segunda-feira, 17 de março de 2014

O "CARACAZO", MARCO DA LUTA POPULAR NA VENEZUELA




O “Caracazo”, marco da luta popular na Venezuela

"A doutrina do neoliberalismo, alimentada nos anos de 1980 pelo progressivo desaparecimento do campo socialista, recebeu há 25 anos na Venezuela um golpe duro que questionou sua aparente "efetividade" até então.

Políticas de ajuste estrutural, redução da despesa pública, privatização de ativos públicos e um menor papel do Estado eram vendidos como os remédios bem-sucedidos da época para qualquer situação de crise.

No entanto, na Venezuela - com um alto componente energético em sua economia -, essa teoria econômica tropeçou no dia 27 de fevereiro de 1989 com o repúdio de um povo submetido a pressões severas pelos altos níveis de pobreza.

Cabe mencionar que, a partir de 1970, a força de trabalho camponesa se reduziu drasticamente e em apenas três anos 600 mil pessoas emigraram às cidades, multiplicando assim o emprego informal.

A classe operária industrial diminuiu devido à privatização parcial ou total de setores como telecomunicações, portos, petróleo, aço e de linhas aéreas, e a força de trabalho em lugares estratégicos se reduziu.

O detonante dos acontecimentos há um quarto de século foi o "Pacote Econômico" promovido pelo governo de Carlos Andrés Pérez, verdadeiro expoente da doutrina neoliberal da época.

As medidas, desenhadas a partir das "sugestões" do Fundo Monetário Internacional (FMI), abarcaram as políticas de câmbio, social e fiscal, a dívida externa, o comércio exterior, o sistema financeiro e os serviços públicos.

Como parte da lista de exigências do FMI, o que mais se destacou foi um aumento anual, durante três anos, dos preços de produtos derivados do petróleo no mercado nacional, com um primeiro ajuste de aumento médio de 100% no preço da gasolina.

No acordo, estava incluída a subordinação a um programa sob supervisão do órgão multilateral para obter, aproximadamente, 4,5 bilhões de dólares.

Além disso, foi implementada a liberação das taxas de juros ativas e passivas em todo o sistema financeiro, até um máximo temporário fixado em cerca de 30%, junto a um aumento gradual das tarifas de serviços como telefone, água potável, eletricidade e gás doméstico.

Por outra parte, a liberação dos preços de todos os produtos, com exceção de 18 produtos da cesta básica, trouxe como consequência o desabastecimento dos principais produtos de primeira necessidade.

Precisamente no dia 26 de fevereiro de 1989, o governo ativou o pacote, com ênfase no aumento da gasolina e nas tarifas de transporte público em cerca de 30%.

Os protestos gerados um dia depois (27 de fevereiro) pela nova estrutura econômica, concentraram-se nas regiões populares, orientados à apropriação de alimentos em diversos estabelecimentos, com mais de dois mil negócios afetados.

O povo se levantou contra a burguesia comercial importadora, que durante anos vinha se apropriando de sua renda precária através de preços abusivos.

No entanto, o impacto mais negativo surgiu da resposta desproporcional dada pelas autoridades mediante o uso da força, com um saldo de vítimas fatais ainda sem quantificar.

As cifras oficiais estimavam em 300 os mortos, mas anos depois foram encontradas fossas comuns com corpos de pessoas não identificadas.

Para a Promotora Geral da República, Luisa Ortega, esses fatos constituíram uma expressão do terrorismo de Estado que prevaleceu na Venezuela durante os 40 anos de democracia representativa (1958-1998).

O chamado "Caracazo", disse, foi um fato histórico que partiu a história em duas e marcou o renascimento da Pátria.

Só com a chegada ao poder do governo revolucionário foram iniciadas investigações para determinar os responsáveis pela violência que fez do povo sua principal vítima.

Para isso, foi estabelecida a criação da "Comissão da Verdade e Justiça", encarregada de determinar as responsabilidades dos implicados em crimes de lesa humanidade durante o "Caracazo".

Atualmente, e apesar do tempo que passou, ainda está fresca a marca daquele 1989, quando um povo viveu horas históricas e se lançou espontaneamente às ruas com um só grito de liberdade."

FONTE: publicado no portal "Vermelho" com informações da Sucursal da "Prensa Latina" na Venezuela (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=237290&id_secao=7).

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