quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O BRASIL PRIVATIZADO PELO PSDB (relançamento)




Aloysio Biondi, um dos mais importantes jornalistas econômicos do Brasil, com os filhos Pedro e Antonio

Biondi: MENOS ESTADO E MAIS "MERCADO"E OU MAIS ESTADO?
Antonio Biondi: Relançamento de “O Brasil Privatizado” educa jovens sobre como seriam governos de Marina e Aécio

Por Luiz Carlos Azenha

"O Brasil precisa de mais Estado e menos mercado ou de mais mercado e menos Estado? Para Antonio Biondi, jornalista, filho de Aloysio Biondi, essa é a decisão que os eleitores brasileiros tomarão ao escolher o próximo ocupante do Palácio do Planalto.

Para ele, foi o Estado um pouco mais atuante, desde a eleição de Lula, em 2002, que tornou possível as melhorias sociais que o Brasil experimentou nos últimos 12 anos.

Conversamos com Antonio por conta do relançamento, previsto para o próximo dia 15 de setembro, na sede do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, de uma obra seminal para quem pretende conhecer a história recente da economia brasileira: "O Brasil Privatizado", que vendeu cerca de 140 mil exemplares depois de chegar às livrarias, há 15 anos.

A apresentação do livro é de Jânio de Freitas, que estará presente ao lançamento ao lado do economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.

Como uma associação de interesses inconfessáveis desfechou o maior assalto da história ao patrimônio nacional”, é o subtítulo que resume o livro.

Para Antonio Biondi, um dos filhos do autor Aloysio, já falecido, a nova edição da obra é fundamental num momento em que uma jovem geração de eleitores — parte da qual foi às ruas pedir mudanças no Brasil, em 2013 — ajudará a decidir os rumos do país “com uma posição muito mais crítica ao atual governo do que em relação às alternativas que se colocam”.

Ele está falando, obviamente, do tucano Aécio Neves, herdeiro de Fernando Henrique Cardoso — a quem Aécio elogia, mas sem mostrar na propaganda eleitoral — e de Marina Silva, que foi do PV, fracassou ao tentar criar seu próprio partido e herdou a vaga de candidata depois da trágica morte de Eduardo Campos, do PSB. Agora socialista, Marina apresentou um programa econômico ainda mais conservador que o de Aécio, com proposta de autonomia institucional do Banco Central e um freio na exploração do pré-sal, entendido como opção de quem vê a era do petróleo — e a destruição ambiental causada por ele — a caminho do fim.

O jornalista vê com preocupação essa sinalização da candidata do PSB, uma vez que os investimentos na exploração do pré-sal já foram feitos e seria temerário reduzir o ritmo de produção quando o Brasil ainda é importador de petróleo, podendo se tornar a médio prazo um grande exportador.

Antonio acredita que existe uma contradição clara entre as propostas de Marina e os desejos dos manifestantes que foram às ruas, em 2013, muitos dos quais pretendem votar nela. É que eles pediram saúde, educação e outros benefícios sociais públicos, que na opinião do jornalista exigiriam um Estado mais atuante. Justamente na contramão de um "Banco Central autônomo", que dará mais poder aos banqueiros na definição da taxa de juros e nos rumos da macroeconomia, favorecendo "o mercado".

Em outras palavras, afirma o filho de Biondi, se a intenção de Marina é baixar a inflação, o BC adotará medidas que podem ser incompatíveis com suas propostas eleitorais — juros mais altos em geral resultam em desemprego ou arrocho salarial.

Antonio prevê, portanto, choques institucionais entre um governo que tentará colocar em prática seus projetos e um BC autônomo focado exclusivamente no controle da inflação.

Além disso, ele opina que o câmbio livre numa conjuntura dessas será um paraíso para os especuladores.

Boa parte de nossa conversa, aliás, foi sobre especuladores.

O mercado quer inventar motivos para ganhar dinheiro em cima do que ele puder”, afirma, para justificar as recentes variações nos valores de empresas estatais atribuídas exclusivamente ao resultado de pesquisas eleitorais.

Para Antonio, é mera ação de especuladores. Dá um exemplo deixando no ar uma pergunta: qual é o sentido de as ações da Petrobras subirem se a Marina diz que o pré-sal não é prioritário?

Perguntei ao filho de Aloysio Biondi se ele acredita que, eleitos Marina ou Aécio, as privatizações serão retomadas. Os riscos maiores de isso acontecer, diz, são em empresas periféricas, ligadas às estatais restantes, como a seguradora e a empresa de cartões de crédito do Banco do Brasil, a Cielo.

Uma espécie de fatiamento, como se tentou fazer com a Petrobras, que o governo de Fernando Henrique Cardoso/PSDB tentou mudar de nome para Petrobrax antes de vender.

Antonio Biondi lembra que estão de volta, nesta campanha presidencial, como possíveis homens fortes de futuros governos conservadores, economistas ligados ao pensamento mais ortodoxo, como Armínio Fraga, André Lara Rezende e Eduardo Gianetti da Fonseca.

