terça-feira, 3 de março de 2015

"VAI PRO EINSTEIN"!




"VAI PRO EINSTEIN" ! (UMA PIADA COM NOSSOS PRECONCEITOS)

Por MARCELO ZERO

"A inacreditável agressão sofrida pelo ex-ministro Guido Mantega no Hospital [judeu] Albert Einstein faria corar até o Doutor Mengele.

A incrível falta de civilidade e o ato gratuito de crueldade contra uma pessoa que, obviamente, passa por um período difícil, de grande fragilização psicológica, demonstram a que ponto chegou o ódio patológico dos “conservadores” (permitam-me o eufemismo) a tudo que esteja associado ao PT e à esquerda de um modo geral.

Trata-se de ato irracional de difícil entendimento.

É difícil entender, sobretudo, de que o ex-ministro deveria se envergonhar. Ele é acusado de quê? De ter contribuído para a retirada de 36 milhões de brasileiros da miséria? Do Brasil ter saído do Mapa da Fome? De ter trabalhado para reduzir a taxa de desemprego ao seu mínimo histórico? De ter se empenhado para que a pior crise mundial desde 1929 não atingisse os mais desprotegidos, como acontecia no passado? De ter adotado políticas anticíclicas para proteger a economia brasileira? De ser heterodoxo?

Porém, não é a primeira vez que uma figura pública associada ao PT e à esquerda é gentilmente convidada a tratar-se no sistema público. Quando Lula começou a se tratar contra o câncer, surgiu, das cloacas políticas das redes sociais, a campanha, de "elevado grau de civismo", para que o ex-presidente fosse expulso para o SUS. [Aliás, o SUS pagou quase a totalidade dos transplantes realizados pelo 
Albert Einstein...] 

Lula curou-se do câncer, mas o Brasil não se curou do câncer do ódio político.

Ao contrário, cevado pelo neoudenismo tardio, pela mídia que é mera sucedânea de um grande partido de oposição e por uma oposição que resolveu apostar, como na Venezuela, na aventura irresponsável da ingovernabilidade e do golpismo, esse ódio só fez aumentar, espalhando suas metástases por todos os setores da vida nacional, até mesmo por hospitais.

Curiosamente, não ocorre aos neointegralistas (desisti dos eufemismos) mandar políticos e autoridades de outros partidos e matizes ideológicas ao SUS.

Tivesse passado pelo Albert Einstein a vetusta figura de FHC, provavelmente teria sido recebida com aplausos pelo corpo médico e os “populares” que desfilam pelos seus mármores. E, ao contrário de Lula e de Mantega, não lhe seria sugerido o tratamento no SUS, mas talvez a ida, em primeira classe, para fazer tratamento no exterior, como conviria a “estadista” que "tanto fez pela saúde pública brasileira" [sic!].

Afinal, as assépticas privatizações se justificaram, em grande parte, com o argumento de que sua realização permitiria ao Estado brasileiro investir naquilo que realmente importa: Saúde e Educação.

Dito e não feito.

No governo daqueles que não são mandados para o SUS, o orçamento da Saúde ficou praticamente estacionado, tendo passado de US$ 26 bilhões, em 1995, para RS$ 28,5 bilhões, em 2002. Data também desse período, de notório investimento na coisa pública, um notável crescimento da medicina privatizada no Brasil.

Posteriormente, já na oposição, os que não são mandados para o SUS deram nova contribuição à saúde pública brasileira derrubando a CPMF, cujos recursos, bem ou mal, a financiavam.

Já nos governos daqueles que são mandados para o SUS, o orçamento da Saúde subiu de R$ 30 bilhões, em 2003, para R$ 106 bilhões, em 2014. Foi também nos governos dos que se precisam tratar pelo SUS que se criou o "Mais Médicos", programa que finalmente levou assistência básica à saúde a municípios remotos, pobres e desassistidos, beneficiando cerca de 50 milhões de brasileiros que, ao contrário dos frequentadores do Einstein, queriam se tratar pelo SUS, mas não podiam.

Assim, os que são mandados para o SUS mandaram o SUS para esses cidadãos antes desassistidos. Talvez seja por isso que, inconscientemente, os neoudenistas façam essa associação entre o PT e o SUS.

Na cabeça deles, quem luta contra a pobreza e a desigualdade tem de fazer voto de pobreza (lembram de como Collor “acusou” Lula de ter um som “três em um”?). E quem luta pela saúde pública tem de se tratar compulsoriamente no SUS.

Para eles, tal identidade com a população mais pobre tem uma conotação negativa e pejorativa. Quem gosta de povo e faz pelo povo tem de ficar nos lugares frequentados pelo povo, não em instituições destinadas a “gente diferenciada”. Estar perto do povo é, para eles, um castigo vergonhoso.

É como se dissessem: “Você, que gosta tanto de pobres, tome vergonha e vá lá ficar com eles no SUS!”

No fundo, trata-se de um elogio político involuntário, pois tal identidade é, sob todos os aspectos, positiva. Positiva e vencedora.

Muito pior seria entrar num hospital público e ouvir: “Não tem vergonha? Vá se tratar no Einstein!”

FONTE: escrito por Marcelo Zero, formado em Ciências Sociais e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores. Publicado no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/171661/Vai-pro-Einstein!-(uma-piada-com-nossos-preconceitos).htm).[Trecho entre colchetes acrescentado por este blog 'democracia&política].

2 comentários:

denis disse...

Interessante...........Lidar com preconceitos e ódio tão alarmados pelo petistas,mas,hospital """"(JUDEU)"""" Albert Einster .Por que esses parenteses no nome do hospital?Aguardo resposta.

Unknown disse...

Ao Denis,
Não vejo pejorativo nas palavras "judeu" ou "israelita", nem preconceito ao mencioná-las. Elas não devem ser censuradas. Também não entendi porque sua menção a "petistas". O texto por você comentado a contém para mais bem retratar a absurda incoerência da agressão ao ex-ministro. Recordei trechos de outra postagem de Ricardo Kotscho, de 27/02, sobre o assunto. Transcrevo:
"[...] em Hospital israelita Albert Einstein, junto à recepção, ocorreu o ataque ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Um dos mais sórdidos episódios de intolerância política da nossa história recente.[...] Guido, de família judaica, estava acompanhando sua mulher, Eliane Berger Mantega, [...] assim que foi identificado, como se fosse um judeu na Alemanha de Adolf Hitler, começaram as agressões, com gritos histéricos (Vai pro SUS, fdp!...)."
Maria Tereza