A opinião de Celso Amorim sobre novo acordo do Irã
Por Miguel do Rosário
"Reproduzo abaixo post do blogueiro Paulo Henrique Amorim, trazendo a opinião de Celso Amorim sobre o recente acordo nuclear celebrado entre o governo Obama e o Irã, que distensiona maravilhosamente um dos conflitos mais perigosos do mundo, e põe fim aos criminosos embargos que faziam sofrer a população iraniana.
O ex-chanceler observa que o acordo poderia ter sido feito antes, se houvesse apoio à proposta de Lula [concordada pelo Irã e que atendia a todas as exigências dos EUA antes apresentadas por carta de Obama ao Presidente Lula].
O Estado Islâmico (ISIS) poderia ter sido combatido na raiz, e a população iraniana não precisaria ter sofrido cinco anos de embargo desnecessário.
No portal "Conversa Afiada":
Celso Amorim analisa o acordo EUA/Irã
"O ansioso blogueiro manteve na manhã de sábado (4/4) conversa por telefone com o grande chanceler Celso Amorim, co-autor da “Declaração de Teerã”, com o Presidente Lula e a Turquia.
Ali, em maio de 2010, o Irã se comprometeu a submeter seu programa nuclear a restrições e controles muito semelhantes aos que o Presidente Obama, em carta e pessoalmente, tinha dito ao Presidente Lula que eram indispensáveis.
O ansioso blogueiro reproduz agora – de forma não literal – as observações telefônicas de Celso Amorim sobre o acordo que os Estados e o Irã, celebraram, nessa sexta-feira:
– "é preciso, primeiro, ver exatamente os números envolvidos, sobretudo a quantidade de urânio que o Irã poderá reter;
– ao comparar esse acordo com a “Resolução de Teerã” é importante observar que são de natureza diferente: o acordo de ontem é uma barganha entre as sanções – que a Resolução evitaria – e os compromissos assumidos pelo Irã;
– basicamente houve perda de tempo – cinco anos;
– cinco anos de privações do povo iraniano;
– cinco anos de imobilismo diplomático: será que o problema do ISIS não poderia ter sido enfrentado, mais cedo, com a ajuda do Irã ?
– fazer uma bomba, ao lado de Israel, seria uma tentativa de suicídio do Irã;
– o Irã, no máximo, pode ter o poder “deterrent”, o poder de deter, de impedir;
– a Síria não se resolve sem o Irã;
– no Irã, o acordo parece muito popular;
– nos Estados Unidos, embora o Congresso tenha que votar o cancelamento de algumas sanções, estou otimista;
– Obama foi corajoso;
– se ele recuou da Resolução de Teerã [conseguida por Lula], talvez tenha sido por causa da reeleição;
– agora, não, ele deve estar preocupado com o seu legado, sua biografia;
– e nesse ponto, ela tem dois pontos relevantes: Cuba e o Irã;
– nisso, a politica externa americana fica parecida com a brasileira;
– com exceção do que fez agora com a Venezuela, porque se tem uma coisa que a Venezuela não é … é uma ameaça aos Estados Unidos;
– é possível que Obama tenha feito um acordo com o Irã sobre as etapas do cancelamento das sanções, exatamente por causa da negociação com o Congresso;
– mas, estou otimista.
– a Resolução de Teerã demonstrou que era possível chegar a um acordo.
– eu estava no aeroporto de Nova York, anteontem, e vi naqueles letrinhas embaixo da imagem, na CNN, uma frase interessante: que essa acordo foi baseado na “confiança”;– e a Hillary me dizia que não se podia confiar no Irã …"
FONTE: postado por Paulo Henrique Amorim no portal "Conversa Afiada" e transcrito e comentado por Miguel do Rosário no blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=26092).
