APARECEU
PROPOSTA DO PSDB AO PAÍS: ARROCHAR O SALÁRIO-MÍNIMO
Por Eduardo Guimarães
“Quem se informou sobre a convenção
do PSDB que ocorreu no último sábado e que elegeu Aécio Neves seu presidente
pode pensar que a única proposta da agremiação para o Brasil resume-se à
definição do jornalista Elio Gaspari (colunista
de O Globo e Folha de São Paulo) sobre a estratégia eleitoral do partido,
que acha que, se seus eleitores ficarem com duas vezes mais raiva do PT, os
candidatos tucanos terão o dobro de votos.
Todavia, a proposta tucana de
governo não se resume a um dos governadores do PSDB –envolvido até o pescoço com o crime organizado de Goiás – chamar
Lula de “canalha” ou a outro – que o
falecido colunista do Estadão Mauro Chaves acusou tacitamente de ser
cocainômano em artigo de 28 de fevereiro de 2009 intitulado “Pó pará, governador” (*) – acusar o governo Dilma de ser “orgulhosamente incompetente”. [(*) “Estranhamente”, agora o link para esse artigo do “Estadão” não abre].
Ainda que a lenga-lenga do
pré-candidato a presidente Aécio Neves tenha se resumido a ataques e a
promessas de “fazer mais” do que a atual ocupante do Palácio do Planalto – porém, sem dar detalhe algum –, o PSDB
tem, sim, programa de governo e esse programa foi emblematicamente apresentado
por jornal ligado ao partido, em forma de editorial, poucas horas após a
convenção tucana, na tarde de sábado.
A edição dominical da “Folha de São
Paulo”, como de costume, chegou às bancas ao fim da tarde de sábado, enquanto o
PSDB ainda se autocongratulava por “feitos” durante o governo FHC que a
esmagadora maioria dos brasileiros vem rejeitando há mais de uma década. Nessa
edição, o editorial “A indústria de Dilma” anuncia, veladamente, o programa
tucano para o país caso vença a eleição presidencial do ano que vem.
Detalhe: os termos do editorial foram acertados há poucos dias entre a direção
do jornal e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com a anuência do
pré-candidato Aécio Neves.
Apesar da pouca clareza do texto
sobre o que propõe para pôr no lugar do modo petista de governar o Brasil e da
falta de informação de que tais propostas não são dos donos daquele jornal, mas
decorrentes da visão do PSDB sobre como “fazer mais” do que o PT, é possível
detectar algumas medidas que, certamente, serão adotadas caso Aécio Neves – ou algum outro tucano – vença a eleição
presidencial de 2014.
Já no quinto parágrafo do editorial
em questão, o diagnóstico é o de que haveria em nossa economia um “Descasamento entre a voracidade do consumo e as
deficiências da oferta” por conta de que “Os custos -salariais, tributários
e de logística dispararam e a produtividade estagnou”.
Haveria que perguntar ao
editorialista, que escreveu as ideias tucanas sob ordem do dono do jornal, que
tributos “dispararam”, pois o governo
Dilma não aumentou impostos e, em vez disso, vem adotando seguidas medidas para desonerar a produção via redução de impostos na folha de pagamento ou em
produtos ou em importação de máquinas e equipamentos, entre outros.
Todavia, o editorial tem razão em um
ponto: os “custos salariais”. Como se
sabe, Aécio é o candidato preferido dos grandes empresários brasileiros
justamente porque, intramuros, o PSDB promete a eles interromper o ciclo de
valorização da mão-de-obra brasileira, a qual esses empresários, a “Folha” e o
partido enxergam como “custo”.
Cheio de falácias, o editorial
ignora que a União Europeia, por exemplo, composta por 17 países, com a
retratação da economia de 0,2% no primeiro trimestre deste ano, acumula há
quinze meses consecutivos o período recessivo mais longo de sua história e,
assim, o texto acusa o governo Dilma pelo crescimento modesto de 2012 – que, de qualquer forma, foi positivo –
em meio à maior e mais duradoura crise econômica mundial que já se viu.
A conhecida retórica do PSDB que a “Folha”
transformou em editorial afirma que “Em nenhum setor os problemas são
mais evidentes do que na indústria, cuja produção está no mesmo nível de 2007” porque “O país perdeu a capacidade de competir nos mercados globais”.
Tudo bobagem. Não é “O país” que “Perdeu capacidade de competir”; o mundo é que está estagnado.
Assim mesmo, o crescimento de 1,05%
do Brasil no primeiro trimestre projeta neste ano evolução do PIB três ou
quatros vezes maior do que a do ano passado e, na pior das hipóteses, o
primeiro governo Dilma Rousseff deve terminar com crescimento médio igual ou
até melhor do que o obtido pelo PSDB durante seu governo de oito anos, porém
com inflação média bem mais baixa, sem o desemprego galopante da era tucana,
com distribuição de renda que FHC não deu ao país e com salários e renda das
famílias mais altos da história.
O editorial, ao sair do diagnóstico
mambembe e partir para proposituras, diz que “Como o avanço brasileiro enxugou a ociosidade no
mercado de trabalho, não há saída para acelerar o crescimento sem aumento da
produtividade” e
que “A reindustrialização do país
precisa ter como ponto focal um modelo de crescimento mais equilibrado e
sustentável”
A “Folha” acerta no “detalhezinho”
sobre “Enxugar a
ociosidade no mercado de trabalho” – tradução para a situação
de pleno emprego no Brasil que é invejável em todo o mundo, sobretudo nos
países ricos, nos quais a taxa de suicídios causados pelo desemprego não para
de subir.
Todavia, que diabo seria esse “Modelo de crescimento mais
equilibrado e sustentável” que o PSDB inseriu no
editorial da “Folha”?
Aqui volta à cena o recém-anunciado
apoio de 66% dos grandes empresários à candidatura tucana à Presidência. O
editorial, enfim, revela o que o PSDB fará se voltar ao poder. E não é nada
bonito, ao menos para o povo brasileiro. Leia, abaixo, o assustador trecho que
revela qual é o programa econômico com que esse partido pretende governar.
“O ajuste macroeconômico implica
reduzir o crescimento das despesas públicas abaixo do avanço do PIB, com o fim
da política de correção do salário mínimo acima da inflação, controle de gastos
previdenciários e limites legais para gastos de custeio e dívida federal”
Por certo, na campanha eleitoral de
2014, o PSDB irá poupar o eleitorado da informação de que irá arrochar o salário
mínimo e desidratar os gastos do governo em programas sociais como o “Bolsa
Família” e tantos outros, pois é disso que o editorial trata quando prega “Redução de despesas públicas” e “Controle de gastos previdenciários”.
Mas o que impressiona mesmo – e assusta – é a proposta
tucano-folhática de interrupção da política pública que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), tem tido o maior peso na redução
das desigualdades: a valorização do
salário-mínimo que vem ocorrendo de fato no Brasil só depois que o PT chegou ao
poder, em 2003.
O editorial, porém, tem um mérito: mostrou ao PT o que deve ser denunciado ao
povo brasileiro no ano que vem, quando os tucanos e a mídia tentarão aplicar
mais um estelionato eleitoral no país, a exemplo daquele que praticaram em
1998, quando prometeram que Fernando Henrique Cardoso não desvalorizaria o
real, caso fosse reeleito, e que a desvalorização só ocorreria se Lula vencesse.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em
seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/05/apareceu-a-proposta-do-psdb-para-o-pais-arrochar-o-salario-minimo/). [Imagem do google (a 2ª) acrescentada por este blog 'democracia&política'].
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