"ÍNDICE DE PROGRESSO SOCIAL". BRASIL LIDERA ENTRE OS EMERGENTES
"O economista Michael Green propõe o "IPS - Índice de Progresso Social" como novo padrão de valores para se medir o progresso real das nações nos dias de hoje. Ao analisar a atual conjuntura mundial, ele coloca em destaque o papel do Brasil como o líder do IPS entre os países emergentes.
O termo Produto Interno Bruto (PIB) normalmente é tratado como se tivesse sido "enviado por Deus em tábuas de pedra". Mas esse conceito foi inventado por um economista na década de 1920. Nós precisamos de uma ferramenta de medida mais eficaz para satisfazer as necessidades do século 21, diz o economista Michael Green: o Índice de Progresso Social. Com simpatia e humor, ele mostra como essa ferramenta mede sociedades através das três dimensões que realmente importam. E revela a dramática reordenação das nações que surge quando ela é usada.
Tabela de países classificados segundo o seu IPS (ampliar para visualizar)
Michael Green, economista especialista em progresso social, criou o "Social Progress Index", um padrão de medida para classificar sociedades baseadas na preocupação de ir ao encontro das necessidades dos seus cidadãos.
O economista britânico Michael GGreen, criador do conceito do IPS - Índice de Progresso Social
Em seu livro "Philanthrocapitalism" (escrito em coautoria com o jornalista de negócios Matthew Bishop), Michael Green define um novo modelo para a mudança social construída a partir de parcerias entre o mundo dos altos negócios sadios, os governos e as organizações comunitárias. Logo após a publicação da obra, por sinal muito bem sucedida, Bishop lançou a ideia de um “Índice de Competitividade Social”, baseado na premissa de que, algum dia, as nações irão competir umas contra as outras para se tornarem as mais avançadas socialmente, da mesma maneira como hoje competimos para sermos os mais ricos. Green adorou a proposta e decidiu convertê-la em realidade.
Vídeo da palestra de Michael Green no TED (em inglês):
Tradução integral da palestra de Michael Green:
"Em 4 de janeiro de 1934, um jovem entregou um relatório
ao Congresso dos Estados Unidos que, depois de 80 anos, ainda
define as vidas de todos neste auditório, que ainda define as vidas
de todos neste planeta.Esse jovem não era um político, não era
um empresário, um ativista de direitos humanos ou um líder
religioso. Ele era o herói mais improvável, um economista.
Seu nome era Simon Kuznets, e o relatório que ele entregou
se chamava "Renda Nacional, 1929-1932".
Talvez vocês estejam pensando que esse relatório é seco e tedioso.
Talvez vocês estejam pensando que esse relatório é seco e tedioso.
E estão absolutamente certos. É completamente seco. Mas esse
relatório é o alicerce de como avaliamos o sucesso dos países hoje:
mais conhecido como Produto Interno Bruto, PIB.
O PIB definiu e moldou nossas vidas nos últimos 80 anos. E hoje eu
O PIB definiu e moldou nossas vidas nos últimos 80 anos. E hoje eu
gostaria de falar sobre um jeito diferente de medir o sucesso dos
países, um jeito diferente de definir e moldar nossas vidas pelos
próximos 80 anos.
Mas primeiro, nós temos que entender como o PIB chegou a
Mas primeiro, nós temos que entender como o PIB chegou a
dominar nossas vidas. O relatório de Kuznets foi entregue
num momento de crise. A economia dos EUA estava despencando
na Grande Depressão e os legisladores tinham dificuldades para
responder.
Dificuldades porque eles não sabiam o que estava acontecendo.
Eles não tinham dados e estatísticas. O que o relatório de
Kuznets ofereceu foram dados confiáveis sobre o que a economia
americana estava produzindo, atualizado a cada ano. Munidos
dessa informação, os legisladores conseguiram, enfim, encontrar
uma solução para sair da crise. E porque a invenção de Kuznets
revelou-se tão útil, ela se espalhou pelo mundo. Hoje em dia,
todos os países produzem estatísticas de PIB.
Mas, no primeiro relatório, o próprio Kutznets incluiu uma
advertência. Está no capítulo introdutório. Na página sete
ele diz: "O bem-estar de uma nação pode, portanto, ser
deduzido grosso modo a partir da medida da renda nacional
como definido acima". Não é a melhor frase de efeito do mundo,
e está envolta na linguagem cautelosa do economista. Mas sua
mensagem era clara: o PIB é uma ferramenta para nos ajudar
a medir o desempenho econômico. Não é uma medida do nosso
bem-estar. E não deveria ser referência para todas as decisões.
Mas nós ignoramos a advertência de Kuznets. Vivemos num
mundo onde o PIB é a referência para o sucesso numa
economia global. Nossos políticos vibram quando o PIB sobe.
Os mercados movimentam-se e trilhões de dólares de recursos
movimentam-se ao redor do mundo baseados em quais países
estão subindo e quais países estão descendo, tudo medido com
o PIB. Nossas sociedades se tornaram mecanismos para gerar
mais PIB.
