A MELANCOLIA DA ELITE INTELECTUAL
"FHC saiu derrotado, com o rabo entre as pernas, como o político mais repudiado pelo povo brasileiro".
Por Emir Sader
"Patético ver intelectuais melancólicos diante do Brasil de hoje. Uma parte deles, chegou à euforia quando FHC foi eleito. "Se alguém pode aplicar esse modelo com políticas sociais, será ele"- afirmou um deles. "Não preciso escolher entre Pelé e Garrincha"- disse outros, que fez campanha pelo Lula, mas correu assumir um ministério do no governo FHC, não sem antes anunciar "uma nova revolução democrática no Brasil".
Era a projeção dos sonhos da intelectualidade paulista e da que se identifica com ela, como a elite da elite da elite brasileira. FHC chegava derrotando a esquerda, com uma bandeira que dava cores de modernização a um programa conservador. Propondo-se a "virar a pagina do getulismo" – melhor ainda, menos Estado, nada de populismo, fora sindicalistas, petistas, Lula, partidos de esquerda.
O diário da Barão de Limeira inaugurou um caderno especial – A "Era FHC". Não precisou emprestar carros para o seu governo, mas emprestou todos os seus espaços e seu "dom de iludir".
FHC saiu derrotado, com o rabo entre as pernas, como o político mais repudiado pelo povo brasileiro. Seus adeptos se refugiaram na melancolia. O diário da Barão de Limeira foi tirando do ar o caderno da "Era FHC", sem nem noticiar seu fim e as razões. Seria um hara-kiri, da mídia e da elite paulista.
Para mal dos pecados, aquele governo foi substituído justamente por Lula e pelo PT – os inimigos que FHC pretendia ter derrotado, para o orgasmo da elite melancólica. O que fazer, além de esperar o fracasso do governo despreparado para governar? Se até FHC fracassou, o que o governo reservaria para o Lula?
Primeiro, as denúncias – misturadas, entre a direita e a ultraesquerda – da "traição" do Lula. Se confirmaria que, para governar, Lula teria que abandonar tudo o que a esquerda pregava. Teria que seguir a política econômica do FHC e sair como "traidor" do povo brasileiro, desmascarado. Derrota da esquerda por décadas.
O "mensalão" era a prova que faltava: além de incompetente, o novo governo assaltava o Estado e seria derrubado com a pecha de corrupto. Banquete que de novo unia a direita com a ultraesquerda, tendo como inimigos o governo Lula e o PT. Salivavam as elites melancólicas diante da perspectiva de limpar o campo e poder governar por décadas sem a moléstia da esquerda, do Lula, do PT e do movimento popular.
O que fazer diante do sucesso do Lula, dentro e fora do Brasil? Diante da sua capacidade para eleger e reeleger sua sucessora? Refugiar-se na melancolia. Dizer que tudo está ruim no Brasil, prestes a explodir. Que o povo se vendeu por bolsas família, por Minha Casa, minha vida, por empregos, salários etc etc.
Fazer o discurso escatológico de que o mundo está pior do que nunca, que o Brasil vai para o brejo, que o povo nunca aprende, que tudo pode ainda ficar pior se o Lula voltar em 2018. E refugiar-se também nos espaços que a direita lhes reserva para esses lamentos na sua mídia.
Desencontrados do Brasil que melhora, da América Latina que avança – na contramão dos seus queridos EUA e Europa – só lhes resta um final resignado e resmunguento. Procurar algum candidato ou deputada que possa fazer alguma sombra ao governo. Porque ver triunfar ao Lula, ao PT, à esquerda, ao governo, é a estação final e melancólica da elite intelectual da nova direita."
FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader e publicado no site "Carta Maior" (http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/A-melancolia-da-elite-intelectual/2/29244). [Título e imagem do google adicionados por este blog 'democracia&política'].
"FHC saiu derrotado, com o rabo entre as pernas, como o político mais repudiado pelo povo brasileiro".
Por Emir Sader
"Patético ver intelectuais melancólicos diante do Brasil de hoje. Uma parte deles, chegou à euforia quando FHC foi eleito. "Se alguém pode aplicar esse modelo com políticas sociais, será ele"- afirmou um deles. "Não preciso escolher entre Pelé e Garrincha"- disse outros, que fez campanha pelo Lula, mas correu assumir um ministério do no governo FHC, não sem antes anunciar "uma nova revolução democrática no Brasil".
Era a projeção dos sonhos da intelectualidade paulista e da que se identifica com ela, como a elite da elite da elite brasileira. FHC chegava derrotando a esquerda, com uma bandeira que dava cores de modernização a um programa conservador. Propondo-se a "virar a pagina do getulismo" – melhor ainda, menos Estado, nada de populismo, fora sindicalistas, petistas, Lula, partidos de esquerda.
O diário da Barão de Limeira inaugurou um caderno especial – A "Era FHC". Não precisou emprestar carros para o seu governo, mas emprestou todos os seus espaços e seu "dom de iludir".
FHC saiu derrotado, com o rabo entre as pernas, como o político mais repudiado pelo povo brasileiro. Seus adeptos se refugiaram na melancolia. O diário da Barão de Limeira foi tirando do ar o caderno da "Era FHC", sem nem noticiar seu fim e as razões. Seria um hara-kiri, da mídia e da elite paulista.
Para mal dos pecados, aquele governo foi substituído justamente por Lula e pelo PT – os inimigos que FHC pretendia ter derrotado, para o orgasmo da elite melancólica. O que fazer, além de esperar o fracasso do governo despreparado para governar? Se até FHC fracassou, o que o governo reservaria para o Lula?
Primeiro, as denúncias – misturadas, entre a direita e a ultraesquerda – da "traição" do Lula. Se confirmaria que, para governar, Lula teria que abandonar tudo o que a esquerda pregava. Teria que seguir a política econômica do FHC e sair como "traidor" do povo brasileiro, desmascarado. Derrota da esquerda por décadas.
O "mensalão" era a prova que faltava: além de incompetente, o novo governo assaltava o Estado e seria derrubado com a pecha de corrupto. Banquete que de novo unia a direita com a ultraesquerda, tendo como inimigos o governo Lula e o PT. Salivavam as elites melancólicas diante da perspectiva de limpar o campo e poder governar por décadas sem a moléstia da esquerda, do Lula, do PT e do movimento popular.
O que fazer diante do sucesso do Lula, dentro e fora do Brasil? Diante da sua capacidade para eleger e reeleger sua sucessora? Refugiar-se na melancolia. Dizer que tudo está ruim no Brasil, prestes a explodir. Que o povo se vendeu por bolsas família, por Minha Casa, minha vida, por empregos, salários etc etc.
Fazer o discurso escatológico de que o mundo está pior do que nunca, que o Brasil vai para o brejo, que o povo nunca aprende, que tudo pode ainda ficar pior se o Lula voltar em 2018. E refugiar-se também nos espaços que a direita lhes reserva para esses lamentos na sua mídia.
Desencontrados do Brasil que melhora, da América Latina que avança – na contramão dos seus queridos EUA e Europa – só lhes resta um final resignado e resmunguento. Procurar algum candidato ou deputada que possa fazer alguma sombra ao governo. Porque ver triunfar ao Lula, ao PT, à esquerda, ao governo, é a estação final e melancólica da elite intelectual da nova direita."
FONTE: escrito pelo cientista político Emir Sader e publicado no site "Carta Maior" (http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/A-melancolia-da-elite-intelectual/2/29244). [Título e imagem do google adicionados por este blog 'democracia&política'].
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