Gráfico do "New York Times" mostra os gasodutos que passam pela Ucrânia
O gás da Rússia pode explodir a Ucrânia amanhã
"HuffPost France" | by Grégory Raymond
Tradução parcial
"A pressão militar na Ucrânia nunca foi tão forte, mas os canhões não são a maior arma de Moscou. Com a questão da Crimeia — uma região pró-russa da Ucrânia — esquentando, o fornecimento de gás poderá ser uma ameaça usada na resolução da crise. A Ucrânia depende fortemente de energia russa. Preços crescentes do gás decididos por Moscou podem levar, a qualquer momento, a um colapso do país.
Uma nova guinada pode emergir em breve: a partir de primeiro de março, a gigante russa Gazprom poderá renegociar seu contrato com a empresa estatal de gás e petróleo da Ucrânia, a Naftogaz.
Dado o acordo pelo qual a Rússia fornece gás para a Ucrânia, as duas companhias devem assinar um novo contrato a cada trimestre. Quando as relações entre os dois países são boas, assim também são os preços.
O último acordo, assinado em dezembro, definiu o preço a U$ 268,5 por mil metros cúbicos. Um preço competitivo, já que o de mercado na época das negociações era de U$ 400.
Este “gesto” da Gazprom, vindo de um governo aliado no setor de energia, foi feito por uma razão: o ex-presidente ucraniano Victor Yanukovych tinha acabado de desistir de um acordo comercial entre seu país e a União Europeia e estava prestes a reforçar a cooperação com Moscou. Agora que o governo interino está se voltando para Bruxelas, uma nova pressão no fornecimento de gás é esperada.
A Rússia fornece a maior parte do gás consumido na Ucrânia — é o maior importador de gás russo — e o governo russo foi acusado outras vezes de usar a dependência do vizinho como forma de pressão política. Vários setores industriais da Ucrânia, como as indústrias da metalurgia e de fertilizantes, dependem completamente das importações do gás russo. Outro fator a considerar — motivo de preocupação — é de que Kiev é um mau pagador.
Hoje, a Ucrânia deve cerca de U$ 4 bilhões à Gazprom. O país também precisa encontrar U$ 35 bilhões para pagar suas dívidas nos próximos dois anos. Há motivos para temer uma terceira “guerra do gás”.
Em janeiro de 2006 e no início de 2009, a Gazprom decidiu cortar todo o suprimento para a Ucrânia — através da qual 90% do gás russo viaja para a Europa — obedecendo a ordens do Kremlin. Os russos queriam acelerar o acordo em uma disputa comercial sobre os preços e a dívida do gás. Também queriam punir a Ucrânia por se aproximar da UE.
Como resultado, vários paises da Europa central e ocidental ficaram sem suprimento. Agora, apenas 60% do gás russo importado por paises europeus atravessa a Ucrânia. Os vizinhos da Ucrânia veem uma nova crise do gás com mais serenidade. A Europa depende menos do gás que passa pela Ucrânia.
Em comparação com as crises prévias, a Rússia agora tem mais liberdade para pressionar a Ucrânia. O país tem uma rede de importadores de gás na Europa e pode cortar o fornecimento para a Ucrânia sem comprometer a entrega para outros paises europeus.
A Gazprom construiu um gasoduto duplo, gigante, no mar Báltico, em colaboração com as empresas alemãs E.ON, BASF e as companhia francesa GDF Suez. Chamado "Nord Stream", esse gasoduto pode transportar 55 bilhões de metros cúbicos por ano, diretamente da Rússia para a Alemanha. A Alemanha também é altamente dependente do gás russo, mas a Gazprom não pode cortar o fornecimento. O "Nord Stream" é controlado por um consórcio liderado por Gerhard Scroöder, o chanceler alemão entre 1999-2005.
Na região sul, o gasoduto "South Stream" começará a funcionar em breve. Vai cruzar a Bulgária, a Sérvia, a Hungria e a Itália. EsSe gasoduto vai garantir que haja trânsito permanente de gás russo pela Europa central.
De acordo com Alexandre Razouvaev, chefe do departamento de análises da Alpari, “a Gazprom é muito menos dependente do trânsito de gás pela Ucrânia que no passado. Vários itinerários alternativos foram criados nos últimos anos: "BelTransGaz", através da Bielorrússia, mas também "NordStream" e o gasoduto que conecta a Rússia com a Turquia através do mar Negro”.
Enquanto a Rússia tenta se livrar do trânsito de gás pela Ucrânia, Kiev está tentando diversificar seus fornecedores. O ex-primeiro ministro da Ucrânia, Mykola Azarov, disse que, no final de 2013, o país tinha reduzido suas importações de gás russo em 40% desde 2010. Eventualmente, acrescentou, seu país poderia viver sem suprimento russo. O governo da Ucrânia fez um “enorme” trabalho para extrair gás em casa, diz Azarov.
Muitos contratos foram assinados, notavelmente com a Shell e a Exxon Mobil, que agora podem extrair gás da bacia do mar Negro. O governo ucraniano também deu à companhia norte-americana Chevron o direito de pesquisar e explorar gás de xisto. Um poço consistente foi encontrado em Oleski, na Ucrânia ocidental, diz o ex-primeiro ministro."
FONTE: escrito por Grégory Raymond no "HuffPost France". Transcrito no portal "Viomundo" (http://www.viomundo.com.br/politica/o-gas-da-russia-pode-explodir-a-ucrania-amanha.html).
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