Mas nós sabemos que o PIB é falho. Ele ignora o ambiente.
Considera bombas e prisões como progresso. Não consegue
levar em conta a felicidade ou a comunidade. E não fala nada
sobre equidade ou justiça. Será que é uma surpresa que nosso
mundo, marchando à batida do PIB, está balançando à beira
do desastre ambiental e cheio de ódio e conflitos?
Escola em Auckland, na Nova Zelândia
Nós precisamos de um jeito melhor para medir nossas
Escola em Auckland, na Nova Zelândia
Nós precisamos de um jeito melhor para medir nossas
sociedades, uma medida baseada no que realmente importa
às pessoas reais. Tenho o suficiente para comer?
Sei ler e escrever? Estou seguro? Tenho direitos?
Vivo numa sociedade onde não sou discriminado?
Meu futuro e o futuro de meus filhos estão imunes
à destruição ambiental? Essas são questões que o PIB
não responde e não pode responder.
No passado houve, é claro, esforços para deixarmos o PIB
para trás. Mas acredito que estamos vivendo um momento
em que estamos prontos para uma revolução das métricas.
Estamos prontos porque já vimos, na crise financeira de
2008, como nossa obsessão por crescimento econômico
levou-nos pelo caminho errado. Nós vimos, na Primavera
Árabe, como países como a Tunísia, teoricamente exemplos
econômicos, eram sociedades fervilhando com descontentamento.
Estamos prontos, porque hoje temos tecnologia para reunir
a analisar os dados de maneiras inimagináveis a Kuznets.
É uma medida do bem-estar da sociedade, completamente
separado do PIB. É uma maneira totalmente nova de ver
o mundo. O Índice de Progresso Social começa definindo
o que significa ser uma boa sociedade baseado em três dimensões.
A primeira, todos têm as necessidades básicas para a
sobrevivência: comida, água, abrigo, segurança?
Segundo, todos têm acesso às coisas básicas para
melhorar suas vidas: educação, informação, saúde
e um meio ambiente sustentável?
E terceiro, todos os indivíduos têm acesso a uma chance
E terceiro, todos os indivíduos têm acesso a uma chance
de buscar seus objetivos, sonhos e ambições, livres de
obstáculos? Eles têm direitos, liberdade de escolha, liberdade
da discriminação e acesso ao conhecimento mais avançado
do mundo?
Em conjunto, esses 12 componentes formam a estrutura do
Progresso Social. E para cada um desses 12 componentes,
temos indicadores para medir o desempenho dos países.
Não indicadores de esforço ou de intenção, mas de
conquistas reais. Nós não medimos quanto um país gasta
em saúde, nós medimos a duração e a qualidade das vidas
das pessoas. Não medimos se os governos aprovam leis
contra a discriminação, nós medimos se as pessoas sofrem
discriminação.
Mas o que vocês querem saber é quem está no topo, não é?
(Risos) Eu sabia, sabia, sabia. Certo, já vou mostrar-lhes.
Vou mostrar-lhes neste gráfico. Aqui estamos. Aqui eu coloquei
o progresso social o eixo vertical. Quanto mais alto, melhor.
E só para comparação, só por diversão, no eixo horizontal está
o PIB per capita. Quanto mais à direita, maior.
E o país no mundo com o maior progresso social, o país
número um em progresso social é a Nova Zelândia.
(Aplausos). Muito bem! Nunca fui; preciso ir. (Risos) O país com o
menor progresso social, sinto muito dizer, é o Chade. Nunca fui;
talvez ano que vem. (Risos). Ou talvez no próximo.
em termos de IPS
Sei o que estão pensando. Estão pensando: "Ah, mas a
Sei o que estão pensando. Estão pensando: "Ah, mas a
Nova Zelândia tem um PIB maior que o do Chade!" Bom
argumento, muito bem.
Mas deixem-me mostrar-lhes outros dois países.
Aqui está os Estados Unidos; consideravelmente mais rico
que a Nova Zelândia, mas com um nível mais baixo de
progresso social.
E aqui está o Senegal; tem um nível mais alto de progresso
social que o Chade, mas o mesmo nível de PIB. O que está
acontecendo? Bem, olhem.
Deixem-me trazer o resto dos países do mundo, os 132 que
conseguimos medir, cada um deles representado por um
ponto. Aqui vamos. Muitos pontos. Obviamente não posso
mostrar todos, então aí vão alguns destaques: O país do G7
com a melhor classificação é o Canadá. Meu país, o Reino Unido,
está mediano, meio sem graça, mas quem se importa, pelo
menos ganhamos dos franceses. (Risos).
E olhando para as economias emergentes, o primeiro dos
BRICS, anuncio com prazer, é o Brasil.
(Aplausos) Vamos lá, mais forte! Vai, Brasil! À frente da
África do Sul, depois Rússia, depois China e então a Índia.
Escondido no lado direito, vocês veem o ponto de um país com
muito PIB mas sem muito progresso social: é o Kuwait.
Logo acima do Brasil está uma superpotência do progresso
social: é a Costa Rica. Tem um nível de progresso social igual
ao de alguns países do leste europeu, mas com um PIB
muito menor.
