No sétimo capítulo da nossa série “O Brasil e as guerras mais recentes dos EUA”, intitulado “Fatos muito estranhos na guerra dos EUA contra o Afeganistão”, publicado neste blog em 22 de março último, escrevemos (registro somente trecho):
“COISAS MUITO ESTRANHAS - O NARCOTRÁFICO”
(...) "Sempre achei que havia no ar coisas muito estranhas, incoerentes [no caso Afeganistão].
(...) Por exemplo: o regime Talibã baniu do Afeganistão o cultivo do ópio, do qual é extraída a heroína. A produção caiu a zero em julho de 2001, dois meses antes do atentado às torres gêmeas de Nova Iorque. O comércio mundial daquele produto, que somente nos EUA move mais de dois bilhões de dólares por ano, ficou arrasado, com preços disparando, inviabilizando a sua comercialização e causando o desespero dos seus comerciantes e dos consumidores, principalmente norte-americanos.
Alguns meses depois da invasão norte-americana, na caça ao terrorista Bin Laden, os EUA devastaram com poder impressionante o Afeganistão, com milhões de toneladas de bombas e mísseis moderníssimos. Até o seu subsolo, suas cavernas, suas montanhas foram explodidos por novas e poderosas bombas que tudo esfarinhavam como um grande terremoto.
Aquele país atacado, cujos progresso e infra-estrutura o assemelhavam ao interior do Piauí, e o seu centro comercial era semelhante a uma feira livre da periferia de Caruaru, foi completamente destroçado, com dezenas de milhares de civis afegãos mortos. Até hoje, está totalmente ocupado pelas numerosas, modernas e poderosíssimas Forças Armadas dos EUA e de seus aliados.
Contudo, o surpreendente e incompreensível para mim é o Afeganistão, mesmo bombardeado e policiado palmo a palmo por forças que se intitulam com o nobre direito de combater o terror e o narcotráfico no mundo, ter rapidamente recuperado, e gigantescamente aumentado, a lavoura, a produção e a exportação do ópio, hoje já respondendo por quase 100% da produção mundial. Os preços e o suprimento da heroína já baixaram e estão normalizados nos EUA e nos demais grandes mercados consumidores.”
Hoje, 19 de junho, li na Folha de São Paulo a notícia abaixo transcrita parcialmente. Ela reforça aquela minha estranheza. Constato mais uma vez a inesperada relação diretamente proporcional entre intervenção militar dos EUA e aumento da produção de narcóticos.
“ONU CONFIRMA AUMENTO "CHOCANTE" DE PLANTAÇÃO DE COCA NA COLÔMBIA”
“Crescimento é revés para política antidrogas de Uribe, financiada pelos EUA”
“O estudo anual do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, divulgado ontem (18/06), confirmou o crescimento em 2007 da área de plantio de coca na Colômbia. Foram 99 mil ha para a produção da matéria-prima da cocaína, 27% a mais do que em 2006, salto considerado "surpreendente e chocante" pelo organismo.
As cifras da Colômbia, maior produtor mundial da droga, são um revés para a política de combate ao narcotráfico e à guerrilha do governo Álvaro Uribe, que recebeu desde 2001 ao menos US$ 5,5 bilhões dos EUA no Plano Colômbia [e significativo contingente militar norte-americano, denominado “assessores”].
(...) O Escritório da Política de Controle de Drogas da Casa Branca estimou em fevereiro que 1.421 toneladas métricas de cocaína saíram da América Latina em 2007, o que representaria um salto de 40% sobre 2006.”
Muito estranho. Em 2008, o comércio de narcotráfico (heroína e outros) movimenta 1,75 trilhões de euros no mundo, segundo a ONU.
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