quarta-feira, 25 de junho de 2008

DESMASCARANDO A FOLHA

O blog “óleo do diabo”, de Miguel do Rosário, voltou das férias e com um ótimo texto que aqui transcrevo. Trata-se de boa notícia para a economia brasileira que o jornal Folha de São Paulo de ontem distorceu para que ela parecesse negativa.

Esse exercício de contorcionismo já é tradicional na nossa grande mídia. Na década de 90, a imprensa fazia um enorme esforço para transformar fatos negativos para o Brasil em grandes feitos do governo PSDB/FHC/PFL. Nos últimos seis anos, as distorções continuam, mas noutro sentido. Notícias boas para o Brasil e o governo Lula são publicadas de forma a parecerem ruins.

Miguel do Rosário desmascara essa tática com clareza e perspicácia. Transcrevo (não consegui reproduzir um gráfico que consta no "óleo do diabo"):

“A Folha me deu uma assinatura grátis de 30 dias. Digo isso porque eu, que já gostei da Folha, acho que o seu nível decaiu brutalmente nos últimos anos. Tornou-se um periódicuzinho safado, birrento, enganoso. Hoje (24/06/2008) peguei o danado com a boca na botija. Tem uma matéria na página B6, intitulada "Exportação [brasileira] para os EUA cai a 15% do total", que vai para os anais do golpismo banguela.

O número é simples de entender. Antigamente, os EUA compravam quase tudo que o Brasil produzia. Hoje, o leque de compradores de produtos brasileiros é muito mais variado. Temos China, Oriente Médio, África, Mercosul, comprando grandes quantidades e valores do Brasil.

Trata-se de um dado positivo em todos os sentidos. O Brasil está menos dependente de um mercado só. Diante da recente (e atual) crise financeira norte-americana, o fato torna-se ainda mais relevante. Os EUA compram hoje cerca 15% das exportações brasileiras, contra 21% em 2003 (diz a Folha). Não significa que as exportações brasileiras para os EUA tenham diminuído. Ao contrário. Em 2002, último ano fernandista, o Brasil exportou US$ 15,81 bilhões para os EUA. Em 2007, esse número saltou para US$ 25,64 bilhões. Aumento de 62%.

Mas não é isso que a Folha diz. Usando a velha e espertinha tática de ir atrás de declarações que provem teses pré-fabricadas (no caso, de que a nossa política internacional seria "terceiro mundista", "ideológica" e "anti-americana", e isso apesar da Condolezza Rice ter dançado olodum em Salvador), o jornal cita um tal Mario Marconini, da Federação do Comércio de SP, que afirma que o Brasil "está perdendo espaço no mercado americano para concorrentes como a China e Índia". Outro entrevistado, Roberto Gianetti da Fonseca, vai na mesma linha e sai com essa pérola negra: "Diversificar é bom, mas é preciso aumentar a participação dos EUA". É como dizer: picanha fresca é muito bom, mas não podemos esquecer a velha e boa salsicha.

"Ora, direis, ouvir estrelas! Perdeste o senso! ", divagava Bilac. Pois é. Fui atrás dos números e verifiquei que o Brasil não está perdendo espaço coisíssima nenhuma. A participação brasileira nas importações americanas aumentou sensivelmente nos últimos anos, saindo de um patamar em torno de 1,1%, para mais de 1,4%. E não se iluda com a modéstia desses números. Estamos falando de um país que importa anualmente quase 2 trilhões de dólares. Esses decimais correspondem a dezenas de bilhões de verdinhas.

De fato, a China ampliou seu espaço no mercado americano, de 11% em 2002 para 16% em 2007. E daí? O gigante dos olhinhos puxados elevou suas exportações para o mundo inteiro. A mão-de-obra na China custa um décimo que a mão-de-obra no Brasil. É um governo totalitário, que não presta contas para nenhum parlamento e para nenhuma imprensa. Acho sempre engraçado quando a mídia brasileira procura denegrir o Brasil comparando-o com a China. Não troco o nosso crescimento modesto de 5% ao ano pelo crescimento de 10% da China, assim como não troco o aumento das exportações chinesas pelo aumento das nossas.

Quanto à Índia, o Marconini falou bobagem. A participação das exportações indianas no mercado americano continua menor que a brasileira: fechou 2007 em 1,23%. Também aumentou bastante de uns 10 anos para cá. Até 2001, era inferior a 1% mas nada indica que esteja tomando o espaço brasileiro. Até onde sei, a Índia se destaca na exportação de softwares e, portanto, não é concorrente do Brasil.

A matéria é tendenciosa e induz a um conclusão errônea sobre a economia brasileira. Eu me pergunto: qual o interesse da Folha? Por que ela está o tempo todo tentando fazer seus leitores verem as coisas piores do que realmente são? Nesse caso, nem se trata de sensacionalismo. Qual a vantagem em distorcer a realidade do comércio exterior brasileiro? Por acaso, o objetivo é prejudicar o Lula? Dar subsídio para a um boçal ou ingênuo acusar, com base nessa matéria furada, o governo de ser "terceiro mundista"?

Evidentemente, as exportações brasileiras para os EUA poderiam ter crescido 200%, nos últimos 5 anos, em vez de 62%. O Incrível Hulk também podia ser menos estressado. O Brasil NÃO perdeu participação no mercado americano. Esta caiu levemente nos últimos dois anos, mas cresceu vigorosamente em relação ao ínicio da década atual e final dos anos 90.

Desejar que um país em crise (os EUA), com um déficit comercial monstruoso, com uma moeda derretendo, aumente sua participação nas exportações brasileiras, é uma estupidez tão inconcebível e grotesca que mereceria constar como exemplo num ensaio intitulado "a revolução dos retardados".

O dinheiro americano vale mais que o dinheiro europeu, asiático, africano, argentino? Transformar a diversificação das exportações brasileiras num fato negativo não é apenas mau jornalismo. É o mais tosco anti-patriotismo, a mais incompreensível burrice, a mais imperdoável safadeza.”

Nenhum comentário: