Região sempre ocupou lugar discreto nos estudos do IISS. Este ano, o cenário mudou e, segundo analista, para pior
"A América Latina enfrenta "inúmeras e complexas ameaças" de instabilidade militar, que põem em risco o equilíbrio regional. A conclusão é do relatório military Balance 2010, apresentado esta semana, em Londres, pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês).
Para o especialista em América Latina do IISS, James Lockhart-Smith, o risco maior está na aliança entre os países bolivarianos e governos como Rússia, China e Irã, além da tensão latente entre Venezuela e Colômbia, cujos governos representam atualmente polos opostos do espectro ideológico latino-americano. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
Os governos latino-americanos têm aumentado seus gastos militares nos últimos anos. O sr. vê nesse movimento uma corrida armamentista? O que o estudo do IISS concluiu?
Os gastos cresceram em valores absolutos. Mas, se você olha para a relação deles com o crescimento do PIB, não foi tanto. Além disso, analisando o perfil desses gastos, veremos que eles não seguem um padrão de armas que se equivalem. Numa corrida armamentista, os gastos bélicos são feitos num ciclo no qual um país tenta manter ou superar sua posição militar em comparação a outros países que estejam fazendo o mesmo. Se houvesse algo assim na região, veríamos um padrão de aquisições. Isso, contudo, não está ocorrendo. Os países estão mais interessados em se reequipar para responder a suas próprias prioridades estratégicas, que não guardam relações entre si.
O relatório do IISS confirma que os EUA atuam cada vez menos como intermediários na América Latina. Isso está, de fato, abrindo espaço para as ambições políticas e militares do Brasil?
Já está claro que a mudança do papel dos EUA criou oportunidades para as ambições brasileiras de liderança. Mas não foi só isso. Há a influência de outros fatores e o principal deles talvez seja a maturidade econômica e política do Brasil, que fez com que o País aumentasse sua influência coordenando diplomacia e penetração econômica.
Trata-se de um movimento que contrasta, por exemplo, com a desestabilização que a Venezuela provoca quando tenta estender sua influência. Mas note que as ambições brasileiras são, entretanto, limitadas pelo nacionalismo dos países bolivarianos, que resistem em dar privilégios econômicos ao Brasil. Basta ver o que acontece com os investimentos da Petrobrás na Venezuela, Equador e Bolívia.
Como o sr. vê a aproximação dos presidentes bolivarianos com líderes de Rússia, China e Irã? Trata-se de um movimento capaz de desestabilizar a região?
O que vemos é uma tentativa de substituir a influência americana. Para isso, os líderes bolivarianos buscam parceiros mais favoráveis em termos econômicos e ideológicos, seja para a obtenção de crédito, para novos investimentos ou até mesmo para a compra de armas. Já para a China, esse movimento vem casado com um engajamento considerável na região, caracterizado por atitudes cada vez mais assertivas em relação aos EUA. A Rússia, por sua vez, encontrou na Venezuela, na Nicarágua e no Equador aliados numa zona que estava tradicionalmente sob influência americana e, além disso, tem apostado em demonstrações simbólicas de poder marítimo, como fez em 2008, com um grande exercício que levou sua força naval ao Caribe. Já o Irã tem demonstrado interesse em acordos para a exploração de urânio na Venezuela e na Guiana. Esse cenário pode representar alguma ameaça para a estabilidade regional, principalmente agora que os líderes de Venezuela e Equador parecem estar mais fracos no âmbito interno.
O sr. crê que a polarização política e ideológica na América do Sul possa levar o subcontinente a um conflito nos próximos anos?
A diplomacia do microfone e a retórica latino-americana divergem muitas vezes das razões estratégicas reais. Apesar disso, o risco de um conflito não é desprezível. O cenário mais provável envolveria Venezuela e Colômbia. A afinidade do presidente venezuelano, Hugo Chávez, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a 'proximidade' do presidente colombiano, Álvaro Uribe, com os EUA tornam esse risco plausível. Se as Farc fizerem algum grande ataque com armas que tenham vindo da Venezuela, isso poderia ter um grave efeito. As outras ameaças estão ligadas ao narcotráfico, mais do que a conflitos interestatais."
FONTE: reportagem de João Paulo Charleaux publicada hoje (07/02) no jornal da direita o Estado de São Paulo (em consequência, com acentuada tendência pró-EUA, pró-Inglaterra, pró-Colômbia e contra a Venezuela e governos mais à esquerda, como perceptível no texto acima).
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