Por MAURO SANTAYANNA
"Ou tomamos alguma providência, imediata, para preservar os empregos e a renda que auferimos com as exportações para o Mercosul, ou corremos o risco de perder milhões de clientes para outras regiões e países.
A imprensa internacional, citando a AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, destaca a "preocupação" de nossos homens de negócio, com a provável queda das vendas, neste ano, para a Argentina e a Venezuela.
Tem razão os nossos exportadores.
A Argentina e a Venezuela, vilipendiados nos últimos anos por determinados setores da mídia e do empresariado, são mercados tradicionais para nossos manufaturados, e apesar de seus problemas, as únicas nações com quem temos tido expressivos superávits, nos últimos meses, além da China.
Com a Europa e os Estados Unidos, tão incensados por esses mesmos setores da mídia e do empresariado, o déficit aumentou em mais de 100% no ano passado, e com certeza tende a se acelerar mais daqui em diante, se negociarmos em condição de fraqueza – obedecendo apenas a pressões externas e internas – o "acordo" que está sendo costurado entre o Mercosul – leia-se Brasil, em um primeiro momento - e a União Europeia.
Não satisfeitos em levar daqui, todos os anos, bilhões de dólares e de euros em remessas de lucro, os europeus – e os EUA, que querem pressionar no sentido de obter acordo semelhante – pretendem continuar vendendo cada vez mais ao nosso país e comprar cada vez menos, deteriorando as relações de troca e o preço de nossas mercadorias, para reduzir-nos, se assim o permitirmos, à mera colônia exportadora de matérias-primas que éramos até o início do século XX.
Sofremos, ao longo das últimas décadas, o efeito do protecionismo dos países do "primeiro mundo", em casos como o do aço, do suco de laranja, do frango congelado, do algodão, da carne bovina, e até mesmo do subsídio à fabricação e exportação de aviões, e não foram poucas as vezes que tivemos de enfrentá-los, devido a isso, nos foros internacionais.
Como não contamos, como é o caso do México, com baixíssimos salários e o mercado norte-americano do outro lado da fronteira, para dedicar-nos à maquiagem de produtos de terceiros – o que, ao contrário do que se pensa, não gera superávit para os mexicanos - pouco nos resta a fazer a não ser investir na busca de mercados "próprios" para nossos manufaturados, como é o caso da África, da Ásia e da América do Sul.
A necessidade de dólares, principalmente por parte de nações com baixas reservas internacionais, como a Argentina e a Venezuela, tende a dificultar a expansão da venda de produtos brasileiros nesses países nos próximos anos.
Ou tomamos alguma providência, imediata, para preservar os empregos e a renda que auferimos com as exportações para o Mercosul, ou corremos o risco de perder milhões de clientes para outras regiões e países do mundo, especialmente aqueles que, como a China, possuem trilhões de dólares em reservas e podem subsidiar e financiar fortemente suas exportações.
Um dos primeiros passos seria reconhecer que eles disporão de cada vez menos dólares no futuro, e voltar a considerar o uso, já aventado antes, de moeda local em nossas trocas comerciais com os vizinhos.
Considerando-se a inflação galopante em pesos e bolívares, piorada pela desvalorização, o câmbio negro e o uso de dólares como reserva de valor, como preservar o poder de compra dessas moedas?
Trabalhando, talvez, com títulos denominados em moeda norte-americana, que pudessem ser utilizados para compra e venda de mercadorias e serviços com base na cotação do dólar na moeda do país de emissão do título, no dia de seu resgate pelo detentor.
Um "mercosul", por exemplo, valeria o equivalente a 1000 dólares em reais, pesos, bolívares, sucres etc, ao preço do dia em que fosse trocado ou convertido, para pagamento de serviços, transações comerciais ou investimento.
Esse tipo de sistema permitiria:
-- Que a Venezuela e outros países, principalmente a Argentina, diminuíssem suas barreiras à entrada de produtos brasileiros, e, ao mesmo tempo, suas crescentes importações de países de fora do Mercosul, como o México ou a China.
-- Que se multiplicassem o turismo dentro do bloco, com a diminuição da saída de pessoas – inclusive brasileiros – para outras regiões do mundo e, consequentemente, do gasto em dólares com viagens internacionais.
-- Que aumentasse a compra de imóveis, para turismo ou investimento, por cidadãos do Mercosul, nos diferentes países-membros.
-- Que se multiplicassem os investimentos em serviços, na indústria e na agricultura, evitando a imobilização de dólares e facilitando a repatriação do capital e do lucro, na própria moeda do país de origem do investimento.
-- Que se criasse, no mercado internacional, um mercado para esses títulos, com a sua troca por dólares, melhorando o acesso a moeda norte-americana por alguns desses países.
Para quem estiver ouvindo o canto das cassandras e achar que é loucura investir em países do Mercosul nos próximos anos, ou confiar em uma moeda como o peso argentino, lembramos que a Gerdau, o maior grupo siderúrgico das Américas, acaba de anunciar, esta semana, a construção de uma nova usina siderúrgica na Argentina, com recursos próprios e créditos públicos em moeda local, capacidade de 650 mil toneladas de aço, e o equivalente a quase 200 milhões de dólares em investimentos."
FONTE: escrito pelo jornalista Mauro Santayanna e transcrito no jornal online "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/132418/O-d%C3%B3lar-e-o-Mercosul.htm).
