Por que Putin está ganhando a Nova Guerra Fria?
Estados Unidos só se preocupam com um homem - Vladimir Putin.
O presidente russo desafia o Ocidente em cada fronte da nova Guerra Fria.
Por Rakesh Krishnan Simha, no "Tehelka.com"
Por Rakesh Krishnan Simha, no "Tehelka.com"
"É dito sobre os russos que eles tomam um longo tempo para selar seus cavalos, mas eles cavalgam incrivelmente rápido. Depois de cuidar pacientemente da economia russa colapsada de volta à saúde, de 1999 a 2007, Putin começou a ir de encontro com a cerca ocidental em seu país. Na Síria, Crimeia e Ucrânia, o ocidente encarou derrotas humilhantes e se desfez em sua aproximação. Na aposta alta do jogo da energia, serão os dutos Russos - não os ocidentais - que irão dominar a território Euro-asiático.
Um exercício mais instrutivo seria tentar entender como Putin conseguiu manter a Rússia a frente no jogo.
Mais do que qualquer outro líder, o presidente Russo, em virtude de sua experiência na KGB (serviço secreto russo), entende como os EUA operam. O modus operandi americano - em sintonia com o britânico - é o de organizar golpes, rebeliões e contrarrevoluções em países onde líderes nacionalistas chegam ao poder. Irã, Chile, Equador, Venezuela, Panamá e Ucrânia são os exemplos clássicos.
John Perkins escreve em "Confissões de um Assassino Econômico" (2004) como ele e outros "matadores de aluguel" foram enviados à países em desenvolvimento como consultores para subornar ou coagir diplomatas, economistas, administradores e políticos para entrarem no jogo americano. Frequentemente, eles têm sucesso, mas, se falhassem, a CIA iria enviar os 'chacais' - assassinos profissionalmente treinados que iriam arquitetar as mortes daqueles que se colocaram na frente do caminho da dominação americana.
Essa manobra dos matadores econômicos foi tão efetiva em criar as repúblicas de bananas que os EUA raramente tinham que ir pra cima. Dentre as raras ocasiões que os EUA tiveram que usar o exército em busca de objetivos comerciais, está o Iraque, e de certa forma a Líbia.
Putin sabe que os EUA tentaram - e vão continuar a tentar - mudar o regime na Rússia. Como um ex-oficial da KGB baseado na Alemanha Oriental, ele sabe que os matadores estão procurando por uma oportunidade. E isso é exatamente o porquê de ter expulsado as agências desonestas USAID e o Conselho Britânico: ambas são frontes para os serviços secretos Anglo-americanos.
"Uma das coisas a se entender é que ele, em particular, estudou contrainteligência, o que é a chave para entender porque ele é um jogador crítico," escreve Joaquin Flores para o website "Centro Para Estudos Sincréticos". "Contrainteligência não é somente achar espiões, mas sim contrariar o trabalho dos outros agentes que estão incorporados ou daqueles cujo trabalho envolve se incorporar a uma instituição para destruí-la por dentro."
Paralela à Guerra Fria, estão as operações obscuras americanas. A economia dos EUA - e de sua companheira Grã-Bretanha - é uma economia de guerra. O conselheiro do Kremlin Sergei Glazyev disse, em uma mesa redonda em Junho em Moscou: "Os americanos ganharam com todas as guerras na Europa - 1ª GM, 2ª GM, Guerra Fria. As guerras na Europa são os meios de seu milagre econômico, sua própria prosperidade."
A bagunça contínua na Ucrânia é um pretexto claro para puxar a Rússia para uma confrontação militar direta com as forças armadas ucranianas, afim de criar uma guerra regional na Europa.
A resposta russa tem duas vias. Uma, recusando entrar em uma guerra com a Ucrânia, deixa os EUA frustrado. A inatividade de Washington na Ucrânia foi brilhantemente descrita por um general chinês como um sintoma da estratégia de "disfunção erétil" americana.
Segundo, Putin está empregando estratégias assimétricas para parar - e eventualmente extinguir - o império americano. Um elemento chave dessa estratégia é o de atacar o pilar chave do poder americano - o dólar. A Rússia - com o apoio de companheiros do BRICS -China, Índia, Brasil e África do Sul - está se afastando do comércio dominado pelo dólar, um passo que irá impactar a economia americana em crescimento.
De acordo com o portal financeiro "Zero Hedge":
"As contramedidas de Glazyev miram especificamente na força da máquina de guerra americana, isto é, a imprensa impressa federal. Os conselheiros de Putin propõem a criação de 'uma aliança antidólar vasta' de países dispostos e capazes de deixar o dólar de lado no comércio internacional. Membros da aliança iriam também evitar manter as reservas monetárias em dólar. Uma coalizão antidólar seria o primeiro passo para a criação de coalizão antiguerra que pode ajudar a dar um fim à agressão americana."
A Ucrânia poderia eventualmente se tornar na catalisadora do divórcio dos EUA com a Europa. Isso porque as sanções contra a Rússia estão ameaçando casas de negócios na Alemanha e em outros países do oeste europeu, os quais, com o tempo, desenvolveram ligações profundas com a economia russa. "De algum modo surpreendente para Washington, a guerra pela Ucrânia deve logo se tornar uma guerra pela independência da Europa dos EUA e uma guerra contra o dólar," diz o "Zero Hedge".
