sexta-feira, 30 de março de 2012

Elio Gaspari: A CACHOEIRA DE DEMÓSTENES TORRES


Por Elio Gaspari, na “Folha de São Paulo"

COMO DIRIA GILMAR MENDES, O PROBLEMA DO SENADOR ESTÁ EM SE DISTINGUIR O “VEROSSÍMIL” DO “VERDADEIRO”

“Demóstenes Torres, ex-líder do DEM no Senado, foi delegado de polícia, promotor e secretário de Segurança de Goiás. Fosse um frade, seria possível dizer que se aproximou do contraventor Carlinhos Cachoeira “por amor ao próximo”. No ano passado, aceitou um fogão e uma geladeira (importados) de presente de casamento. Vá lá que, pela sua etiqueta, "a boa educação recomenda não perguntar o preço nem recusá-los". Em 2009, Demóstenes recebeu de Cachoeira um aparelho Nextel, habilitado nos Estados Unidos, e utilizava-o para conversar [secretamente] com o amigo, sem medo de grampos. Segundo um relatório da Polícia Federal, as chamadas contam-se às centenas [em dois meses]. Isso e mais um pedido de R$ 3.000 “para quitar uma conta de táxi aéreo”. Geladeira e fogão são utensílios domésticos. Rádios com misturador de voz para preservar conversas com um contraventor cujas traficâncias haviam derrubado, em 2004, o subchefe da assessoria parlamentar da Casa Civil da Presidência da República, são outra coisa.

Em 2008 (e não em 2009, como o signatário informou no domingo), o senador foi personagem da [estranhíssima e sem provas] denúncia de “um grampo onde teriam capturado uma conversa sua com o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes”. A acusação custou o cargo ao diretor da Agência Brasileira de Informações, delegado Paulo Lacerda.

Gilmar Mendes [então Presidente do STF], cuja enteada é hoje funcionária do gabinete do senador, disse na ocasião que o país vivia "um quadro preocupante de crise institucional". [Sem intenção, disse na ocasião a imprensa, o também estranho ministro Jobin (MD) colocou mais fogo na fogueira do impeachment de Lula (desejado pela oposição e mídia) ao declarar que a ABIN tinha equipamentos para grampos].

As investigações da Polícia Federal em torno das atividades de Carlinhos Cachoeira haviam começado em 2006. Uma sindicância da ABIN e outra da PF não conseguiram chegar à origem do grampo [nem a indício de ter havido], cujo áudio jamais apareceu. Gilmar Mendes disse, posteriormente, que "se a história não era verdadeira, era extremamente “verossímil".

O futuro do senador Demóstenes está pendurado na distância que separa o verdadeiro do verossímil. O verdadeiro só aparecerá quando ele e a patuleia tiverem acesso a toda a documentação reunida pela Polícia Federal. Nesse sentido, não é saudável que seja submetido à tortura dos vazamentos administrados [apesar de que assim, de modo não-saudável, Demóstenes, a oposição e a mídia têm agido nos últimos nove anos, nos casos de qualquer suspeita, real ou plantada, contra integrante do governo federal, mesmo que totalmente infundadas]. (Paulo Lacerda foi detonado por um deles e não se descobriu quem o administrou). Se o negócio é verossimilhança, o senador está frito.”

FONTE: escrito por Elio Gaspari, na “Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/33866-a-cachoeira-de-demostenes-torres.shtml) [Imagem do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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