"Ou tomamos alguma providência, imediata, para preservar os empregos e a renda que auferimos com as exportações para o Mercosul, ou corremos o risco de perder milhões de clientes para outras regiões e países.
A imprensa internacional, citando a AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, destaca a "preocupação" de nossos homens de negócio, com a provável queda das vendas, neste ano, para a Argentina e a Venezuela.
Tem razão os nossos exportadores.
A Argentina e a Venezuela, vilipendiados nos últimos anos por determinados setores da mídia e do empresariado, são mercados tradicionais para nossos manufaturados, e apesar de seus problemas, as únicas nações com quem temos tido expressivos superávits, nos últimos meses, além da China.
Com a Europa e os Estados Unidos, tão incensados por esses mesmos setores da mídia e do empresariado, o déficit aumentou em mais de 100% no ano passado, e com certeza tende a se acelerar mais daqui em diante, se negociarmos em condição de fraqueza – obedecendo apenas a pressões externas e internas – o "acordo" que está sendo costurado entre o Mercosul – leia-se Brasil, em um primeiro momento - e a União Europeia.
Não satisfeitos em levar daqui, todos os anos, bilhões de dólares e de euros em remessas de lucro, os europeus – e os EUA, que querem pressionar no sentido de obter acordo semelhante – pretendem continuar vendendo cada vez mais ao nosso país e comprar cada vez menos, deteriorando as relações de troca e o preço de nossas mercadorias, para reduzir-nos, se assim o permitirmos, à mera colônia exportadora de matérias-primas que éramos até o início do século XX.
Sofremos, ao longo das últimas décadas, o efeito do protecionismo dos países do "primeiro mundo", em casos como o do aço, do suco de laranja, do frango congelado, do algodão, da carne bovina, e até mesmo do subsídio à fabricação e exportação de aviões, e não foram poucas as vezes que tivemos de enfrentá-los, devido a isso, nos foros internacionais.
Como não contamos, como é o caso do México, com baixíssimos salários e o mercado norte-americano do outro lado da fronteira, para dedicar-nos à maquiagem de produtos de terceiros – o que, ao contrário do que se pensa, não gera superávit para os mexicanos - pouco nos resta a fazer a não ser investir na busca de mercados "próprios" para nossos manufaturados, como é o caso da África, da Ásia e da América do Sul.
A necessidade de dólares, principalmente por parte de nações com baixas reservas internacionais, como a Argentina e a Venezuela, tende a dificultar a expansão da venda de produtos brasileiros nesses países nos próximos anos.
Ou tomamos alguma providência, imediata, para preservar os empregos e a renda que auferimos com as exportações para o Mercosul, ou corremos o risco de perder milhões de clientes para outras regiões e países do mundo, especialmente aqueles que, como a China, possuem trilhões de dólares em reservas e podem subsidiar e financiar fortemente suas exportações.
Um dos primeiros passos seria reconhecer que eles disporão de cada vez menos dólares no futuro, e voltar a considerar o uso, já aventado antes, de moeda local em nossas trocas comerciais com os vizinhos.
Considerando-se a inflação galopante em pesos e bolívares, piorada pela desvalorização, o câmbio negro e o uso de dólares como reserva de valor, como preservar o poder de compra dessas moedas?
Trabalhando, talvez, com títulos denominados em moeda norte-americana, que pudessem ser utilizados para compra e venda de mercadorias e serviços com base na cotação do dólar na moeda do país de emissão do título, no dia de seu resgate pelo detentor.
Um "mercosul", por exemplo, valeria o equivalente a 1000 dólares em reais, pesos, bolívares, sucres etc, ao preço do dia em que fosse trocado ou convertido, para pagamento de serviços, transações comerciais ou investimento.
Esse tipo de sistema permitiria:
-- Que a Venezuela e outros países, principalmente a Argentina, diminuíssem suas barreiras à entrada de produtos brasileiros, e, ao mesmo tempo, suas crescentes importações de países de fora do Mercosul, como o México ou a China.
-- Que se multiplicassem o turismo dentro do bloco, com a diminuição da saída de pessoas – inclusive brasileiros – para outras regiões do mundo e, consequentemente, do gasto em dólares com viagens internacionais.
-- Que aumentasse a compra de imóveis, para turismo ou investimento, por cidadãos do Mercosul, nos diferentes países-membros.
-- Que se multiplicassem os investimentos em serviços, na indústria e na agricultura, evitando a imobilização de dólares e facilitando a repatriação do capital e do lucro, na própria moeda do país de origem do investimento.
-- Que se criasse, no mercado internacional, um mercado para esses títulos, com a sua troca por dólares, melhorando o acesso a moeda norte-americana por alguns desses países.
Para quem estiver ouvindo o canto das cassandras e achar que é loucura investir em países do Mercosul nos próximos anos, ou confiar em uma moeda como o peso argentino, lembramos que a Gerdau, o maior grupo siderúrgico das Américas, acaba de anunciar, esta semana, a construção de uma nova usina siderúrgica na Argentina, com recursos próprios e créditos públicos em moeda local, capacidade de 650 mil toneladas de aço, e o equivalente a quase 200 milhões de dólares em investimentos."
FONTE: escrito pelo jornalista Mauro Santayanna e transcrito no jornal online "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/132418/O-d%C3%B3lar-e-o-Mercosul.htm).
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