Moscou também está promovendo mudanças institucionais. O novo Banco do Desenvolvimento de US$ 100 bilhões, comandado também pelo BRICS, não irá somente contrariar a influência das instituições de empréstimo ocidentais, mas também irá parar o fluxo de dinheiro dos países em desenvolvimento para o ocidente.
O atual sistema de empréstimos é enviesado a favor dos países ocidentais porque os empréstimos do Banco Mundial e do FMI vêm com um cesto de condições. Por exemplo, quando os dois oferecem um empréstimo, pode ser usado para adquirir bens e serviços somente do ocidente. Ou o empréstimo pode ser usado apenas para construir represas, mas não, digamos, para beber a água.
Claro, o material e o conhecimento para a construção de represas terão que vir dos EUA e Europa. E quando a oferta de água potável é baixa, cria-se demanda para garrafas de água e refrigerantes. O novo banco irá, com isso, atacar o ocidente onde dói mais, no bolso.
Mesmo com Putin fazendo todos os movimentos certos no quadro político, seus oponentes não estão de braços cruzados assistindo seu império se montar. O rublo russo está sendo martelado até quando o preço do petróleo está sendo guiado para o solo pelos Sauditas na licitação de seus suseranos americanos. Sem surpresas aqui - os americanos irão tentar enfraquecer a Rússia por ser o único país que se encontra no meio entre Washington e a dominação mundial.
No entanto, Putin é um judoca que sabe como usar a força do seu oponente contra o próprio oponente. Ele sabe que os dias fáceis do ocidente acabaram e que não estão em posição de atacar o exército russo. Está contente em assistir os americanos se excederem - atacando a Rússia e simultaneamente tentando conter a subida irresistível dos BRICS.
Putin tem a sorte de ainda ter o apoio dos seus companheiros dos BRICS em sua briga com o ocidente. Tanto a Índia quanto a China concordam que Moscou tem interesses legítimos na Ucrânia e na Crimeia. Recentemente, os BRICS incomodaram a Austrália pela sua proposta de banir Putin da cúpula do G20.
Tais confirmações de apoio estimularam Putin a mostrar o dedo do meio ao ocidente. Em 2012, sem preocupações, não compareceu à cúpula do G8 e meramente esboçou uma emoção quando o G8 voltou a ser G7 - a configuração pré-Guerra Fria. (Com membros como o Canadá, o G7 é uma piada.)
Se a história nos ensinou algo, é que a Rússia tem o hábito de triturar seus inimigos. Depois de Napoleão e Hitler, pode ser a vez dos americanos reconhecerem os perigos de atrair o predador."
FONTE: escrito por Rakesh Krishnan Simha, no "Tehelka.com". Transcrito no portal "Carta Maior" (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Por-que-Putin-esta-ganhando-a-Nova-Guerra-Fria-/6/32367).
O atual sistema de empréstimos é enviesado a favor dos países ocidentais porque os empréstimos do Banco Mundial e do FMI vêm com um cesto de condições. Por exemplo, quando os dois oferecem um empréstimo, pode ser usado para adquirir bens e serviços somente do ocidente. Ou o empréstimo pode ser usado apenas para construir represas, mas não, digamos, para beber a água.
Claro, o material e o conhecimento para a construção de represas terão que vir dos EUA e Europa. E quando a oferta de água potável é baixa, cria-se demanda para garrafas de água e refrigerantes. O novo banco irá, com isso, atacar o ocidente onde dói mais, no bolso.
Mesmo com Putin fazendo todos os movimentos certos no quadro político, seus oponentes não estão de braços cruzados assistindo seu império se montar. O rublo russo está sendo martelado até quando o preço do petróleo está sendo guiado para o solo pelos Sauditas na licitação de seus suseranos americanos. Sem surpresas aqui - os americanos irão tentar enfraquecer a Rússia por ser o único país que se encontra no meio entre Washington e a dominação mundial.
No entanto, Putin é um judoca que sabe como usar a força do seu oponente contra o próprio oponente. Ele sabe que os dias fáceis do ocidente acabaram e que não estão em posição de atacar o exército russo. Está contente em assistir os americanos se excederem - atacando a Rússia e simultaneamente tentando conter a subida irresistível dos BRICS.
Putin tem a sorte de ainda ter o apoio dos seus companheiros dos BRICS em sua briga com o ocidente. Tanto a Índia quanto a China concordam que Moscou tem interesses legítimos na Ucrânia e na Crimeia. Recentemente, os BRICS incomodaram a Austrália pela sua proposta de banir Putin da cúpula do G20.
Tais confirmações de apoio estimularam Putin a mostrar o dedo do meio ao ocidente. Em 2012, sem preocupações, não compareceu à cúpula do G8 e meramente esboçou uma emoção quando o G8 voltou a ser G7 - a configuração pré-Guerra Fria. (Com membros como o Canadá, o G7 é uma piada.)
Se a história nos ensinou algo, é que a Rússia tem o hábito de triturar seus inimigos. Depois de Napoleão e Hitler, pode ser a vez dos americanos reconhecerem os perigos de atrair o predador."
FONTE: escrito por Rakesh Krishnan Simha, no "Tehelka.com". Transcrito no portal "Carta Maior" (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Por-que-Putin-esta-ganhando-a-Nova-Guerra-Fria-/6/32367).
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