quarta-feira, 11 de novembro de 2015

MISTERIOSOS BASTIDORES DA TRAGÉDIA EM MARIANA





[OBS deste blog 'democracia&política': 

Enigma. Por que continuam blindadas, protegidas por respeitoso silêncio da imprensa, a multibilionária "Vale" e a anglo-australiana  "BHP Billiton", controladoras da "Samarco"? Seria apenas o tradicional complexo de inferioridade e de impulsiva submissão aos estrangeiros, por parte da nossa elite direitista e de sua imprensa? A "BHP Billiton" é 100% estrangeira; a "Vale" é 53,7% estrangeira. Assim, a "Samarco" é 80,6% estrangeira.  

Além da dívida da "Vale" com o povo brasileiro desde a inaceitável privatização, ela agora deve total indenização pelos danos causados pelo seu crime ambiental.  

Mesmo que esquecêssemos a suspeitíssima gigantesca e impune doação que os novos donos da "Vale" receberam do PSDB/FHC na privatização, acoplada com benesses como a isenção de impostos ICMS, é sem sombra de dúvida obrigação legal da "Samarco" e das suas controladoras  indenizarem as famílias das vítimas, os prejuízos materiais (e outros) dos sobreviventes, os danos à infraestrutura do município, os danos à jusante, rio abaixo, ao fornecimento de água, ao meio ambiente, à pesca, em várias outras cidades de Minas e Espírito Santo. Creio que a lei é assim em todos os países. Independentemente de os desembolsos serem cobertos ou não pelas seguradoras.

Mas isso jamais foi abordado pela grande imprensa. Pelo contrário. Vejo até a insistência na mídia em transferir a culpa para a fiscalização dos governos federal e estadual (somente o atual). Virou manchetes, com enxurradas de críticas, o factoide de o governador mineiro ter ido à Samarco e de lá ter concedido entrevista à imprensa. Míriam Leitão, da "Globo", típica representante da nossa capciosa imprensa, expressou que o importante não era culpar e cobrar as empresas estrangeiras Samarco, Vale e BHP Billiton. O que mais importava e deveria ser duramente criticado era o fato de a Presidente Dilma ainda não ter sobrevoado a área e levado solidariedade e ajuda material do governo para as vítimas.

Por que protegem os multibilionários estrangeiros, que tudo causaram por desenfreada pressa e ganância na exploração?].

Eles olham o povo como o querem ver: de cima, na lama

Por FERNANDO BRITO

"Não tinha visto antes, teria sido mais duro no post anterior, onde falo do comportamento da imprensa no caso do desmoronamento das barragens. Não que tenha passado a crer num complô. Mas porque a incapacidade da imprensa brasileira de tomar a causa das vítimas – e não de explorar superficialmente a sua dor – é, também, de doer fundo.

E é assim, profundamente. expressa a dor que Luiz Carlos Azenha, segunda à noite, em seu post sobre os desdobramentos da catástrofe da pobre Bento Rodrigues, povoado de Mariana, e de todo o trilho de destruição que os rejeitos da mineradora Samarco foram deixando.

Porque olhamos assim, num retrato borrado de lama, o que fica de uma exploração predatória de nossas riquezas que, desde a [chocante] privatização [da "Vale" pelo PSDB/FHC, por suspeitosíssimo valor ínfimo] para cá, trocou de osmãos, das públicas para as privadas, sob o argumento de que estas eram mais capazes, eficientes e que deixariam pingar, de entre seus dedos ávidos, riqueza bastante para fazer da vida dos pobres algo menos ruim. O que os economistas neoliberais chamam de “trickle-down economics”, na sua imensa capacidade de fazer parecer lógico o que é absurdo.

Qual nada! Não é difícil.

Simplesmente não é desejado.

Bastidores de uma tragédia: Os relações públicas da Samarco dão uma surra no Estado brasileiro, que sucumbe ao poder econômico

Por Luiz Carlos Azenha, no "Viomundo"

"A mineradora "Samarco", joint venture da "Vale" com a australiana "BHP Billiton", teve um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2014. Ou seja, limpinhos!

Como se sabe, o Brasil é uma “mãe” para as mineradoras. A Agência Pública fez uma reportagem interessante a respeito, quando Marina Amaral perguntou: Quem lucra com a Vale?

O “pai” das mineradoras é Fernando Henrique Cardoso/PSDB. Em 1996, com a Lei Kandir, isentou de ICMS as exportações de minerais!

O que aconteceu com a "Vale", privatizada [ou melhor, doada, pelo PSDB/FHC] a preço de banana, é o mesmo que se pretende fazer com a Petrobras: colocar a empresa completamente a serviço dos acionistas, não do Brasil.

O que isso significa?

Auferir lucros a curto prazo, custe o que custar.

A questão-chave está no ritmo da exploração das reservas minerais.

Num país soberano, o ritmo é ditado pelo interesse público. É de interesse da população brasileira, por exemplo, inundar o mercado com o petróleo do pré-sal, derrubando os preços? Claro que não.

Quem lucra, nesse caso, são os países consumidores. Os Estados Unidos, por exemplo. Portanto, quando PSDB/FHC privatizou parcialmente a Petrobras, vendendo ações na bolsa de Nova York, ele transferiu parte da soberania brasileira para investidores estrangeiros. Eles, sim, querem retorno rápido. Querem cavar o oceano às pressas, até esgotar o pré-sal. É a dinâmica do capitalismo!

