Banco Central: independente para doar dinheiro aos ricos
Por J. Carlos de Assis, economista, doutor pela Coppe/UFRJ
Em ocasiões muito especiais, diante da grita da sociedade contra a indecência da taxa de juros e de alguma pressão do Governo, o BC faz alguma coisa correta do ponto de vista técnico, como foi o caso de manutenção da taxa Selic em 14,25% duas semanas atrás. O mundo veio abaixo. Os especuladores, sendo os principais deles os integrantes da chamada "Grande Imprensa", se enfureceram com o fato de terem perdido dinheiro nas transações bancárias de curtíssimo prazo (DI-Futuro) por causa da manutenção da taxa.
A "Globo" colocou no ar vários comentaristas, sem contraditório, com críticas abertas ao BC. Entretanto, a decisão era técnica. A economia vai se contrair de novo este ano, agora em torno de 3,5% segundo o FMI, depois de menos 5% em 2015, o que torna muito difícil justificar um novo aumento da taxa de juros. Entretanto, segundo os economistas da "Globo", o banco errou ao não dar uma sinalização prévia de que não iria aumentar os juros (Selic). Ou seja, os ratos queriam um pré-aviso para saltarem do navio com o papo cheio da grana do povo.
Tudo isso é asqueroso, porque implica roubos reiterados do dinheiro público, muito longe daquilo que o juiz Sérgio Moro, muitas vezes procurando chifre na cabeça de cavalo, pretende fazer para "salvar o Brasil da corrupção". Quando vejo o presidente do Senado, Renan Calheiros, sabidamente um ignorante em economia, pretender colocar em pauta o projeto de "autonomia do BC", fica evidente que ele não passa de um marionete de interesses inconfessáveis, repetindo o mantra dos especuladores financeiros independentistas.
Para todos os efeitos práticos, o BC brasileiro é tecnicamente autônomo. O próprio decreto que criou o modelo de metas de inflação no Governo FHC desonerou o banco dos objetivos de promoção do máximo emprego e de uma crescente atividade econômica, como é o caso do FED norte-americano, numa atitude criminosa contra os trabalhadores e a sociedade. Assim, o BC só cuida de inflação. Sendo que não é difícil concluir que sua performance a esse respeito é simplesmente desastrosa porque focada só na demanda.
Por que, então, o “mercado” usa Renan para colocar na lei a independência ou autonomia operacional do Banco Central? Simplesmente porque facilitaria o trabalho de manipulá-lo segundo os interesses da especulação. Num contexto de autonomia, dificilmente o BC teria contrariado os especuladores com a recente manutenção taxa de juros em 14,25% - por sinal, uma taxa altíssima -, mesmo que, do ponto de vista estritamente técnico, isso fosse o mais correto. Em síntese, autonomia política do banco é servidão política ao mercado.
Espero que a maioria dos parlamentares, que não vai ganhar nada pessoalmente com uma eventual aprovação do projeto do Renan, recorra a assessorias técnicas independentes do mercado e rejeite essa iniciativa do presidente do Senado. Políticos corruptos, que certamente são uma minoria no Parlamento, estão jogando nas costas de uma maioria honesta o ônus do desprezo público pela corrupção. É hora de mudar isso. Nosso intuito é fomentar essa mudança através da "Aliança pelo Brasil", a partir de reações concretas como a rejeição do projeto do BC independente."
FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de “Os sete mandamentos do jornalismo investigativo”, Ed. Textonovo, SP, 2015. Artigo publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/banco-central-independente-para-doar-dinheiro-aos-ricos-por-j-carlos-de-assis).
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