Bem, meu slide está ficando um pouco tumultuado e eu
gostaria de recuar um pouco. Vou remover esses países,
e inserir a linha de regressão. E isso mostra a relação média
entre o PIB e o progresso social. A primeira coisa que se nota,
é que há muito ruído por volta da linha de tendência. E o que isso
mostra, o que isso demonstra empiricamente, é que o PIB
não é destino. Em cada nível de PIB per capita, há oportunidades
para maior progresso social, e riscos para menos. A segunda coisa
que se nota é que, para países pobres, a curva é bem inclinada.
O que isso nos mostra é que se os países pobres conseguirem
um pouquinho mais de PIB, e se reinvestirem em médicos,
enfermeiras, fornecimento de água, saneamento etc,
há bastante potencial de progresso social para o seu
acréscimo de PIB. E isso são notícias boas, e é isso que vimos
nos últimos 20, 30 anos, com muita gente sendo tirada da
pobreza pelo crescimento econômico e boas políticas nos
países mais pobres.
vai se nivelando. Cada dólar extra de PIB vale cada vez menos
progresso social. Com uma parte cada vez maior da população
mundial vivendo nessa parte da curva, quer dizer que o PIB
está ficando cada vez menos útil como uma referência para
o nosso desenvolvimento.
Vou mostra-lhes um exemplo do Brasil.
Aqui está o Brasil: progresso social de cerca de 70 de um total
Aqui está o Brasil: progresso social de cerca de 70 de um total
de 100, PIB per capita de cerca de 14 mil dólares por ano.
E olhem, o Brasil está acima da linha. O Brasil está fazendo
um trabalho razoavelmente bom de conversão de PIB em
progresso social. Mas para onde vai o Brasil depois?
Digamos que o Brasil adote um plano econômico
ousado de dobrar o PIB na próxima década. Mas essa é
só metade do plano. É menos da metade do plano, Porque
onde o Brasil quer chegar em progresso social? Brasil,
é possível aumentar o crescimento, aumentar o PIB, e ao
mesmo tempo estagnar ou recuar em progresso social.
Não queremos que o Brasil se transforme na Rússia.
Vocês realmente querem é que o Brasil se torne sempre
mais eficiente em criar progresso social a partir de seu PIB,
para que se pareça mais com a Nova Zelândia. E isso significa
que o Brasil tem que priorizar o progresso social em seu plano
de desenvolvimento e perceber que não se trata somente de
crescimento, mas sim de crescimento com progresso social.
E é isso que o Índice de Progresso Social faz: ele reformula a
discussão sobre desenvolvimento, não somente sobre PIB,
mas inclusive, crescimento sustentável que traga progresso
real às vidas das pessoas. E não se trata somente de países.
No início deste ano, com amigos do "Imazon", uma entidade
brasileira sem fins lucrativos, nós lançamos o primeiro "Índice
de Progresso Social subnacional". Nós fizemos isso na região
da Amazônia. Uma área do tamanho da Europa, 24 milhões
de pessoas, uma das partes mais desfavorecidas do país.
E aqui estão os resultados, e ele está detalhado em quase
800 municípios.
E com essa informação detalhada sobre a verdadeira
qualidade de vida nessa parte do país, o "Imazon" e outros
parceiros governamentais, empresariais ou da sociedade civil
podem cooperar para construir um plano de desenvolvimento
que vá realmente ajudar a melhorar as vidas das pessoas,
enquanto protegem o patrimônio global que é a Floresta
Amazônica. Esse é só o começo, Podemos criar um Índice de
Progresso Social para qualquer estado, região, cidade ou
município Todos conhecemos e amamos o TEDx; este é
o Progresso Social-x. É uma ferramenta para todos usarem.
Diferentemente de como às vezes falamos dele, o PIB não
foi enviado por Deus em tábuas de Pedra. (Risos)
É uma ferramenta de medida inventada no século 20 para
abordar os desafios do século 20. No século 21, nós
enfrentamos novos desafios: envelhecimento, obesidade,
mudança climática, e assim por diante. Para encarar esses
problemas, precisamos de novas ferramentas de medida,
novas maneiras de valorizar o progresso.
Imaginem se pudéssemos medir o que as organizações sem
fins lucrativos, caridades, voluntários, organizações da
sociedade civil realmente contribuem para a sociedade.
Imaginem se as empresas competissem não somente com
base na sua contribuição econômica, mas em sua contribuição
para o progresso social. Imaginem se pudéssemos
responsabilizar os políticos por realmente melhorar as vidas
das pessoas.
Imaginem se pudéssemos trabalhar juntos, governos, empresas,
a sociedade civil, eu, vocês, e fazer deste século o século do
progresso social! Obrigado. (Aplausos)."
FONTE: Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading. Tradução:
FONTE: Vídeo: TED – Ideas Worth Spreading. Tradução:
Gustavo Rocha. Revisão: Romane Ferreira. Publicado no jornal
digital "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/162550/%C3%8Dndice-de-Progresso-Social-Brasil-lidera-entre-os-emergentes.htm).
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