O Brasil é um país sem memória. Não se lembra, por exemplo, do que aconteceu na Serra do Navio, no Amapá. Uma das maiores reservas de manganês do mundo foi esgotada porque interessava aos esforços dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Ficamos com o buraco e a destruição ambiental…

Obviamente, não é um problema brasileiro. Fui pessoalmente às famosas minas de diamante de Serra Leoa, na África, que mereceram uma visita da rainha Elizabeth. Investiguei o entorno. O local de onde saíram bilhões de dólares em diamantes não tinha rede de esgoto, nem de distribuição de água.

O mesmo está acontecendo neste exato momento com o coltan, do Congo, um mineral utilizado pela indústria eletroeletrônica. A exploração do coltan financia uma guerra interminável de milicias, que exportam o mineral para a Bélgica praticamente de graça!

Serra Leoa, Congo, Brasil…

Infelizmente, estamos no mesmo nível.

Como denuncia seguidamente o Lúcio Flávio Pinto, o ritmo da exploração do minério de ferro de Carajás é um crime de lesa-Pátria.

Por que haveria de ser diferente nas reservas de Minas Gerais?

A economia do estado, tanto quanto a brasileira, ainda é extremamente dependente da exportação de commodities. À "Vale" interessa produzir rápido, derrubar o preço a qualquer custo para apresentar lucro no balanço.

Infelizmente, a elite brasileira até hoje se mostrou incapaz de formular um projeto soberano de país. Isso vale para PSDB, PT e todos os outros, como ficou evidente na tragédia de Mariana.

Não podemos culpar a mineradora "Samarco" pela tragédia antes de uma investigação independente e rigorosa. Mas, será que ela vai acontecer?

Do prefeito de Mariana ao senador tucano Aécio Neves, passando pelo governador petista Fernando Pimentel, todos deram piruetas para salvaguardar a "Samarco". Pimentel deu uma entrevista coletiva na sede da mineradora!

Enquanto isso, milhões de metros cúbicos de lama desceram o rio do Carmo e chegaram ao rio Doce.

A "Samarco" diz que a lama é inerte, ou seja, não oferece risco à saúde.

Numa situação ideal, não caberia à "Samarco" dizer isso — com reprodução martelada em todos os telejornais da "Globo".

O familiar de um desaparecido comentou comigo que, na "Globo", as vítimas da tragédia não tinham rosto…

A "Vale", afinal, é grande patrocinadora.

Espanta é que os governos federal, estadual e municipal, que em tese deveriam atuar de forma independente — em nome do interesse público — não o façam.

A primeira providência em um país civilizado seria uma análise de emergência na lama, para determinar se ela oferece algum risco à saúde.

Afinal, milhões de brasileiros podem entrar em contato com os rejeitos, seja nas margens dos rios, seja através da água consumida.

Além disso, o tsunami de lama carregou corpos humanos e de animais por uma longa extensão, de centenas de quilômetros.

No entanto, a não ser pelo esforço de relações públicas da "Samarco", as pessoas afetadas, como testemunhei pessoalmente, estão totalmente no escuro.

Mais adiante, outras questões importantes vão surgir.

O rio do Carmo foi completamente destruído, de ponta a ponta. Quem vai pagar a conta? O Estado brasileiro ou a "Samarco"?

A "Samarco" fez o que se espera de uma empresa privada, que pretende minimizar os impactos sobre si do desastre ambiental que produziu.

De forma competente, acionou seu esquema de relações públicas para deixar no ar a ideia de que o rompimento de duas barragens foi consequência de um terremoto.

Transferiu os desabrigados para hoteis, evitando a ebulição de centenas de pessoas que, conjuntamente, poderiam conjurar contra uma empresa da qual sempre desconfiaram.

Conversei com os sobreviventes de Bento Rodrigues: todos sempre acharam um exagero o crescimento vertical, contínuo, da barragem, para guardar mais e mais lama.

Segundo eles, a Samarco começou a comprar novas áreas de terra porque pretendia construir uma outra barragem, mais próxima do povoado, para dar conta do armazenamento dos rejeitos.

Que a "Samarco" cuide de seus interesses é parte do jogo.

O espantoso é ver a captura do Estado brasileiro, em todas as esferas, pelo interesse privado.

Basta uma consulta às pessoas comuns, que vivem sob as barragens de rejeitos — que se contam às centenas em Minas — para que elas denunciem: as empresas aumentam indefinidamente as cotas, sem transparência, sem qualquer consulta pública, sem planos de resgate de emergência, sem um básico sinal sonoro para dar o alerta em caso de acidente.

É bem mais barato que construir uma nova barragem, certo? Lembrem-se: essas empresas estão a serviço do lucro de seus acionistas e a maioria deles não mora em Mariana, provavelmente nem mora no Brasil.

Minas Gerais, acossada pela crise econômica, sucumbe à lógica das mineradoras: como denunciou o leitor Reginaldo Proque, está tramitando na Assembleia Legislativa um projeto para simplificar o licenciamento ambiental, de autoria do governo Pimentel.

Em resumo, os desabrigados das margens do rio do Carmo fazem o papel, em carne e osso, da crise de representação da política brasileira.

Ninguém os ouve, nem consulta.

Quando muito, são sobrevoados por helicópteros que “representam” um Estado servil ao poder econômico.

PS. Se é fato esta história dos “terremotos” estar sendo insuflada aos ouvidos pela assessoria da "Samarco", é a triste repetição do caso, há exatos quatro anos, em que a "Chevron", pelos mesmos meios, tentava minimizar o vazamento de óleo no Campo de Frade, dizendo, em nota, que era uma “exsudação natural” de petróleo do leito marinho. Foi preciso gente teimosa para mostrar que o rei estava ridiculamente nu."

FONTE: do blog "Tijolaço'  (http://tijolaco.com.br/blog/azenha-eles-olham-o-povo-como-o-querem-ver-de-cima-na-lama/).[Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política']. 

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