segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MARINA, UM PROBLEMAÇO PARA O PT

[Há muito tempo já se evidenciou a afinidade de Marina com a direita neoliberal]

Por Gilberto Maringoni

"Marina não é de esquerda. Não bastassem as suas acusações de "chavismo" ao atual governo, seu fundamentalismo religioso provavelmente a coloca à direita de Aécio Neves. Ambos devem ter o mesmo programa econômico – produzido por inquilinos da "Casa das Garças" e órfãos de FHC – com uma diferença: até aqui, Aécio não fala em ensinar criacionismo nas escolas e nem se coloca contra avanços nos costumes.

Mas essa seguramente é opinião de um setor minoritário da população. Para a maioria, Marina foi ministra do Meio-ambiente de Lula, defende a natureza e saiu do governo por causa da "velha política" (algo tão indefinível quanto "rede sustentabilidade"). Além disso, ela e Eduardo Campos foram ministros e aliados de primeira hora da gestão petista.

Todos integrariam um condomínio político semelhante e representam – aos olhos das maiorias – um racha no campo progressista.

COMO DIFERENCIAR?


 Como se diferenciarão as candidaturas de Dilma e Marina/Eduardo Campos em 2014?

 Tudo indica que não será pelo contraste político. A postulante petista não poderá falar que o PSB tem como aliados Bornhausen, Heráclito Fortes e Paulo Skaf, integrantes da fina flor da direita brasileira. A aliança petista com Sarney, Collor, Sérgio Cabral, Blairo Maggi, Paulo Maluf e Katia Abreu (para não falar de Gleici Hoffmann, Paulo Bernardo e José Eduardo Cardozo) deixarão a presidente sem argumentos, se for retrucada à altura.

Zero a zero até aí.

No segundo turno de 2010, Dilma atacou pesadamente seu oponente José Serra [porém, bem mais suave e civilizada do que os baixos ataques de Serra] , em debate pela TV Bandeirantes. Acusou-o de ser privatista e de planejar vender o pré-sal. Eleita, ela rendeu-se à fúria privatizante [porém, diferentemente dos demotucanos, sem passar a propriedade e por valores ínfimos do que está privatizando] – estradas, portos e aeroportos - e quer passar nos cobres parte do pré-sal .

Jogo empatado.

Lula, na semana passada, deu mais uma contribuição à geleia política. Afirmou que o projeto do PT para a Constituição de 1988, "se tivesse sido aprovado, certamente tornaria o país ingovernável". E detalhou os motivos: "O PT queria um texto mais avançado, contemplando reforma agrária, estabilidade no emprego, imposto sobre fortuna, criação do Ministério da Defesa". Ou seja, uma plataforma democrática básica, segundo o ex-presidente, tornaria o país "ingovernável".

É mais menos o que dizia José Sarney, em 1988, e o empresariado nacional nos anos seguintes.

MARQUETAGEM

 A diferença em 2014 será também marcada por quem tiver o marqueteiro mais competente (e mais caro). A julgar pelas arrecadações de campanha de três anos atrás, Dilma levará a melhor nesse quesito.

A presidenta poderá alardear os êxitos dos governos petistas em elevar salários e manter a estabilidade da moeda. Mas estará discursando sobre o passado, enquanto campanhas pedem mais. Pedem planos para o futuro.

Eduardo Campos [que surfa nos grandes investimentos feitos por Lula e Dilma em Pernambuco] não exibe conteúdo algum em suas falas. Ninguém sabe ao certo o que pensa da vida. Mas sempre que pode, propaga que fará "mais" e "diferente". Numa campanha esvaziada de demarcações claras, é um começo.

ECONOMIA E PROTESTOS


 Um componente importante da disputa de 2014 estará largamente pautado pelo desempenho da economia e pela volta ou não das manifestações de junho [a mídia, as elites, a oposição, desesperadas, como último cartucho,  farão campanha pela volta das manifestações e vandalismos, especialmente empanando o evento da Copa do Mundo] .

Apesar do crescente déficit externo, nada parece indicar uma queda abrupta nas expectativas. Emprego, renda e inflação seguem estáveis. O governo escolheu a senda da contração – através da agressiva política de elevação dos juros básicos – e devemos ter mais um ano de PIB medíocre. Mas não um solavanco, como em 2009.

Uma nova explosão social às portas das eleições (na época da Copa, por exemplo) pode ter efeito devastador para a candidatura oficial. Mas aqui adentramos, por enquanto, no terreno do imponderável.

SAÍDA PELA ESQUERDA?

 O 1º. vice-presidente do PSB, Roberto Amaral,
em entrevista à "Carta Maior", afirmou sobre a candidatura Eduardo Campos (possivelmente extensiva hoje à Marina) que "a minha expectativa é que ele seja uma pontuação à esquerda da candidatura da Dilma. Uma oposição pela esquerda". 

 Se for verdade, a postulação Marina/Campos poderá ter algumas consequências importantes na conjuntura eleitoral:

  A. Tornará o apoio do PMDB ainda mais vital para o PT. Com isso, teremos uma bolha especulativa no preço do apoio da agremiação de Michel Temer;
 B. Pode forçar alguma definição política entre as candidaturas.
 C. Mandará para o limbo as pretensões do PSDB e seu candidato.
 D. Uma postulação mais à esquerda, com maior nitidez, pode se destacar.

Até aqui, Dilma tem ampla vantagem. O que se desenha agora é um possível segundo turno. Mas há muito tempo pela frente."

FONTE: escrito por Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC. Doutor em história pela Universidade de São Paulo, é autor de "A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez" (Editora Fundação Perseu Abramo).". Artigo publicado no site "Carta Maior"   (
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6306). [Imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

Nenhum comentário: