Mateus
Por José Roberto Torero
“Domingo à noite. Mateus (foto), quatro anos, assiste à tevê deitado no chão, com a cabeça numa almofada. Ele está triste, desconsolado. Seu queixo treme e ele quase chora. Mateus sofreu a primeira grande perda em sua vida. Não foi a morte de um avô ou de um cachorro. Foi a despedida de Neymar. Mateus vê o craque saindo de campo, dando entrevistas, e não entende. Por que ele vai embora se todo mundo gostava tanto dele? Por que ele vai embora se mora num prédio lindo, tem um monte de carros e a namorada dele está aqui?
Mateus tem só quatro anos e já sofre uma dor comum aos torcedores brasileiros: ver seus craques partirem.
Assim como pais que acenam no porto vendo seus filhos partirem para a guerra, os torcedores se despedem de seus ídolos sabendo que a chance de voltar é pequena. E, se voltarem, jamais serão os mesmos.
Mas como explicar para Mateus o porquê disso acontecer? Por que os neymares vão embora?
Não deve ser por dinheiro. A Espanha tem um PIB menor que o nosso. O do Brasil é o sexto do mundo, com 2,56 trilhões de dólares. O da Espanha é o décimo-segundo, com 1,49 trilhão.
Aliás, segundo os números do FMI, nosso PIB é maior que o da Itália, que o da Inglaterra, que o da Rússia, que o da Turquia e que o da Coréia do Sul. No entanto, esses países continuam levando nossos jogadores.
O motivo desse êxodo pode ser entendido no jogo de despedida de Neymar, aquele que Mateus assistiu com tristeza.
O jogo rendeu quase 6,9 milhões de reais, a maior arrecadação da história do futebol brasileiro. Mas o Santos, mandante do jogo, ficou apenas com 800 mil reais. Pouco mais de 10%. Estranho, não?
Vamos aos números. Duzentos milhões ficaram com a Federação Paulista, provavelmente o carimbo mais caro da história; 345 milhões foram para a Federação Brasiliense, que, se não me engano, não entrou em campo; e modestos quatro mil reais para o Governo do Distrito Federal.
O Santos, inacreditavelmente, vendeu o jogo à “Aoxy”, uma empresa com menos de um ano de existência, ligada aos empresários Tuca Belotti e Wagner Abraão, já conhecidos por antigos negócios suspeitos com a CBF.
Belotti, em 2006, foi citado em matéria da revista “Veja” por venda de ingressos da Copa do Mundo no mercado negro.
Abraão é mais famoso. A CPI do futebol viu que uma de suas empresas, a SBTR, teoricamente responsável pelas passagens aéreas da seleção, recebeu 31,1 milhões de reais entre 1998 e 2001. E, segundo o relatório dos senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens.
Abraão também terá que explicar por que o pagamento das cotas de patrocínio da TAM ia para as empresas “Pallas Operadora Turísticas”, “Iron Tour Operadora Turística Ltda”, “One Travel Turismo Ltda” e “Top Service Turismo Ltda”, todas de sua propriedade. Por que um dinheiro que pertence à CBF deveria ir para a conta de terceiros?
Essa “Aoxy” de Belotti e Wagner Abraão é que, descontando-se os montantes recebidos pelas duas federações, deve ficar com cinco milhões e meio de reais. E, ao que consta, a empresa não tem jogadores e não botou um real no novo estádio Mané Garrincha, que custou 1,6 bilhão de dinheiro público.
Ou seja, ganham as federações, ganham os espertos, ganha quem não tem nada a ver com o futebol em campo. E os clubes, às vezes por incompetência, às vezes por corrupção, acabam ficando com migalhas da riqueza que produzem.
Por conta disso, os neymares acabam indo embora. Por conta disso, Mateus está triste.”
Mateus tem só quatro anos e já sofre uma dor comum aos torcedores brasileiros: ver seus craques partirem.
Assim como pais que acenam no porto vendo seus filhos partirem para a guerra, os torcedores se despedem de seus ídolos sabendo que a chance de voltar é pequena. E, se voltarem, jamais serão os mesmos.
Mas como explicar para Mateus o porquê disso acontecer? Por que os neymares vão embora?
Não deve ser por dinheiro. A Espanha tem um PIB menor que o nosso. O do Brasil é o sexto do mundo, com 2,56 trilhões de dólares. O da Espanha é o décimo-segundo, com 1,49 trilhão.
Aliás, segundo os números do FMI, nosso PIB é maior que o da Itália, que o da Inglaterra, que o da Rússia, que o da Turquia e que o da Coréia do Sul. No entanto, esses países continuam levando nossos jogadores.
O motivo desse êxodo pode ser entendido no jogo de despedida de Neymar, aquele que Mateus assistiu com tristeza.
O jogo rendeu quase 6,9 milhões de reais, a maior arrecadação da história do futebol brasileiro. Mas o Santos, mandante do jogo, ficou apenas com 800 mil reais. Pouco mais de 10%. Estranho, não?
Vamos aos números. Duzentos milhões ficaram com a Federação Paulista, provavelmente o carimbo mais caro da história; 345 milhões foram para a Federação Brasiliense, que, se não me engano, não entrou em campo; e modestos quatro mil reais para o Governo do Distrito Federal.
O Santos, inacreditavelmente, vendeu o jogo à “Aoxy”, uma empresa com menos de um ano de existência, ligada aos empresários Tuca Belotti e Wagner Abraão, já conhecidos por antigos negócios suspeitos com a CBF.
Belotti, em 2006, foi citado em matéria da revista “Veja” por venda de ingressos da Copa do Mundo no mercado negro.
Abraão é mais famoso. A CPI do futebol viu que uma de suas empresas, a SBTR, teoricamente responsável pelas passagens aéreas da seleção, recebeu 31,1 milhões de reais entre 1998 e 2001. E, segundo o relatório dos senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens.
Abraão também terá que explicar por que o pagamento das cotas de patrocínio da TAM ia para as empresas “Pallas Operadora Turísticas”, “Iron Tour Operadora Turística Ltda”, “One Travel Turismo Ltda” e “Top Service Turismo Ltda”, todas de sua propriedade. Por que um dinheiro que pertence à CBF deveria ir para a conta de terceiros?
Essa “Aoxy” de Belotti e Wagner Abraão é que, descontando-se os montantes recebidos pelas duas federações, deve ficar com cinco milhões e meio de reais. E, ao que consta, a empresa não tem jogadores e não botou um real no novo estádio Mané Garrincha, que custou 1,6 bilhão de dinheiro público.
Ou seja, ganham as federações, ganham os espertos, ganha quem não tem nada a ver com o futebol em campo. E os clubes, às vezes por incompetência, às vezes por corrupção, acabam ficando com migalhas da riqueza que produzem.
Por conta disso, os neymares acabam indo embora. Por conta disso, Mateus está triste.”
FONTE: escrito por José Roberto Torero no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22116). [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].
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