FHC disse mas não falou
"Não satisfeito com a declaração infundada da "elevação dos salários" do Plano Real, FHC diz que o vigor da mobilidade social que se vê hoje iniciou com ele...
Por José Carlos Peliano
Mais uma comemoração arranjada, modorrenta e cansativa, para o aniversário do longevo e enterrado Plano Real. Trouxeram de volta das trevas FHC ao Senado Federal com pouca pompa e circunstância, rodeado de velhos aliados, para buscar o encobrimento de recentes e descobertos desmandos, desfeitos e desviões tucanos, conforme escreve Antonio Lassance no "Sarcófago do Real".
Como sempre fez, FHC tangencia os fatos, tamborila o que diz, conversa e desconversa da mesma maneira com que procura iludir e tergiversar para tentar se manter incólume, falastrão de suas elucubrações.
Em seguida à bajulação arranjada do Plano Real no Planalto Central, plano que nunca foi dele, mas de uma equipe, nem por ele liderada, mas por Itamar Franco [PMDB], FHC concede entrevista à Rádio Jovem Pan onde prosseguiu com sua análise de seus feitos nos oito anos que esteve à frente do Palácio do Planalto.
De cara sai com essa: “A grande consequência do Plano Real foi o aumento real dos salários. Houve um salto. Foi o começo dessa mobilidade social que estamos vendo com tanto vigor”. (Trecho publicado no site da UOL de 28/02/2014). Bom, o comentário é como a charada dos personagens populares, o ovo e a galinha; esta diz que veio primeiro, enquanto aquele a contradiz postando-se em sua frente.
De fato, não foram somente os salários, mas as rendas reais tiveram um aumento imediato de 1994, início do Plano Real, a 1995. Em seguida, há uma queda silenciosa mas decidida até os anos de Lula e Dilma, quando, à reversão do ritmo declinante, segue-se uma tendência de elevação segura e progressiva. Os dados são fornecidos pelo IBGE.
O rendimento médio real mensal de todos os trabalhos soma os salários reais mais rendimentos obtidos de outros trabalhos temporários ou não pelos trabalhadores. Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: 1991-2007. Pois bem, os números abaixo perguntam a FHC de onde ele tirou que foi o Plano Real quem possibilitou o salto para cima dos salários?
Anos..............Rendimento
1994....................996
1995..................1023
1996..................1011
1997..................1003
1998.................. 932
1999.................. 921
2000.................. 899
2001.................. 831
2002.................. 831
2003.................. 869
2006.................. 932
2007.................. 960
Esqueçam, portanto, o que FHC disse. O que ele não falou foi que, fora o salto do rendimento médio real de 1994 a 1995, ocorrido ainda no governo Itamar Franco, de 1995 a 2002, seu período de governo, o rendimento veio de um valor médio real de 1023 para 831. Um decréscimo de 18,8%!
Em todo o período de seu governo, menos de 2001 a 2002, os valores caem ano a ano. Ao contrário dos primeiros anos do governo Lula, onde há dados disponíveis pelo IBGE, quando o mesmo rendimento volta a subir, atingindo um acréscimo de 2003 a 2007 de 15,5%.
É provável que FHC tenha apostado na costumeira memória curta do brasileiro para se jactar da proeza do Plano Real, não lançado por ele mas por Itamar, de ter conseguido elevar os salários reduzindo todos os rendimentos do trabalho!
Pois bem, não satisfeito com a declaração infundada da elevação dos salários do Plano Real, FHC completa dizendo que o vigor da mobilidade social que se vê hoje teve seu começo lá mesmo ... na elevação dos salários! Se não houve elevação do salários, como pode ter havido mobilidade social? Só se foi descendente.
Como demonstrado em textos anteriores, a grande marca da mobilidade social recente no Brasil está carimbada pelo "Programa Bolsa Família" que trouxe para o mercado cerca de 50 milhões de pessoas antes às voltas com atividades meia boca e ocasionais. De renda próxima de zero, conseguiram obter renda que lhes garante subsistência razoável especialmente em regiões mais pobres.
E o Programa Bolsa Família é do governo Lula encampado pelo governo Dilma. Não é, nunca foi, nem a história consignará como do governo FHC, embora ele mesmo já tenha dito e tentado pegar carona, juntamente com alguns de seus diletos seguidores, ao afirmar que o programa "teve seus fundamentos elaborados por sua administração".
E a mobilidade recente no país veio também a reboque do aumento do rendimento médio de todo o período Lula e Dilma. A melhoria da renda possibilitou a redução da desigualdade social, esta sim a grande vitória da administração petista. Quem retirou milhões da pobreza, elevou os rendimentos do trabalho e reduziu a desigualdade não fez um Plano Irreal que reduziu os rendimentos, afetou a pobreza e não interferiu na desigualdade!"
FONTE: escrito por José Carlos Peliano, economista, doutor (Unicamp). Artigo transcrito no site "Carta Maior" (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/FHC-disse-mas-nao-falou/7/30378).
1995..................1023
1996..................1011
1997..................1003
1998.................. 932
1999.................. 921
2000.................. 899
2001.................. 831
2002.................. 831
2003.................. 869
2006.................. 932
2007.................. 960
Esqueçam, portanto, o que FHC disse. O que ele não falou foi que, fora o salto do rendimento médio real de 1994 a 1995, ocorrido ainda no governo Itamar Franco, de 1995 a 2002, seu período de governo, o rendimento veio de um valor médio real de 1023 para 831. Um decréscimo de 18,8%!
Em todo o período de seu governo, menos de 2001 a 2002, os valores caem ano a ano. Ao contrário dos primeiros anos do governo Lula, onde há dados disponíveis pelo IBGE, quando o mesmo rendimento volta a subir, atingindo um acréscimo de 2003 a 2007 de 15,5%.
É provável que FHC tenha apostado na costumeira memória curta do brasileiro para se jactar da proeza do Plano Real, não lançado por ele mas por Itamar, de ter conseguido elevar os salários reduzindo todos os rendimentos do trabalho!
Pois bem, não satisfeito com a declaração infundada da elevação dos salários do Plano Real, FHC completa dizendo que o vigor da mobilidade social que se vê hoje teve seu começo lá mesmo ... na elevação dos salários! Se não houve elevação do salários, como pode ter havido mobilidade social? Só se foi descendente.
Como demonstrado em textos anteriores, a grande marca da mobilidade social recente no Brasil está carimbada pelo "Programa Bolsa Família" que trouxe para o mercado cerca de 50 milhões de pessoas antes às voltas com atividades meia boca e ocasionais. De renda próxima de zero, conseguiram obter renda que lhes garante subsistência razoável especialmente em regiões mais pobres.
E o Programa Bolsa Família é do governo Lula encampado pelo governo Dilma. Não é, nunca foi, nem a história consignará como do governo FHC, embora ele mesmo já tenha dito e tentado pegar carona, juntamente com alguns de seus diletos seguidores, ao afirmar que o programa "teve seus fundamentos elaborados por sua administração".
E a mobilidade recente no país veio também a reboque do aumento do rendimento médio de todo o período Lula e Dilma. A melhoria da renda possibilitou a redução da desigualdade social, esta sim a grande vitória da administração petista. Quem retirou milhões da pobreza, elevou os rendimentos do trabalho e reduziu a desigualdade não fez um Plano Irreal que reduziu os rendimentos, afetou a pobreza e não interferiu na desigualdade!"
FONTE: escrito por José Carlos Peliano, economista, doutor (Unicamp). Artigo transcrito no site "Carta Maior" (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/FHC-disse-mas-nao-falou/7/30378).
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