quarta-feira, 5 de agosto de 2015

POLARIZAÇÃO NO BRASIL NÃO VAI A LUGAR NENHUM





Por Hélio Doyle, jornalista

"A extremada polarização política e ideológica que existe hoje no Brasil é como o 'plunct plact zum' de Raul Seixas: não vai a lugar nenhum. Tem sido, na verdade, um enorme desperdício de energias que poderiam estar canalizadas para a superação da grave crise política, econômica, social e moral pela qual passa o país.

Isso não quer dizer que os campos não devam estar definidos e que não haja a luta política e ideológica na sociedade. Mas luta política e ideológica, em um sistema presumivelmente democrático, se dá pela batalha de ideias, não pela violência e pelo grito. A batalha de idéias, nesse mesmo ambiente democrático, deve ser por meio do debate qualificado e respeitoso. Manifestações públicas são legítimas, mas respeitando os direitos da população.

Não estamos em uma conjuntura pré-revolucionária, seja pela esquerda ou pela direita, em seus diversos matizes. Os momentos que antecedem, ou fazem prever uma revolução, caracterizam-se pela expectativa de uma ruptura, e por isso dão margem a ações radicalizadas e violentas. Não é o caso do Brasil: por mais que exacerbem seus discursos e suas práticas, nem a esquerda nem a direita, como blocos, vão se impor perante a sociedade e derrotar o “inimigo” em um processo revolucionário.

Assim, a que leva a atual radicalização que se verifica em praticamente todas as instâncias e segmentos da sociedade brasileira? A nada. A direita sonha com um golpe institucional para assumir o poder político (que no Congresso já é seu), a esquerda sonha em manter o governo (mesmo sem ter o Congresso) e obter nova vitória eleitoral em 2018. Os acontecimentos podem levar a um caminho ou outro, dependendo de uma série de circunstâncias, mas em nenhum deles haverá o esmagamento do derrotado, com a sagração absoluta do vencedor. Não há revolução em curso.

Na polarização atual, perde-se a racionalidade. A bomba atirada na porta do Instituto Lula é um bom exemplo dessa radicalização, mas a resposta não pode ser superdimensionar o fato nem encará-lo como normal e, muito menos, positivo. A Lava-Jato é uma investigação importante para o país, mas não pode ser transformada em instrumento político a favor de uns e contra os outros. Não é bom ter Ministério Público e Justiça parciais, pendendo para qualquer lado.

O ódio que hoje se vê, em torno de muito pouco, não é bom para a sociedade brasileira. O maniqueísmo que se tenta impor, aproveitando-se da Lava-Jato e da crise econômica, é absurdo: neoliberais, no Congresso, criticando o ajuste fiscal meio neoliberal; políticos corruptos acusando políticos corruptos. Personalizar ou datar problemas estruturais e recorrentes é desonestidade política e intelectual.

O caminho que pode levar a algum lugar é restaurar a racionalidade no país e isolar os radicais sem causa, ou com a causa de seus próprios negócios e interesses. Enfrentar a crise política com soluções políticas e institucionais, a econômica com soluções efetivas que não penalizem os mais pobres. A crise moral, com investigações, processos e julgamentos isentos, sem preferências ideológicas. É preciso tomar medidas, mesmo amargas, que podem desagradar a alguns, mas que beneficiarão o conjunto da sociedade.

Essa crise não levará a nenhuma revolução. Melhor pensar nela agora e deixar a revolução para depois."

FONTE: escrito por Hélio Doyle, jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal. Artigo publicado no portal "Brasil 247"   (http://www.brasil247.com/pt/blog/heliodoyle/191465/Polariza%C3%A7%C3%A3o-no-Brasil-n%C3%A3o-vai-a-lugar-nenhum.htm).

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