sábado, 6 de fevereiro de 2016

"SOMOS TODOS LULA!"




Por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor

- "Prepare-se que você será preso!
- Por quê? O que eu fiz de errado?
- Você cometeu o crime de visitar um apartamento
.

Em outra situação:

- Prepare-se que você será preso!
- Por quê? Qual foi o crime que eu cometi?
- Você comprou uma canoa de lata por R$ 4 mil.


Isso é uma história de ficção, pois na vida real ninguém seria ameaçado de prisão por tais motivos. Na verdade, isso seria ficção em países onde existe seriedade na Justiça e na mídia. Por mais incrível que possa parecer, no entanto, no Brasil isso é realidade nua e crua. E ganha manchetes nos principais jornais do país. Aqui os fatos realmente importantes como notícia, como a chacina em Londrina e as denúncias de corrupção no governo de São Paulo, para a grande mídia não significam nada diante da visita do ex-presidente Lula a um apartamento apontado como de sua propriedade, apesar da sua negativa documentada. Para os barões da imprensa e para os investigadores que caçam o ex-presidente operário como se fosse um criminoso fugitivo, isso é um crime monstruoso.

Mas não ficou só nisso. O “Jornal Nacional” divulgou, também em tom de escândalo, a seguinte manchete: “Documentos comprovam que o ex-presidente Lula em quatro anos esteve com a família 111 vezes no sitio de Atibaia [de propriedade de amigo]”. E daí?! O que há de errado nisso? Para a "Globo", porém, deve ser um crime terrível! Qualquer pessoa de bom senso deve ter ficado espantada com a ridícula tentativa dos irmãos Marinho de querer transformar esse fato num crime capaz de levar Lula à prisão. Aliás, eles utilizam muito esse expediente quando querem prejudicar alguém. Quando o saudoso Itamar Franco esteve no Paraguai, após lançar-se candidato à Presidência da República contrariando a vontade dos Marinho, o “Jornal da Globo” divulgou a seguinte notícia: “O nacionalista Itamar Franco foi flagrado fazendo compras em dólar no Paraguai”. Para o telespectador desavisado, Itamar foi ”flagrado” praticando um crime. É simplesmente vergonhoso esse tipo de jornalismo tipicamente marrom.

Estarrecida diante do comportamento dos jornalões, que há muito abandonaram o jornalismo sério e responsável – razão porque perderam credibilidade e estão perdendo leitores – muita gente já se pergunta: por que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pode ter um apartamento em Paris e o ex-presidente Lula não pode ter um apartamento em São Paulo? Por que o ex-presidente FHC pode ter uma fazenda no interior de Minas Gerais e o ex-presidente Lula não pode ter
 [ir a] um sítio no interior de São Paulo [propriedade de amigo]? Por que um ex-ministro do Supremo (Joaquim Barbosa) pode ter um apartamento em Miami e o ex-presidente Lula não pode ter um imóvel no Guarujá? Por que o senador Aécio Neves pode viajar 124 vezes para o Rio de Janeiro em avião oficial do governo de Minas e o ex-presidente Lula não pode ir 111 vezes, em seu carro, a um sitio em Atibaia? A resposta parece ser mais simples do que se poderia pensar: porque é nordestino, de origem humilde, desafiou as forças conservadoras, teve a ousadia de ser Presidente da República, tirou 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza e tornou o Brasil realmente independente. 

Há um velho ditado popular que reza: “O mal por si se destrói”. A grande mídia se enquadrou nesse ditado porque, diante da perseguição escancarada a Lula, perdeu a ética, perdeu os escrúpulos, perdeu a dignidade, perdeu a vergonha, perdeu a credibilidade e até o mais distraído leitor já percebeu o seu comportamento odioso e já cansou de ver isso todos os dias. De tanto bater na mesma tecla, hoje poucos acreditam em suas manchetes. Aliás, recentemente o ex-ministro Delfim Neto declarou-se “espantado” que alguém ainda acredite na imprensa. Por isso, os grandes jornais impressos no Brasil parecem condenados ao desaparecimento, o que já foi detectado pelas pesquisas. Só aqueles que se comprazem com a perseguição a Lula e a oposição ao governo da presidenta Dilma Rousseff ainda leem os jornalões, porque se deixaram de tal modo contaminar pelo ódio que, provavelmente, têm orgasmos quando leem essas notícias.

Na verdade, as pessoas que perderam a capacidade de raciocinar e pensam pela cabeça dos barões da imprensa perderam, também, a noção do ridículo e o amor à pátria. Tornaram-se marionetes que fazem precisamente o que a mídia manipula, com seus cordéis impressos, daí porque se posicionam na varanda gourmet dos seus apartamentos de luxo para bater panelas quando a Presidenta da República vai à TV, não importando o conteúdo da sua fala, mesmo quando ela conclama todos para a luta contra o mosquito transmissor da dengue e da zika. Isso não é panelaço: é palhaçada! E a mídia, já desacreditada, dá o maior destaque, como se bater em panela significasse algo além de bater em panelas e fosse manifestação da maioria do povo brasileiro. Ninguém ouviu panelas sendo espancadas de maneira imbecil em favelas, a não ser frigideiras e assim mesmo no ritmo do samba.

O mais vergonhoso, porém, aconteceu quando Dilma foi ao Congresso. Um punhado de parlamentares que, teoricamente, teria a grave responsabilidade de representar o povo brasileiro e aperfeiçoar a legislação do país, resolveu vaiar a Presidenta como se fossem moleques do jardim de infância. Com isso contribuíram para desmoralizar ainda mais o Congresso, que se tornou uma Casa onde o que menos se discute são os interesses do Brasil e do seu povo, talvez porque não coincidam com os interesses de grande parte dos parlamentares. Infelizmente, o Parlamento Nacional, que deveria assumir posição em defesa do estado democrático de direito, inclusive aprovando leis que impedissem certos abusos de quem tem o dever de distribuir justiça, não parece preocupado com o regime de exceção em que praticamente o país está vivendo, onde as garantias individuais ficaram muito frágeis.

A perseguição implacável ao ex-presidente Lula, motivada única e exclusivamente por objetivos políticos, com a participação de setores da Justiça e da mídia, indica que, depois das operações Lava-Jato e Zelotes, ninguém mais está seguro no Brasil. Querem alijá-lo de qualquer maneira da vida pública, valendo tudo para alcançar seus objetivos, até mesmo a compra de uma canoa de lata. E se os perseguidores conseguirem efetivamente o que pretendem, ou seja, a prisão do ex-presidente operário, é impossível prever a reação do povão. Até porque, indignados com essa caçada descabida, muitos brasileiros já afirmam: “Somos todos Lula!”.


FONTE: escrito por RIBAMAR FONSECA, jornalista e escritor   (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/216011/Somos-todos-Lula!.htm).

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