sexta-feira, 30 de março de 2012

PSDB CENSURA REVISTA PRIVADA E DEMITE REPÓRTER QUE NÃO ABAFOU CRIMES TUCANOS


Repórter Celso de Castro Barbosa, à revista “CartaCapital”:  “FUI CENSURADO E INJURIADO”

Reportagem de Gabriel Bonis, em “CartaCapital” [recém-chegada às bancas]:

“A demissão de dois profissionais da revista de História [da não-governamental “Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional”-SABIN] semanas após a publicação de uma resenha favorável ao livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr – fato que despertou a ira de parlamentares do PSDB, alvo de denúncias na obra – colocou o veículo no centro de uma polêmica sobre suposta intervenção do partido no caso. A demissão foi apontada na imprensa na coluna do jornalista Elio Gaspari, na “Folha de S. Paulo”, da quarta-feira 28. [ver postagem imediatamente anterior a esta, abaixo, neste blog 'democracia&política'].

Publicado em 24 de janeiro, o texto do jornalista Celso de Castro Barbosa [ver na íntegra, mais adiante, sob o título “O JORNALISMO NÃO MORREU”] foi alvo críticas de tucanos, que liderados pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), ameaçaram processar a publicação, editada pela “Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional” (SABIN) e que, da Biblioteca Nacional, recebe apenas material de pesquisa e de iconografia [como qualquer cidadão pode solicitar e receber da Biblioteca].

Como resultado, a revista retirou a resenha do ar. “Fui censurado e injuriado”, diz o jornalista em entrevista a “CartaCapital”.

Barbosa destaca que a remoção do texto ocorreu apenas “após o chilique do PSDB” em 1º de fevereiro, nove dias depois da publicação em destaque na primeira página do site da revista. O motivo seria uma nota divulgada em um jornal carioca, segundo a qual a cúpula do partido estava “possessa” com a revista, tida [erradamente] pela legenda como “do governo”.

A evidente pressão externa fez com que o jornalista recebesse um chamado do editor-chefe da publicação, Luciano Figueiredo, naquele mesmo dia. “Ele [Figueiredo] disse concordar com quase tudo que havia escrito, mas o Gustavo Franco [ex-presidente do Banco Central no governo FHC] leu, não gostou e resolveu mobilizar a cúpula tucana.”

Para conter o movimento, relata, o editor-chefe se comprometeu a escrever uma nota assumindo a culpa pela publicação do texto. “Eu disse: ‘Culpa de que? Ninguém tem culpa de nada. É uma resenha de um livro.’”

No dia seguinte, o diário “O Globo” destacou a história e um pronunciamento da SABIN a dizer que os textos da revista são analisados pelos editores, mas aquela resenha não havia sido editada. “Subentende-se que publiquei por minha conta”, ironiza Barbosa.

Por outro lado, em matéria publicada na terça-feira 27 no site do “Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro”, dois editores da revista, Vivi Fernandes de Lima e Felipe Sáles, desmentem a SABIN e confirmam ter editado a resenha antes da publicação no site.

CRÍTICAS A SERRA

O texto de Barbosa destaca a vivacidade do jornalismo investigativo no livro e sugere que José Serra esteja “morto”. O ex-governador de São Paulo também é citado como a figura com a “imagem mais chamuscada” pelas denúncias, além de questionar a origem de seu patrimônio.

Inconformado com a resenha, Sergio Guerra chegou a enviar cartas de protesto à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e a Figueiredo. Outros tucanos alegaram [erradamente] que a publicação “era pública”, trazia os nomes da presidenta Dilma Rousseff, e de Hollanda no expediente e recebia verba da Petrobrás. Logo, deveria se manter isenta de questões políticas. Mas Barbosa destaca que a dona da revista é a SABIN. “Uma entidade privada, composta inclusive por bancos.”

O patrocínio, defende, não seria impedimento para a manifestação de opiniões no veículo. “Não está escrito na Constituição que em revista patrocinada [também] pela Petrobras a manifestação contra eventuais adversários do governo é proibida.”

A revista, por outro lado, preferiu divulgar nota pedindo desculpas aos ofendidos pelo texto, além de alegar não defender “posições político-partidárias”.

Em meio ao ocorrido, Barbosa afirma ter sido ameaçado com um processo por Guerra e, após a pressão dos tucanos, seus editores avaliaram que seria melhor que trabalhasse em casa.

Devido à situação, o jornalista revela ter questionado o posicionamento de Figueiredo em um email aberto à redação, no qual perguntava sobre a nota que o editor-chefe escreveria em seu apoio. “Ele escreveu uma nota mentirosa e deu para o presidente da SABIN assinar. Depois, em 29 de fevereiro, me demitiu.”

