MK Bhadrakumar
TURQUIA ABRE CAMINHO PARA A RÚSSIA RUMO À EUROPA
Do blog “redecastorphoto”
Por MK Bhadrakumar, no “Indian Punchline” (traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu”)
“TURKEY GIVES RUSSIA RUN INTO EUROPE”
“O evento marco de 2011, na geopolítica da segurança energética, não será o negócio de petróleo que a China firmou na quarta-feira (28 dez) com o Afeganistão [1]. Na madrugada da quinta-feira (29), chega a notícia de que Rússia e Turquia acertaram os ponteiros sobre o gigantesco gasoduto “South Stream”, que levará energia russa ao sul da Europa. [2]
Ainda não se sabe o que levou a Turquia a mudar de opinião. Terão os russos feito concessões que os turcos consideraram interessantes? Seja como for, toda a geopolítica da segurança energética do mundo mudou, literalmente, do dia para a noite.
Os dois eventos – o negócio sino-afegão e o gasoduto “South Stream” – estão “correlacionados”, na medida em que a China chega, afinal, às reservas de energia da Ásia Central, ao mesmo tempo em que a Rússia olha para o ocidente e fortalece seu status de potência fornecedora de energia para a Europa.
De fato, nem as incertezas da segurança regional na Ásia Central impedem que a China ponha dinheiro sobre a mesa e busque novos métodos, criativos, para construir situações de “ganha-ganha” [3]. Nem, simultaneamente, os percalços no relacionamento com o ocidente (e, particularmente, o “reset” com os EUA) tiram um átomo do entusiasmo dos russos, que buscam ligar-se, por laços firmes, aos europeus afluentes. (...) Nem o tempo nem as marés esperam pelos retardatários.
O que a Rússia está fazendo é instalar firmemente, anel após anel, os seus elos de engajamento com Alemanha, Itália e França, de tal modo que se tornem “acionistas” na integração dos russos à Europa. Assim, passarão a ter de dar atenção às sensibilidades russas em questões controversas, como a expansão da OTAN ou a instalação do sistema de mísseis balísticos de defesa dos EUA – projeto no qual Washington tanto se empenha, e não por motivos de defesa.
O gasoduto “South Stream” sempre foi menina-dos-olhos de Vladimir Putin, e torna-se agora seu legado histórico à política externa russa. Não faltaram detratores, mas Putin insistiu sempre, muitas vezes contra todas as probabilidades. Com o outro gasoduto, o “Nord Stream” (também legado de Putin) já contratado há poucos meses, o “South Stream” integra ainda mais a Rússia e os mercados europeus de energia, e dá força a Moscou, que busca ganhar espaço no altamente lucrativo mercado de venda a varejo nos países europeus.
Em resumo, a integração doravante só aumentará. 2012 verá como a diplomacia do gasoduto fará aumentar a cooperação necessária para o desenvolvimento do fantástico campo de gás natural que os russos têm em Shtokman.[4]
A China observará tudo muito atentamente. 2012 será também o ano do ápice da cooperação energética Rússia-China, assumindo-se que chegue a bom termo o negócio de trilhões de dólares de gás, que enfrenta dificuldades, hoje, na fixação dos preços. Putin também se envolveu pessoalmente nesse projeto.
Não há dúvida alguma que Moscou derrotou a diplomacia dos EUA, nas questões de energia do Mar Cáspio.[5] O gasoduto “South Stream”, que a Rússia quer ter em pleno funcionamento em 2015, também desloca, em importância, o projeto rival “Nabucco”, que os EUA apóiam. A interdependência entre a Europa ocidental e a Rússia, no campo da segurança energética, é vista com extrema preocupação em Washington, porque trabalha contra a estratégia norte-americana para “conter” a Rússia e debilita a liderança transatlântica dos EUA.
Está em curso uma dura batalha de ambições entre EUA e Rússia, ambos tentando ganhar acesso às reservas de gás no Turcomenistão e no Azerbaijão.
O gasoduto “South Stream” reduz fortemente a dependência russa da Ucrânia, como país de passagem para o gás exportado para a Europa. O quê, por sua vez, altera a equação Rússia-Ucrânia.
Kiev pode escolher: ou se une à “União Aduaneira de Moscou” e obtém dos russos melhores preços pela energia, ou paga preços de mercado. Evidentemente, se a Ucrânia unir-se “ao lar eurasiano comum”, com Rússia, Cazaquistão e Bielorrúsia, Moscou terá deixado para trás o colapso da União Soviética – que muitos importantes líderes russos, como Evgeny Primakov [6], ainda entendem que nunca foi tão inevitável quanto tem sido pintado.
Não há dúvida de que a possibilidade de Putin voltar ao Kremlin desestabiliza o pessoal em Washington.”
NOTAS DOS TRADUTORES:
[1] 28/12/2011, People Daily, Pequim, “Afghanistan, China sign agreement on oil extraction” (em ingles).
[2] 28/12/2011, Reuters Africa, “UPDATE 2 – Turkey, Russia reach South Stream gas deal” (em ingles).
[3] 28/12/2011, The Raw Story, “Afghanistan signs “$7 bn” oil deal with China” (em ingles).
[4] 28/12/2011, The Moscow Times, “Shtockman Gas Investors To Discuss Project’s Fate” (em ingles).
[5] 9/9/2011, MK Bhadrakumar, Asia Times Online, “Putin's European goal no longer a pipe dream” (em ingles).
[6] 26/12/2011, Russia Today, “Soviet collapse more costly than WWII – Primakov” (em inglês)
FONTE: escrito por MK Bhadrakumar, no “Indian Punchline” (traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu”). O autor é ex-diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais “The Hindu”, “Asia Online”.Artigo postado por Castor Filho no blog “redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/12/turquia-abre-caminho-para-russia-rumo.html) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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