quinta-feira, 5 de junho de 2008

OBAMA VENCENDO, MUDARÁ A POLÍTICA EXTERNA DOS EUA?

A esperança do mundo é que, com o fim da era republicana de Bush, diminuam os riscos de novas guerras desencadeadas ilegitimamente pelos EUA.

Sobre o assunto, encontrei um muito bom artigo de Manuel Cambeses Júnior no site "Portal Militar". O autor é coronel-aviador aposentado; conferencista da Escola Superior de Guerra; membro do Instituto de Geografia Militar do Brasil; e vice-diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

Seu artigo é datado 27 de junho do ano passado, mas continua atual. Transcrevo:

"No final dos anos oitenta do século passado, o renomado escritor Paul Kennedy escreveu sua consagrada obra intitulada “Ascensão e Queda das Grandes Potências”.

Nesse livro, com notável maestria, ele visualizava a situação dos Estados Unidos no futuro, abordando os riscos representados pelas políticas simplistas em meio a um mundo cada vez mais complexo. Enfatizava que os piores danos que poderiam sofrer seriam auto-inflingidos, caso não soubessem se adaptar a um mundo em transformação.
Assinalava, inclusive, que os recursos consideráveis de que dispunham os EUA deveriam ser utilizados de maneira judiciosa, reconhecendo suas próprias limitações.

Alguns anos depois do livro de Kennedy, surgiu na revista National Interest um instigante artigo de Charles Krauthammer, intitulado “O Momento Unipolar”. Ali ficou plasmado, pela primeira vez, o credo neoconservador, que uma década mais tarde haveria de conformar a base da política externa do presidente George W. Bush.

Krauthammer se referia à capacidade norte-americana de moldar o mundo à sua vontade, impondo regras de jogo universais que respondessem unicamente a seus reais interesses. Segundo suas palavras: “Após o 11 de setembro de 2001, o Momento Unipolar transformou-se na Era Unipolar”.

Lamentavelmente, a Administração Bush não soube entender que essa capacidade para moldar o mundo em seus próprios termos já existia, através de uma velha estrutura hegemônica desenhada à imagem e semelhança dos interesses estadunidenses. Da mesma maneira que tampouco soube compreender que a preservação dessa estrutura requeria aquilo que Zbigniew Kazimierz Brzezinski definiu como “o exercício da liderança através de sutis vias indiretas”.

Ao tentar obter o mesmo resultado mediante o exercício prepotente do unilateralismo, somente conseguiu divorciar o poder dos mecanismos que potencializavam e facilitavam seu exercício. Projetou-se, assim, uma visão imperialista que deixou sem sustentação uma arquitetura hegemônica, cujo principal beneficiário era o governo estadunidense.

Os diversos instrumentos e mecanismos que davam sustentação a essa hegemonia foram desarticulados ou fraturados.

Desde o Conselho de Segurança da ONU, fortemente desestruturado em virtude da atual política norte-americana de torcer braços e proferir ameaças, até à Aliança Atlântica que entrou em curto-circuito funcional por causa do distanciamento entre os EUA e a maior parte de seus parceiros europeus.

A partir dos organismos financeiros multilaterais, deixados à deriva como resultado do unilateralismo e da falta de atenção de Washington, até à Rodada de Doha, da OMC, cujos objetivos foram relegados através de sua especial ênfase nos tratados de livre comércio bilaterais.

Desde o processo de paz entre Israel e Palestina, deixado sem bases e completamente desacreditado em face do apoio descarado e irrestrito a Israel, até a relação com os governos amigos do Oriente Médio, seriamente afetada devido ao nefasto messianismo democrático adotado pela superpotência.

Desde a lamentável fratura dos equilíbrios de poder no Oriente Médio até à alienação da América Latina.

Não ficou uma só área na política externa que não se visse afetada pela imposição de ações simplistas, pela falta de adaptação a um mundo em transformação e pelo desconhecimento de suas reais limitações.

O fato de esposar prioritariamente o pensamento de Krauthammer, relegando a segundo plano o de Paul Kennedy, certamente tem acarretado profundas implicações ao desastrado Governo Bush."

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