Lara Rezende, aliás, hoje ligado à candidata Marina, foi o homem do desastroso confisco da poupança do governo de Fernando Collor.

São economistas que defendem menos Estado e mais "mercado".

Porém, o que "O Brasil Privatizado" demonstra, em números, é que foi uma fórmula desastrosa: resultou numa imensa perda do patrimônio público, sem que houvesse as melhorias prometidas à época na qualidade de vida da população.

Empresas construídas com dinheiro dos contribuintes foram praticamente doadas.

O caso mais escabroso foi a da mineradora Vale do Rio Doce: “Vendida por 3 bilhões em 1997, ela teve uma receita de R$ 104,25 BILHÕES em 2013 (alta de 11,5% em relação à 2012)”, informa Antonio.

Sobre o setor de telecomunicações, também privatizado, o jornalista diz que seu pai “sempre alertou sobre o perigo que a privatização de empresas como a Telesp, Telerj e Telebras representariam para o país, especialmente na questão da remessa de lucros e da sua importância estratégica. Pois bem, hoje essas empresas obtém polpudos empréstimos do BNDES, e remetem bilhões de dólares para suas matrizes no exterior, fragilizando ainda mais nossa balança comercial, conta corrente e balanço de pagamentos. As empresas privatizadas integram alguns dos maiores conglomerados de telecomunicações do mundo, gerando lucros e receitas crescentes para empresários como Carlos Slim, um dos homens mais ricos do planeta — dono da América Móvil (controladora da Claro) e com participações na Embratel e na NET”.

Antonio Biondi também fala de promessas não cumpridas, feitas à época para justificar as privatizações: “A perspectiva de concorrência no setor se mostrou outra falácia, com uma crescente concentração nas principais empresas — que se revezam nas perspectivas de fusões e aquisições. Se ontem a Telefônica queria comprar a TIM, hoje Vivo já incorporou a Telefônica , e quer comprar a GVT. Aliás, havia até uma proposta de ‘empresas-espelho’, que desapareceram tal qual miragem. Ou alguém sabe por onde anda a Intelig e o código 23?!”.

O jornalista lamenta o desmanche quase completo da Telebras: “Por fim, diante da falta de interesse de essas empresas fazerem investimentos estratégicos para o Brasil (como uma rede de fibra óticas que atenda às instituições públicas, ou uma banda larga que chegue aos rincões do país), foi necessário ao governo federal reativar a Telebras. Que, diga-se de passagem, nunca foi liquidada nem pelos tucanos, pois seus funcionários seguiram prestando serviços indispensáveis para a Anatel e para o Ministério das Comunicações. E que também não cumpriu com tudo que se espera e se prometeu em relação a ela. A Telebras ainda não chegou onde pode e onde queremos, pois isso contraria muito interesses. Um doce para quem adivinhar de onde eles partem e onde eles chegam”.

O filho de Aloysio Biondi faz, também, um alerta sobre o maior ativo dos brasileiros, a Petrobras, fustigada hoje pelos conservadores nos jornais, na Bolsa e no Congresso: “O Biondi dizia, mais ou menos com essas palavras, que se dependesse dos liberais, a Petrobras ainda estaria pesquisando petróleo com lampião e vara de bambu. E estaria longe, muito longe de encontrar e explorar o petróleo da camada Pré-Sal. Creio que essa ironia sirva também para quem diz que o Brasil nunca teria chegado a essa miríade de celulares utilizados pelo povo brasileiro caso não tivesse privatizado o sistema Telebras. Eu uso o exemplo da Petrobras — e minha convicção na capacidade do país e do seu povo — para dizer que poderíamos e podemos chegar onde quisermos, seja em relação aos celulares, seja em relação à geração de energia e à exploração do petróleo. Agora, se eles não acreditam na nossa capacidade, já é uma questão que cabe somente a eles responder”.

O “eles”, aqui, inclui Aécio Neves e Marina Silva: “Aliás, para quem afirma que pretende suspender, mesmo que temporária e preventivamente, os investimentos no Pré-Sal, cabe a recordação de que os maiores desastres ambientais recentes da Petrobras se deram justamente por falta de investimentos, e não o contrário”.

(...) Nossa entrevista traz um dado estarrecedor. Ao concluir sua obra, Aloysio Biondi calculou quando o Tesouro brasileiro ganhou efetivamente com as privatizações, descontando os investimentos públicos feitos para “preparar” as empresas para a privatização. Concluiu que a venda da Vale, das empresas de telefonia e de outros setores, todas construídas com o dinheiro dos trabalhadores brasileiros, deu prejuízo ao Brasil!!!

Os que lucraram, direta ou indiretamente, estão querendo mais."

FONTE: escrito pelo jornalista Luiz Carlos Azenha em seu portal "Viomundo"   (http://www.viomundo.com.br/denuncias/antonio-biondi-relancamento-de-o-brasil-privatizado-educa-jovens-sobre-como-seriam-governos-conservadores-de-marina-e-aecio.html). [Título e subtítulo adicionados por este blog 'democracia&política'].

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