quarta-feira, 8 de abril de 2015

BASTOU A "ZELOTES" CHEGAR PARA A "ZELITE" ACHAR O JUIZ MORO PERIGOSO




Bastou Zelotes chegar para a Zelite achar ideias de Moro "perigosas"

"Logo quando a operação Zelotes flagrou grandes figurões da elite brasileira em práticas criminosas, a 'presunção de inocência' [abolida para a AP 470, substituída pela "presunção de culpa" como fundamento para condenação] resolveu dar o ar da graça.

Por Antonio Lassance, cientista político

Nada como um dia após o outro. De repente, não mais que de repente, um editorial de "O Globo" considera o padrão Moro de "justiça" muito perigoso...

No texto "Lava-Jato inspira proposta de mudança na Justiça", o jornal relata que juízes, "Sérgio Moro um deles, defendem que penas sejam cumpridas a partir da sentença de primeira instância, ideia perigosa, mas que Congresso precisa debater".

Ideia perigosa? Como assim? Desde quando? Que curioso, não? Se prender suspeitos e mantê-los trancafiados até que confessem o que sabem e o que não sabem foi saudado até agora como um "bom padrão de execução da judiciária", que medo é esse de uma sentença condenatória em primeira instância?

Manter o réu preso sem julgamento pode, mas prendê-lo depois do julgamento não pode? Estranho raciocínio. Muito estranho mesmo.

É muita coincidência que essa... "tomada de consciência" - chamemos assim - tenha acontecido quando um escândalo de proporções muito maiores do que qualquer 'petrolão' evidenciou algo banal, trivial, óbvio: o maior escândalo de corrupção de todos os tempos, em qualquer época, em qualquer país, é a sonegação dos ricos, estejam eles ligados a que esquema for - do 'petrolão' ao 'suíçalão' do HSBC e, agora, ao esquema desbaratado pela 'operação Zelotes', da Polícia Federal.

Logo quando a Zelotes flagrou grandes figurões da elite brasileira em práticas criminosas, vis, tão dignas de escárnio quanto qualquer propina intermediada por doleiros, a "presunção de inocência" resolveu dar o ar da graça. Justo ela que andava tão sumida.

Justo agora que, entre outros, uma afiliada das organizações "Globo" (a gaúcha RBS) aparece na mira das investigações, se resolve falar novamente, alto e bom som, em "presunção de inocência".

Esperemos para ver que juiz vai ter a coragem - não é assim que se chama? - de prender tais figurões e fazê-los ver o sol nascer quadrado até que confessem seus crimes já expostos e supliquem por delações premiadas. Se tem dinheiro público, se tem propina, sem tem lavagem de dinheiro, não vai ter prisão? Agora não vai ter? Por quê?

Afinal, "O Globo" está com medo de quê? Esse editorial terá sido feito por gente que nasceu ontem? Quem o escreveu não sabe que o "padrão Moro de qualidade judicial" já é corriqueiramente aplicado em nossa Justiça?

Em média, mais de 40% da população carcerária brasileira é formada por presos em situação provisória, ou seja, não têm condenação definitiva. Em alguns presídios, o número de presos provisórios ultrapassa 60%.

Depois de ter premiado Moro com o prêmio "Faz Diferença" de personalidade do ano, quem sabe o jornal não se disporia a conferir um troféu "Sérgio Moro" a presídios com as estatísticas mais altas de gente presa sem condenação, aguardando delações premiadas e julgamento a perder de vista?

"O Globo" assustou-se e alerta: o "Congresso precisa debater". Claro! Os leitores de "O Globo", pelo menos aqueles que não nasceram ontem, entenderam bem que a sugestão do jornal é para que a proposta encontre o caminho certo para ser imediata e solenemente sepultada, com o sinal verde de aplausos em futuros editoriais.

A defesa da presunção de inocência por parte de uma mídia que se vende, diariamente, atropelando essa mesma presunção de inocência mostra o quanto muitos de seus editoriais são meros exercícios de hipocrisia, assim como os pedidos de desculpas por seu golpismo entranhado.

A presunção de inocência de muitos veículos é ditada por um cálculo de conveniência. Tem dia em que ela está valendo, tem dia que não está.

Justiça seja feita, há momentos em que a grande e tradicionalíssima imprensa esforça-se muito e dedica todo amor e carinho a proteger a reputação de seus políticos prediletos, a ponto de até mesmo parentes envolvidos em escândalos serem chamados de "supostos parentes" - uma expressão que já deveria estar nos manuais de redação desses luminares.

Precisou da "Zelotes" para a turma de "O Globo" se lembrar que a Justiça, em qualquer lugar, é feita não apenas de leis, mas de juízes e de precedentes.

Juízes tratados como astros de rock se engraçam a dar seu show à parte e rasgam a lei como quem quebra a guitarra em pleno palco. Quem precisa delas - da lei, da guitarra? Os precedentes que alguns juízes criam podem ser ainda mais graves, pois tornam-se regras que, longe de serem uma homenagem às leis, espezinham-nas.

Que tipos de juízes preferimos? "O Globo" prefere um que atenda aos seus caprichos e proteja seus amigos diletos - convenhamos, um "princípio" que é o fim de qualquer noção razoável e responsável de justiça."

FONTE: escrito por Antonio Lassance, cientista político. Publicado no portal "Carta Maior"  (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Bastou-Zelotes-chegar-para-a-Zelite-achar-ideias-de-Moro-perigosas-/4/33211).[Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

5 comentários:

CAMO disse...

O sr moro não é perigoso para com os seus, seus método sim, se aplicados na operação zelotes.

Unknown disse...

Ao Camo,
Realmente, o Juiz Moro e sua equipe (autodeclarada aecista no facebook) não desejam ser perigosos para com "os deles", que são aqueles contrários ao atual governo federal. Porém, seus métodos passaram a amedrontar a direita brasileira a partir da inusitada revelação de crimes da "elite", principalmente os escândalos do "Suiçalão" e de gordas propinas para perpetrar gigantescos desfalques à Receita Federal.
Maria Tereza

CARMELO PIGNATRACOZZA DE ROSARIO ARGENTINA disse...
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CARMELO PIGNATRACOZZA DE ROSARIO ARGENTINA disse...
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Unknown disse...

Ao Carmelo Pignatracozza,
Desconheço completamente as pessoas citadas nos seus comentários. Portanto, não endosso uma palavra sequer e creio não serem pertinentes ao artigo sobre a operação Zelotes.
Maria Tereza