sábado, 4 de outubro de 2008

É A POLÍTICA, ESTÚPIDOS

Clóvis Rossi escreveu para o jornal Folha de São Paulo de ontem:

“Reencontro George Soros na capa da Folha. Nosso encontro anterior no mesmo local fora há seis anos. Participávamos de um seminário sobre terrorismo no Council on Foreign Relations de Nova York. No jantar, cada um de prato na mão, perguntei sobre a eleição brasileira (a de 2002).

Respondeu: "É Serra ou o caos".

Deu capa na Folha, claro. Por que o caos? Porque os mercados atacariam de todos os lados para tentar evitar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda visto como perigoso esquerdista (ah, como os mercados se equivocam).

"Não é antidemocrático?", perguntei ingenuamente. Soros: "É, mas como na Roma antiga só votavam os patrícios, no mundo moderno votam os americanos" (referindo-se aos mercados, não aos americanos em geral, que não prestam atenção a eleições periféricas).

O eleitorado brasileiro não deu bola para a chantagem dos "patrícios" modernos, embora Lula tenha se rendido gostosamente a eles depois de vencer.

Seis anos depois, lá está o velho e bom George repetindo a chantagem na capa da Folha ao dizer que o pacote de ajuda aos mercados é "desesperadamente necessário".

Na prática equivale a dizer: o pacote ou o caos, como em 2002.

Pode até ser que ele tenha razão, mas, frase por frase, prefiro inverter a do marqueteiro James Carville a Bill Clinton, na campanha de 1992: Carville dizia "é a economia, estúpido"; agora é a hora de dizer "é a política, estúpidos".

Posto de outra forma: é preciso que os governos governem os mercados também.

Governança global, diga-se, porque soluções isoladas não parecem factíveis. Não se trata de subordinar os mercados ao Estado (esse muro já caiu e não volta), mas de regras que previnam chantagens dos "patrícios", que arruinaram o primeiro ano do governo Lula e, agora, semeiam o pânico de Hong Kong a Nova York”.

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