro – MG, Sindicato dos Professores, e dirigente nacional da CSC.

Transcrevo:

“O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foi fundado há vinte anos por meia dúzia de parlamentares desgostosos com a crise ética, política e econômica que vigorava na segunda metade do governo Sarney. A legenda surgia então como uma alternativa da elite nacional, com viés reformista e socialdemocrata, batizada de terceira via e inspirada nos partidos de mesma matriz ideológica que atuavam fundamentalmente na Europa ocidental.

Porém, ao contrário dos partidos socialdemocratas da Europa, vinculados ao movimento sindical e às lutas sociais, a sua caricatura brasileira desprezou qualquer participação popular e de transformação social. Aliou-se à alta burguesia financeira e aos setores paulistas da elite industrial e agrária. Não demorou muito e estava o PSDB coligado aos partidos de grande tradição fisiológica. Na área econômica, encontrou guarida na Febraban, na Fiesp e na CNI, e, na esfera política, interlocutores de toda uma geração de políticos da mais alta repugnância histórica: ACM, Bornhausen, Marco Maciel etc.

Nessa vasta aliança política, financeira e midiática, os tucanos não demoraram muito a alçar o posto máximo: o governo central, com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. A experiência histórica desse governo ainda está sendo escrita pelos historiadores, mas alguns parâmetros já estão perfeitamente delineados: alto índice de desemprego – o governo FHC gerou 10 milhões de desempregados; baixo crescimento econômico – o Brasil cresceu na ridícula taxa de 2,3% ao ano; corrupção – em oito anos de governo, dezenas de denúncias foram divulgadas, entre elas as do PROER, SIVAM, Pasta Rosa e Privatizações, mas nenhuma foi apurada; e miséria – a situação geral do povo brasileiro, que já era muito ruim, piorou ainda mais.

Com a vitória de Lula, em 2002, os tucanos, perdidos, anunciaram uma nova fase de crescimento pelo país, de consolidação dos princípios programáticos e de oposição permanente ao governo federal. O intuito, em certa medida, se confirmou. O PSDB elegeu no último pleito os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Alagoas e Paraíba, afirmando, portanto, importante presença no sul, sudeste e nordeste. Em relação à oposição ao governo Lula, o tucanato e seus aliados na Câmara e no Senado vêm demonstrando muita incapacidade e inconsistência política, consubstanciadas nos arroubos de seus líderes: José Agripino e Arthur Virgílio.

No campo oposicionista, quem tem se destacado é a grande imprensa, que, desde o início do primeiro mandato, ocupa o papel da oposição. Quanto ao programa praticado nos estados governados pelo partido, o modelito econômico e social é o mesmo: Estado mínimo, privatização, perseguição aos funcionários públicos e negociatas de várias matrizes.

Entretanto, as dificuldades da socialdemocracia tucana, órfã de qualquer movimento social e perdida nos desígnios e desacertos do liberalismo selvagem, encontram-se no seu mais alto nível de degradação. Seu líder máximo, o conservador Fernando Henrique Cardoso, encontra-se nas trevas, escondido nas ruínas do seu governo, aprisionado na masmorra do liberalismo e impossibilitado de falar ao povo, que o odeia e o renega.

A governadora Ieda Crusius, outra representante do alto tucanato, está emparedada por vários escândalos de corrupção, denunciados pelo vice-governador Paulo Feijó (DEM), que proporcionou até agora a saída de quatro secretários de Estado.

Na Paraíba, o governador Cássio Cunha Lima responde a dois processos, ambos já julgados pelo Tribunal Regional Eleitoral, que pediu a sua cassação. Para tentar salvar o mandato, o governador recorreu ao TSE, que, a qualquer momento, deverá julgar o recurso.

Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela realizou o maior ataque da história aos servidores públicos, proporcionando uma das maiores ondas de greve no estado, refletindo drasticamente na vida de toda a população alagoana.

Em São Paulo, dezenas de CPIs foram arquivadas. Entretanto, o último escândalo envolvendo a empresa Alston e o governo tucano foi estampado não por jornais brasileiros, é claro, mas pelo Wall Street Journal. A imprensa européia e as justiças francesa e suíça investigam o escândalo internacional, enquanto isso a imprensa nacional...

Ainda no mais rico estado do país, milhares de professores estão em greve por melhores condições de trabalho e salário. O Estado de São Paulo, depois de 16 anos de tucanato, apresenta um dos piores indicadores educacionais.

Em Minas Gerais, os problemas não são menores, mas, por enquanto, estão todos acobertados pela ampla aliança construída pelo governador Aécio Neves. No estado de Tiradentes, de tradição libertária, a imprensa, a Assembléia Legislativa, a maioria dos partidos políticos, além da burguesia são controladas pelo governador. A política neoliberal e o autoritarismo estão coesionados e controlados por uma maioria comprada pela corrupção subterrânea ainda não revelada. Contudo, de uma hora para outra, surgirão denúncias e escândalos envolvendo a Cemig, a Copasa, a Gasmig e outras empresas e maracutaias praticadas pelo neto de Tancredo Neves.

Mas é no campo da unidade partidária que os tucanos vivem o seu pior momento astral. A luta fratricida em São Paulo entre o governador Serra e o candidato à prefeitura da capital Geraldo Alckmin chegou ao maior grau de constrangimento dos últimos seis anos.

Em Minas Gerais, o governador Aécio Neves desconsidera o partido e, num oportunismo descabido, definido pelo seu projeto pessoal, alia-se ao maior adversário nacional do PSDB, o Partido dos Trabalhadores (PT).

No Nordeste e no Sul, seus candidatos sequer aparecem em condições de disputar as prefeituras de Porto Alegre, Maceió e João Pessoa.

Tudo indica que, ao comemorar vinte anos de vida, o PSDB, um jovem partido da elite brasileira, já apresenta sinais de velhice e de mesmice. A incongruência do que prega e do que faz, a inconsistência do que se propôs a fazer, o desatino pelo poder a qualquer custo, a corrupção, a divisão entre seus principais líderes e o distanciamento dos trabalhadores e dos movimentos sociais são indicativos da morte terminal de um partido criado na pós-ditadura militar e morto na pós-ditadura neoliberal.”

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