O jornal “O Estado de São Paulo” de hoje nos traz um preocupante texto do seu correspondente em Paris, Gilles Lapouge. Trata-se da injusta perseguição na Itália a um grupo racial, os ciganos, como expiação dos próprios problemas italianos.
No wikipedia, obtive os seguintes dados:
Os “roma” originaram-se de uma casta inferior do noroeste da Índia, que, por causas desconhecidas, foi obrigada a abandonar o país no primeiro milênio d.C..
Acredita-se que os “roma” têm as suas origens nas regiões do Punjab e do Rajastão, no subcontinente indiano. Eles iniciaram a sua migração para a Europa e África do Norte, pelo planalto iraniano, por volta de 1050.
Devido à ausência de uma história escrita, a origem e a história inicial dos povos ciganos foram um mistério por um longo tempo. Há 200 anos, antropólogos culturais criaram a hipótese de uma origem indiana dos “roma”, baseada na evidência lingüística, o que foi confirmado pelos dados genéticos.
Déjà vue? Agora, deparamos com a ação de perseguição aos ciganos típica dos tempos do nazismo e de Mussolini. Ela está em curso na Itália em pleno século XXI, conduzida pelo Primeiro-Ministro, de direita, Silvio Berlusconi. A favor deles, nunca houve e não há a mínima comoção popular, como houve em prol dos igualmente perseguidos judeus após a derrota do nazismo.
Vi o texto do Estadão, primeiramente, no blog do Favre. Transcrevo:
CIGANOS SÃO BODE EXPIATÓRIO
“Tempos horríveis estes para os ciganos italianos, principalmente os chamados “romas”, de origem romena. O premiê italiano, Silvio Berlusconi, acaba de conceder poderes extraordinários para os chefes de polícia de Roma, Nápoles e Milão fazerem um novo censo dos ciganos e expulsarem os que têm problemas com a Justiça.
Será que Berlusconi tem o direito, na União Européia, de perseguir as pessoas desse modo? Os romas são três quartos romenos e um quarto italianos. Portanto, são cidadãos da UE e não podem ser detidos ou expulsos. Mas Berlusconi não está nem aí com isso. Bruxelas se comoverá com a sorte deles? Isso não é tão certo, embora seja desejável.
As medidas contra os ciganos têm precedentes assustadores. Em 1939, sob o nazismo, eles foram tachados de “raça inferior”. Cerca de 30 mil foram expulsos para o Leste e começaram os massacres e o confinamento em guetos. Em 1942, Heinrich Himmler, chefe da SS, deportou os ciganos alemães para campos de concentração.
As medidas de Berlusconi não têm nenhuma relação com tais horrores. Mas não podemos deixar de nos sentir chocados ao ver as mesmas pessoas perseguidas pelo mesmo “crime”: o de pertencer a uma determinada etnia. Pode-se até explicar o gesto de Berlusconi: a Itália padece. A crise é feroz. Nápoles, incapaz de administrar o próprio lixo, apodrece ao sol. Em casos semelhantes, todo líder procura um bode expiatório. O que Berlusconi tinha à mão era o povo cigano.
Sem desculpar Berlusconi, é preciso reconhecer que tal comportamento não é exclusivo dele: em 2007, seu predecessor, Romano Prodi, que não é de direita, mas de centro-esquerda, baixou um decreto que lhe permitiu expulsar ciganos.
A maldição que recai sobre os ciganos também é antiga. Eles deixaram seu berço, a Índia, na Antigüidade, e espalharam-se pela região do Mediterrâneo. Tinham uma fama detestável: os gregos os apelidaram de “intocáveis”.
Nas sociedades modernas, a sorte dos romas italianos mostra que o problema da imigração não pára de se agravar. A crise intensifica o ódio pelos imigrantes, esses sujeitos que vêm “tirar o nosso emprego”. Os países europeus endurecem suas leis, expulsam, separam as famílias, desprezam. Hoje, a Europa, que por muito tempo deu lições de direitos humanos, não exibe um rosto bonito. Ela é feia. Em todas as capitais, afiam-se as armas contra os imigrantes. O código civil é reformulado. A imigração é tratada como crime.
Evidentemente, não podemos esquecer que a imigração em massa representa um desafio.
Mas a solução não é lotar aviões fretados, como faz o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
É necessária na Europa uma política de imigração firme, coerente, diferente das histerias anticiganas de Berlusconi. Uma política que tenha dois pilares: no interior, a solidariedade e a integração; no exterior, acordos de cooperação com os países de emigrantes.”
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