sábado, 4 de outubro de 2008

RÉQUIEM PARA O NEOLIBERALISMO

O ex-presidente José Sarney escreveu para a Folha de São Paulo de ontem:

"As bolsas , fartas dos tempos do vale-tudo, pediram que não lhes mandassem flores, e sim o socorro que elas sempre condenaram como uma intervenção maléfica no mercado, que, sozinho, tudo resolveria, até mesmo os problemas da economia e da sociedade. Caímos na armadilha.

O comunismo morreu sem um tiro, vítima de suas próprias contradições: foi um suicídio. O capitalismo está morrendo, não funciona mais com suas próprias pernas e socorre-se do Estado interventor.

Este surge como tábua de salvação.

Tony Blair falou certa vez na Terceira Via, que não era nem terceira, nem via, mas, sim, uma maneira de salvar os dedos, perdendo alianças, e não anéis. Melhor pensou Deng Xiaoping, com sua China de dois sistemas, capitalista e socialista, que pelo menos tem a vantagem da evidência do sucesso.

Nesse episódio da atual e surpreendente crise a que estamos assistindo, sem saber onde está o fundo, fica a vergonha da classe política americana, que se mostrou incapaz de servir ao país e desrespeitou o interesse público. Deram o mau exemplo de não distinguir entre os interesses da pátria e os dividendos políticos e eleitorais.

Onde estão um Lincoln, um Jefferson, um Washington ou um Roosevelt? Os próprios candidatos esconderam-se na mediocridade de subterfúgios e lugares-comuns, sem mostrar capacidade de liderar. A primeira virtude do líder é a coragem, a segunda é não ter medo de decidir segundo o interesse do povo, sem julgar se ele próprio vai ganhar ou perder. Acrescente-se o fato de que esta é a primeira crise que ocorre com a globalização financeira, que chega até mesmo a Bora-Bora.

Para usar uma citação lugar-comum, lembremos Fukuyama falando no fim da história, com a definitiva implantação da economia de mercado e da democracia liberal. Se uma e outra se mostram incapazes de resolver uma crise dessa dimensão, como achar que elas esgotam os caminhos da humanidade? Faliram o mercado selvagem e a democracia, logo no país que é o seu berço e padrão, mostrando-se incapazes de criar homens públicos que sirvam de exemplo de estadista mundial.

Bush nivela-se a tais parceiros neste episódio. Ele passará à história não como Quixote, o cavaleiro da triste figura, mas como a figura do triste homem que levou seu país ao fundo do poço. Ele, que era o grande conservador capitalista, matou-o não com um beijo, como Oscar Wilde na "Balada do Cárcere de Reading", mas com a espada da crueldade, cujo único triunfo foi a cabeça de Saddam. Ela valeria isso? Agora vão querer consertar, mas o estrago e as conseqüências já estão aí”.

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