Achei bom o texto seguinte, do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que li ontem (21/06) no blog do Noblat:
“O Brasil e o mundo estão à véspera de reorientações na matriz energética. Isso traz uma grande oportunidade para o Brasil - mas não a primeira. Já tivemos o açúcar, o ouro, a borracha, o café fazendo nossas cidades ricas e nossos barões ricos como a aristocracia européia. Pouco ficou no Brasil, nada para os brasileiros pobres. Mas talvez nenhuma oportunidade do passado tenha tido o potencial dos produtos geradores de bioenergia.
Nenhum outro país tem cerca de 80 milhões de hectares de terras aráveis não utilizadas, suficientes para produzir anualmente até 600 bilhões de litros de etanol e abastecer quase 300 milhões de automóveis rodando por ano. Apenas 10% dessa área permitiriam abastecer toda a frota brasileira e exportar até 500 bilhões de litros, o que geraria um ingresso anual de até 250 bilhões de dólares.
Por essa razão, devemos aplaudir a luta do Presidente Lula de transformar o Brasil em grande fonte de energia renovável. Para que isso aconteça, é preciso tomar cinco decisões para impedir a repetição da triste história das oportunidades perdidas no passado.
A primeira decisão é quanto produzir, segundo nossas prioridades, sem submissão à demanda mundial. Além de uma tática mercadológica, como faz a OPEP para evitar o aviltamento do preço, isso é fundamental para impedir que a energia seja produzida à custa de florestas ou alimentos. Porque os tanques dos automóveis que precisam de combustível têm mais poder de demanda do que os estômagos dos pobres que precisam comer. E também porque o produtor, logicamente, usará as áreas mais próximas dos portos ou dos consumidores. É preciso afinar liberdade de mercado com o zoneamento de áreas para a produção do biocombustível.
A segunda diz respeito ao perfil das pesquisas em ciência e tecnologia agrícolas: a transformação da agricultura em fonte de energia poderá dar prioridade às pesquisas por matérias-primas geradoras de energia em detrimento do aumento da produção de alimentos.
A terceira diz respeito aos trabalhadores, porque as riquezas anteriores não deixaram benefícios para eles. É preciso agora, séculos depois, que sobrevivam com a ajuda de bolsas assistenciais.
A quarta se refere à soberania. O monopólio estatal da exploração inviabiliza o pleno aproveitamento das riquezas, mas a propriedade dos recursos no subsolo tem sido nacionalizada em quase todo o mundo, para evitar que o proprietário se negue a produzir quando o mundo quer comprar, e para impedir que donos privados decidam amanhã separar do Brasil as áreas ricas. O mesmo deve valer para a riqueza que está sobre o solo: a propriedade deve ser brasileira, com concessões de longo prazo para o setor privado, como se faz para a exploração das riquezas do subsolo.
A decisão mais importante é a quinta: formar um pacto nacional para que, ao longo dos próximos 30 anos, qualquer que seja o partido no governo, a nova riqueza não seja desperdiçada, para o benefício de poucos e do momento. Criar um Fundo para a Construção do Futuro do País, financiado com royalties sobre o etanol exportado para promover a ciência, a tecnologia e a educação. Formando a base permanente da participação do Brasil na economia do conhecimento e sua integração social. Se isso tivesse sido feito no passado, o Brasil seria hoje um país completamente diferente.
O etanol tem que ser nosso, de forma permanente e para todos. Pelo tamanho, pela base científica, o Brasil pode ser exemplo da transformação de recursos naturais renováveis em capital-conhecimento. O que não conseguimos no passado, porque a riqueza servia apenas para financiar a importação e a produção para ricos. Mas agregando, agora, bolsas para os pobres.
Temos a oportunidade e a obrigação de mudar. Um pacto “O Etanol é Nosso”, pelo investimento dos resultados financeiros nas próximas décadas - qualquer que seja o partido no governo - em educação, ciência e tecnologia, vai permitir que os recursos de hoje sejam utilizados na construção do futuro.”
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3 comentários:
É incrível como a história se repete. Latifúndio, monocultura, produção voltada para a exportação... pessoas não chupam cana nas suas refeições diárias, sr. C Buarque.
Se Brasil continuar sendo um exportador de matérias-primas, vai continuar subdesenvolvido e com uma desastrosa distribuição de renda.
Já não bastaram os mais diversos ciclos da nossa economia? Já não vimos que não deu certo?
Obs: desculpem a gigante simplificação
Prezado Luizão,
Acho corretas a suas preocupações.
Pelo que entendi do texto de Cristovam Buarque, ele está em concordância com as suas preocupações. Nem sempre concordo com os posicionamentos daquele senador, mas neste artigo julguei-os certos.
Obrigado pela visita
Maria Tereza
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