COMPLEMENTAÇÃO
ACORDO HISTÓRICO COM IRÃ É INFERIOR AO DE LULA EM 2010
"Cinco anos atrás, o ex-presidente Lula e o ex-chanceler Celso Amorim costuraram um acordo com o Irã bem mais ambicioso do que o que foi anunciado pelas potênciais ocidentais e saudado como "histórico" pelo presidente Barack Obama neste sábado. Em 2010, a quantidade de urânio enriquecido que o Irã se comprometia a enviar a observadores internacionais era bem maior do que a atual. "Se os Estados Unidos tivessem levado a sério o acordo Brasil/Turquia/Irã de 2010 em torno do programa nuclear iraniano, o mundo teria perdido menos tempo e enfrentado menos dificuldades ao enfrentar o tema", avalia o jornalista Clóvis Rossi, especializado em questões internacionais. Lá atrás, o acordo diplomático costurado por Lula foi sabotado por Obama. "Os países ricos não aceitam que exista num novo ator nas discussões internacionais", desabafou Lula à época.
Do "Brasil 247"
Cinco anos atrás, o Itamaraty costurou um acordo diplomático com o Irã e a Turquia que impunha estrita vigilância sobre o programa nuclear iraniano. O acordo previa que o Irã enviasse à Turquia 1,2 mil kg de urânio de baixo enriquecimento para que fosse substituído por urânio enriquecido a 20% para ser usado em pesquisas médicas. Pelo acordo, haveria supervisão de inspetores turcos e iranianos. À época, Lula classificou o entendimento como "uma vitória da diplomacia", num momento em que países ocidentais, influenciados por Israel, ameaçavam bombardear o Irã.
"Foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir o desenvolvimento", disse Lula. "Há um milhão de razões para a gente ter argumento para construir a paz e não há nenhuma razão para a gente construir a guerra. O Brasil acreditou que era possível fazer o acordo. Mas o que é importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança. E não é possível fazer política sem ter uma relação de confiança", disse.
Aquele acordo, no entanto, não foi implementado por ter sido sabotado por países ocidentais. Alegava-se que o Irã não iria cumpri-lo e que o Brasil, além de ingênuo, estaria se metendo num território proibido, para o qual não havia sido chamado.
Nesta semana, no entanto, os países ocidentais assinaram na cidade de Lausanne, na Suíça, um acordo que foi classificado como "histórico" pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Segundo Obama, o acordo evita, definitivamente, que o Irã tenha a bomba atômica – embora o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu diga o contrário.
Ocorre que o acordo de Obama é bem menos ambicioso do que o negociado por Lula em 2010, conforme aponta o jornalista Clóvis Rossi, especialista em questões internacionais, em seu artigo publicado na "Folha" neste domingo.
"Se os Estados Unidos tivessem levado a sério o acordo Brasil/Turquia/Irã de 2010 em torno do programa nuclear iraniano, o mundo teria perdido menos tempo e enfrentado menos dificuldades ao enfrentar o tema. É a conclusão que emerge após o acordo preliminar da quinta-feira (2) entre as seis grandes potências e o Irã", diz ele no texto Quando o Brasil não foi 'anão diplomático'.
"Comecemos por um detalhe técnico relevante: na carta que mandou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao primeiro-ministro turco Recep Erdogan, Barack Obama dizia ser "fundamental" que o Irã enviasse ao exterior 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido para ser enriquecido a um ponto compatível com seu uso pacífico e incompatível com a bomba. Esse ponto constava explicitamente do acordo Brasil/Turquia/Irã. Agora, o tamanho do estoque iraniano de urânio pobremente enriquecido é de 10 mil quilos (será reduzido a 300 quilos nos termos do acordo de Lausanne). Vê-se, pois, que o Irã avançou bastante em seu programa nuclear nesse lapso de cinco anos. Se o acordo de 2010 tivesse sido usado como base de uma negociação entre as potências e o Irã, em tese seria mais fácil um entendimento, pois os iranianos não estariam tão avançados."
Rossi também criticou duramente a crítica feita ao Brasil, por observadores internos e externos, de que o país teria sido um 'anão diplomático'. "Fica claro, pois, que o Brasil não foi naquele momento o "anão diplomático" como o qualificou recentemente um porta-voz israelense. Pena que tenha sido tratado como tal pelos EUA.", afirmou.
No sábado, Celso Amorim conversou com o jornalista Paulo Henrique Amorim e deu sua visão sobre o porquê da sabotagem norte-americana ao acordo Brasil-Irã-Turquia. "A Hillary Clinton me dizia que não se pode confiar no Irã", afirmou. Ele condenou, ainda, que as sanções ocidentais tenham causado "cinco anos de privações" ao povo iraniano.
