domingo, 5 de julho de 2015

O VERDADEIRO NÓ DAS CONCESSÕES


                  Aeroporto de Brasília

         Aeroporto de Viracopos, Campinas

O VERDADEIRO NÓ DAS CONCESSÕES

Por LEONARDO ATTUCH

"Quem vai investir se os chefes das duas maiores empreiteiras estão presos antes mesmo da denúncia, e se todos que atuaram na primeira fase do programa [de investimentos e concessões] também foram encarcerados?

A missão do governo brasileiro aos Estados Unidos trouxe algumas boas notícias, como a abertura do mercado para a exportação de proteína animal, a aceleração na concessão dos vistos, um bom acordo na área ambiental e o reconhecimento feito pelo presidente Barack Obama do papel do Brasil não apenas como potência regional, mas também global. Em resumo, houve o relançamento da relação bilateral, abalada desde o escândalo de espionagem da NSA, mas o que poderia ser a principal conquista da viagem – a atração de investidores para o programa de concessões em infraestrutura – não veio.

Não que tenha faltado empenho dos ministros liderados por Dilma Rousseff. O ponto é que as concessões esbarram num nó aparentemente intransponível. Qualquer empresário, do Brasil ou dos Estados Unidos, que esteja minimamente familiarizado com o noticiário daqui há de pensar: qual é a segurança para se investir num país onde os dois maiores empresários são presos – e aparentemente por um bom período – antes mesmo de terem sido denunciados?

Não se discute aqui a culpa ou a inocência de Marcelo Odebrecht, dono da construtora que leva seu sobrenome, e de Otávio Azevedo, presidente da 'Andrade Gutierrez'. A 'Odebrecht', por exemplo, levou a concessão do Aeroporto do Galeão, ao lado da empresa 'Changi', que administra o melhor aeroporto do mundo, o de Cingapura, pagando R$ 19 bilhões, com ágio de 293,6% – algo curioso para um chefe de cartel. A 'Andrade' levou Confins, com ágio de 66%, ao lado de empresas da Alemanha e da Suíça. Isso sem falar na 'UTC', que reformou Viracopos, em Campinas (SP), na 'OAS', hoje em recuperação judicial, que construiu o novo aeroporto internacional em Guarulhos (SP), e na 'Engevix' que ergueu em tempo recorde o novo terminal de Brasília. Ou seja: todos que entraram no primeiro pacote de concessões e fizeram belíssimas obras terminaram presos.

Se isso não bastasse, já se anunciou que, em suas próximas fases, a 'Lava Jato' avançará sobre obras do setor elétrico como 'Belo Monte' e 'Angra 3'. Ou seja: a construção, antes tida como um setor de vanguarda da economia brasileira, foi simplesmente aniquilada. As empresas brasileiras já foram rebaixadas por agências de risco e sua fragilidade, financeira e de imagem, será explorada por concorrentes internacionais. 


                     Usina Belo Monte


Por mais que a ânsia punitiva, que encarcera empresários por longos invernos antes mesmo [de provas de culpa e] dos julgamentos, seja comemorada por determinados setores da sociedade, a conta será paga pelas futuras gerações na forma de desemprego e desinvestimento. Infelizmente, a guerra política cegou a elite brasileira, que hoje assiste indiferente ao desmantelamento de suas principais empresas."

FONTE: escrito por Leonardo Attuch, jornalista, idealizador do portal "247" e autor dos livros "Saddam, o amigo do Brasil", "Quebra de contrato", "A CPI que abalou o Brasil" e "Eike: o homem que vendia terrenos na lua". Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/187569/O-verdadeiro-n%C3%B3-das-concess%C3%B5es.htm). [Imagens do google e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

Nenhum comentário: