domingo, 5 de outubro de 2008

NÃO MAIS SE FAZ NEOLIBERAIS COMO OS DOS ANOS 90

'ESTADÃO' FESTEJA COM CAUTELA O PACOTE AMERICANO

O editorial deste sábado do Estado de S. Paulo festeja a aprovação do que chama "pacote anticrise", na "batalha no Congresso" dos Estados Unidos: "Aparentemente, um choque de realidade contribuiu para diminuir a oposição ao pacote", afirma. Mas adverte que a recessão vem aí. E aproveita para hipotecar seu apoio ao Banco Central brasileiro de Henrique Meirelles.

Li o seguinte texto de Bernardo Joffily no site “Vermelho”:

"Vencida a batalha no Congresso, o governo americano terá de agir com rapidez para conter a crise no mercado financeiro e impedir que os Estados Unidos atolem numa profunda recessão"', instrui o editorial, entre aliviado com a votação no senado e na Câmara e acabrunhado com os "inquietantes sinais de enfraquecimento"'.

O texto nem sequer menciona a incongruência entre o pacote – uma interferência estatal de US$ 852 bilhões – e os "fundamentos" do "livre mercado", cuja defesa era compartilhada pelo Estadão, o presidente George W. Bush e seu candidato presidencial, John McCain. Nas entrelinhas, fica clara a noção de que a crise é séria demais para permitir veleidades como o apego aos princípios neoliberais.

"Já não se tratava de um socorro aos banqueiros, mas de uma iniciativa necessária para conter uma crise econômica e salvar o emprego de milhões de americanos", assevera o Estado. De passagem, ainda critica "a falta de regulação do mercado" (!). Decididamente já não se faz neoliberais como os dos anos 80 e 90 – nem nos EUA, nem no Brasil.

Ao mesmo tempo o editorial registra, sem viés de elogio ou crítica, que a crise trouxe uma "alteração vantajosa" para Barack Obama, ao colocar a economia no centro da disputa presidencial de 4 de novembro.

"Se o pacote for aplicado com eficiência, a insegurança no setor financeiro será atenuada, mas isso não impedirá, segundo avaliação de muitos economistas, um severo esfriamento econômico nos Estados Unidos. Mesmo com novas providências das autoridades européias, dificilmente se evitará uma fase de um ou dois anos de estagnação no mundo rico", prevê o Estadão.

O texto assinala que a crise afetará também os emergentes e se apressa a elogiar as "providências concretas" do Banco Central brasileiro "para amenizar os problemas de liquidez". Logo na frase seguinte ataca o governo Lula, ao dizer que "o Executivo anunciou umas poucas medidas, mas continua a mostrar-se mais propenso a bravatas do que à ação eficaz" – como se o Banco Central não fosse parte do Executivo.

Este último parágrafo deixa uma dúvida. Será um escorregão no sempre bem cuidado editorial do Estadão? Ou o texto está correto e a incoerência está no governo Lula?“

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