No passado, Lula também deu sua visão sobre a sabotagem americana. "Sabe qual é a minha conclusão? Que eles (os ricos) não querem que exista um novo ator! O Brasil ? Não! Não se meta! O Oriente Médio não é coisa pra você!"
FONTE da complementação: do portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/175838/Acordo-hist%C3%B3rico-com-Ir%C3%A3-%C3%A9-inferior-ao-de-Lula-em-2010.htm).
"Foi uma resposta de que é possível, com diálogo, a gente construir a paz, construir o desenvolvimento", disse Lula. "Há um milhão de razões para a gente ter argumento para construir a paz e não há nenhuma razão para a gente construir a guerra. O Brasil acreditou que era possível fazer o acordo. Mas o que é importante é que nós estabelecemos uma relação de confiança. E não é possível fazer política sem ter uma relação de confiança", disse.
Aquele acordo, no entanto, não foi implementado por ter sido sabotado por países ocidentais. Alegava-se que o Irã não iria cumpri-lo e que o Brasil, além de ingênuo, estaria se metendo num território proibido, para o qual não havia sido chamado.
Nesta semana, no entanto, os países ocidentais assinaram na cidade de Lausanne, na Suíça, um acordo que foi classificado como "histórico" pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Segundo Obama, o acordo evita, definitivamente, que o Irã tenha a bomba atômica – embora o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu diga o contrário.
Ocorre que o acordo de Obama é bem menos ambicioso do que o negociado por Lula em 2010, conforme aponta o jornalista Clóvis Rossi, especialista em questões internacionais, em seu artigo publicado na "Folha" neste domingo.
"Se os Estados Unidos tivessem levado a sério o acordo Brasil/Turquia/Irã de 2010 em torno do programa nuclear iraniano, o mundo teria perdido menos tempo e enfrentado menos dificuldades ao enfrentar o tema. É a conclusão que emerge após o acordo preliminar da quinta-feira (2) entre as seis grandes potências e o Irã", diz ele no texto Quando o Brasil não foi 'anão diplomático'.
"Comecemos por um detalhe técnico relevante: na carta que mandou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao primeiro-ministro turco Recep Erdogan, Barack Obama dizia ser "fundamental" que o Irã enviasse ao exterior 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido para ser enriquecido a um ponto compatível com seu uso pacífico e incompatível com a bomba. Esse ponto constava explicitamente do acordo Brasil/Turquia/Irã. Agora, o tamanho do estoque iraniano de urânio pobremente enriquecido é de 10 mil quilos (será reduzido a 300 quilos nos termos do acordo de Lausanne). Vê-se, pois, que o Irã avançou bastante em seu programa nuclear nesse lapso de cinco anos. Se o acordo de 2010 tivesse sido usado como base de uma negociação entre as potências e o Irã, em tese seria mais fácil um entendimento, pois os iranianos não estariam tão avançados."
Rossi também criticou duramente a crítica feita ao Brasil, por observadores internos e externos, de que o país teria sido um 'anão diplomático'. "Fica claro, pois, que o Brasil não foi naquele momento o "anão diplomático" como o qualificou recentemente um porta-voz israelense. Pena que tenha sido tratado como tal pelos EUA.", afirmou.
No sábado, Celso Amorim conversou com o jornalista Paulo Henrique Amorim e deu sua visão sobre o porquê da sabotagem norte-americana ao acordo Brasil-Irã-Turquia. "A Hillary Clinton me dizia que não se pode confiar no Irã", afirmou. Ele condenou, ainda, que as sanções ocidentais tenham causado "cinco anos de privações" ao povo iraniano.
No passado, Lula também deu sua visão sobre a sabotagem americana. "Sabe qual é a minha conclusão? Que eles (os ricos) não querem que exista um novo ator! O Brasil ? Não! Não se meta! O Oriente Médio não é coisa pra você!"
FONTE da complementação: do portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/mundo/175838/Acordo-hist%C3%B3rico-com-Ir%C3%A3-%C3%A9-inferior-ao-de-Lula-em-2010.htm).
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