Sobre a reação tucana, Barbosa acredita que o partido [PSDB] poderia ter agido de outra forma. “Vivemos em um país livre e a Constituição me garante o direito à opinião.”

O jornalista se refere a declarações de parlamentares do PSDB, que o chamaram de “servidor público a favor do aparelhamento do Estado”. “Se há algum erro no tom, é deles [tucanos], não meu. [Não sou servidor público e] sequer tinha carteira assinada, e cumpria jornada sem direito trabalhista.”

Um dos motivos pelo qual Barbosa processa a revista: “Na ação, também peço indenização por danos morais e uma retratação pela nota mentirosa.”

Procurada, a SABIN informou, via nota assinada pelo presidente da instituição, Jean-Louis Lacerda Soares, que “não interfere no conteúdo editorial da revista”, pois a “atribuição relacionada ao conteúdo é do Conselho Editorial”.

A sociedade nega ter sofrido interferência externa nas demissões e diz que o jornalista Celso de Castro Barbosa foi demitido pelo então editor Luciano Figueiredo, por sua vez, dispensado “exclusivamente por razões administrativas.”

A reportagem de “CartaCapital” também contatou Luciano Figueiredo por meio da assessoria de imprensa da “Universidade Federal Fluminense”, instituição na qual leciona [em regime de dedicação integral, exclusiva, segundo Castro Barbosa], e foi informada de que o historiador não poderia dar entrevistas.

Outra tentativa foi realizada por email, mas não houve resposta do professor até o fechamento desta reportagem.”

A seguir, o texto censurado pelo PSDB:


O JORNALISMO NÃO MORREU

Privataria Tucana” prova que a reportagem de investigação está viva e José Serra, aparentemente, morto

Celso de Castro Barbosa

"Engana-se quem imagina morta a reportagem de investigação no Brasil. Embora os jornalões, revistas semanais e emissoras de TV emitam precários sinais vitais do gênero, ele está vivíssimo, como prova “A Privataria Tucana”, livro do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.


Lançado em dezembro e recebido pela grande imprensa com estridente silêncio, seguido de críticas que tentaram desqualificar a reportagem e o autor, o sucesso do livro, já na terceira edição e no topo das listas dos mais vendidos, não se deve a suposto sentimento antitucano. Até porque os fatos objetivos relatados não poupam o PT. Não há santos na “Privataria”.


Com base em documentos oficiais, da CPI do Banestado e em outros que o autor conseguiu em cartórios, Amaury torna pública a relação de dirigentes do PSDB e a abertura de contas no exterior de empresas de fachada, responsáveis pelo retorno ao Brasil do dinheiro sujo da corrupção. Dinheiro que voltou, naturalmente, limpo.


Muita gente deve explicações à Justiça que, nesse episódio como em outros envolvendo expressivos representantes da elite brasileira, move-se a passos de tartaruga. Ou simplesmente não se move. Pelo cargo que ocupou na época das tenebrosas transações, as privatizações da era FHC, José Serra, então ministro do Planejamento e depois duas vezes candidato à presidência, prefeito e governador de São Paulo, é quem tem a imagem mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da “Privataria Tucana”.


De origem humilde, o tucano paulista exibe patrimônio incompatível com os rendimentos de um político. Tudo em nome de sua filha, Verônica, que, ao lado de Ricardo Sérgio, tesoureiro das campanhas de Serra e Fernando Henrique, emergem como principais parceiros do ex-governador no propinoduto que marcou a venda das empresas de telecomunicação.


Além de jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos, o livro de Amaury tem ainda o mérito de questionar, involuntariamente, a atuação da grande imprensa no país. Agindo como partido único, onde só é permitida uma única opinião, jornais, revistas e mídia eletrônica defenderam, com unhas e dentes, a privatização. O principal argumento era a vantagem que traria aos consumidores: eficiência e tarifas baixas por causa da concorrência. Passados mais de dez anos, o Brasil cobra tarifas de telefone das mais altas do planeta e as concessionárias são campeãs de reclamação nos Procons.


Não bastasse, ao ignorar o lançamento do livro, a imprensa hegemônica mostra sua face semelhante à dos piratas: um olho tapado, que nada vê, e outro atento à movimentação dos adversários.”

FONTE: reportagem de Gabriel Bonis, na revista “CartaCapital”. Transcrita no portal “Viomundo”  (http://www.viomundo.com.br/denuncias/celso-de-castro-barbosa-a-cartacapital-%e2%80%9cfui-censurado-e-injuriado%e2%80%9d.html) [Título, imagens do Google e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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