Hugo Valadares: O apagão segundo a mídia
"O leitor mais atento já se acostumou a encontrar diariamente nos grandes veículos de comunicação tentativas de se criar crises nas mais diversas áreas dos serviços públicos, sempre com foco na tentativa de “culpabilizar” o governo federal por qualquer que seja a causa. Isso se aplica as últimas notícias acerca de um tal “apagão” que o país sofrera na semana passada, mas que em nada se assemelha ao caos energético vivido em 2001, no auge do desgoverno neoliberal.
Por Hugo Valadares*
A bola da vez foi alardear um planejamento energético malfeito, que teria acarretado na interrupção do fornecimento de energia nos últimos dias. A toda hora ouvia-se o termo “apagão” sendo utilizado indiscriminadamente por jornalões, portais da internet, emissoras de rádio e televisão para definir um blecaute, como se fossem a mesma coisa.
Vamos ao que ocorreu no apagão real, de FHC, e o suposto, de Dilma:
Primeiro: Em 2001, fruto de uma política energética desastrada, falta de investimentos na geração de energia elétrica e uma previsão de chuvas que não se cumpriu, o Brasil passou perto do racionamento. Em outras palavras, se não tivesse ocorrido grande economia, teria havido interrupção do fornecimento por falta de oferta, de disponibilidade de energia;
Segundo: O “suposto apagão” da semana passada na verdade foi uma queda momentânea no fornecimento, mas não por falta de energia e sim por problemas técnicos causados, provavelmente, por um raio em uma linha de transmissão que liga a região norte e os maiores centros consumidores no sul e sudeste.
Ou seja, em nada essa interrupção, que durou algumas horas, tem vínculo com a falta de energia que caracterizou o apagão em 2001. Entretanto, a mídia insiste em utilizar esse termo como forma de alusão ao caos energético do início da década passada que, de fato, está longe de acontecer.
Ademais, nesses últimos anos a demanda cresceu em elevada medida, uma vez que, com a economia aquecida, mais pessoas estão empregadas e o consumo de energia também se eleva. Tal processo ocorre em ciclo, pois aliado ao consumo residencial, é necessário mais energia para produzir bens duráveis, alimentos, commodities etc, fato intrinsecamente ligado com o poder de compra das famílias no mercado interno. É claro que se não tivessem ocorrido novos investimentos no setor elétrico a oferta atual de energia não teria acompanhado a demanda.
Em 2001, a capacidade instalada estava na casa dos 75000 MW, enquanto em 2014 estamos perto de 125000 MW, aumento de quase 50%. O consumo, por outro lado, fica perto do 85000 MW nos picos de demanda, muito distante da capacidade total de geração. E a informação positiva é que os investimentos em unidades geradoras continuam crescendo.
A falta d´água e a menor densidade pluviométrica deste começo de ano, por outro lado, é fato real. Há grande escassez de chuvas que são incompatíveis com o histórico para este período. Mas não vai faltar energia porque a demanda é suprida por usinas termelétricas. A notícia ruim é que a água usada para fins de geração não tem custo e não polui, diferentemente dos combustíveis fósseis utilizados em geradoras de base térmica.
Novamente, a estratégia manipuladora tem sido adotada pela mídia no intuito de confundir o espectador por meio de dados enganosos ou manchetes alarmantes que não condizem com os fatos. A todo o momento tentam vincular um termo pejorativo - apagão - cunhado na época do auge do neoliberalismo e da falta de investimento estatal no setor energético, com uma queda de algumas horas no fornecimento de energia. Nessa guerra, tem sido válido manipular gráficos, números e índices a fim de convencer o brasileiro de que estamos à beira do precipício. Ainda bem que não vivemos no país que a imprensa golpista tenta vender por meio de terrorismo midiático."
FONTE: escrito por *Hugo Valadares, pós-doutorando em Engenharia Elétrica pela Unicamp, membro da direção nacional da UJS. Foi presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) na gestão de 2008-2010. Artigo publicado no portal "Vermelho" (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=235641&id_secao=6).
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