sexta-feira, 2 de maio de 2008

AFINAL, FOI BOM OU RUIM O “INVESTMENT GRADE”?

Li hoje no Jornal do Brasil que os investimentos no Brasil duplicarão. Que a elevação a grau de investimento vai, no mínimo, duplicar o volume de recursos externos atraídos pelo Brasil. Que analistas ouvidos pelo correspondente do JB em Nova York, Osmar Freitas Jr., prevêem que mais de US$ 60 bilhões serão captados dos americanos. E que, na onda da credibilidade do país, o Banco Mundial pôs US$ 7 bilhões a disposição até 2011 para financiar projetos de infra-estrutura. Enquanto isso, a Bovespa comemora a melhor rentabilidade do mundo”.

Contudo, as postagens do jornalista de economia Luis Nassif ontem e hoje em seu blog (ver coluna “recomendamos”, à direita), me confundiram. Ele amedronta-nos com os malefícios de o Brasil ter sido elevado a “investment grade” pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, na quarta-feira (30/04).

Muitos outros artigos publicados hoje na grande mídia me confundiram.

Na melhor das hipóteses, as matérias são positivas apenas quando afirmam que são o PSDB, o DEM e FHC os merecedores dos aplausos.

Se foi assim ruim, penso que, como corolário, seria melhor o Brasil ter baixo crescimento econômico não-sustentável, a macro-economia não consolidada, inflação alta, débeis resultados fiscais e uma relação dívida/PIB elevada e em alta. Assim, não sofreríamos todos esses males que nos apontam com o “investment grade”. Foram os contrários desses parâmetros que pesaram na promoção do Brasil.

É lógico que isso seria um absurdo.

Confortou-me ler hoje no blog “Cidadania” (ver em “recomendamos”) um texto postado no final da noite de ontem que expõe o mesmo conflito que as notícias me estavam trazendo.

Vejamos o artigo de Eduardo Guimarães:

EXPORTADORES CHORÕES

“Está surgindo uma visão negativista sobre a nota grau de investimento recém-concedida à economia brasileira que está ganhando expressão. Essa visão, no entanto, não é produto da luta política entre governo e oposição. Ela decorre de interesses contrariados.

A teoria ganhou corpo no blog do Luis Nassif. Impressiona ver um jornalista sério e que está entre os que mais entendem de economia no país dizer, com todas as letras, que a melhora na classificação de risco constitui uma ameaça que certamente nos colocará em crise econômica.

A teoria, trocando em miúdos, é a seguinte: com o grau de investimento, os títulos brasileiros tornam-se ainda mais atrativos e rentáveis por conta de juros internos incompatíveis com uma economia segura. Vem, então, uma enxurrada de dólares para a ciranda financeira e para investimentos de médio e longo prazos, de maneira que o preço da moeda americana desaba de vez junto com as exportações e termina por gerar uma grave crise cambial.

Nassif não faz a previsão nem no condicional. Dá até prazo para a desgraça ocorrer: fim de 2010 ou começo de 2011.

Na canoa dele embarcam leitores antipetistas esquizofrênicos que querem ver o país no buraco para verem suas teorias sobre o "mau" governo Lula se concretizarem. Falam como se tivéssemos sido atingidos por uma bomba. Estão todos errados: governo, investidores, agências de classificação de risco...

A teoria chega ao ponto de dizer que o grau de investimento faria parte de um plano de especuladores para darem uma bela mordida na economia brasileira e se escafederem.

Não questiono os motivos do Nassif. Ele tem batido nessa tecla do câmbio apreciado faz muito tempo. Aliás, nessa questão ele concorda com o PIG, que se já não acreditava em si mesmo no que tange o desastre cambial, agora, com a benção do deus mercado à economia brasileira, terá que se esforçar para afetar um mínimo de convicção.

Algumas disparidades nas contas externas são perfeitamente compreensíveis num momento de excepcional aumento do consumo interno e, portanto, das importações. Daí a vislumbrar uma crise cambial em cerca de dois anos, vai uma distância enorme.

Esse alarmismo é antigo e sempre foi entoado pelos exportadores desde que me conheço por gente. Cantam essa modinha quando deixam de contar com o artifício do câmbio e têm que investir em tecnologia e produtividade para compensar a diminuição da remuneração cambial.

O grau de investimento trará dólares e investimentos estrangeiros em volume, e assim, num primeiro momento, poderá provocar alguma apreciação do real, mas não será o que irá paralisar nossas exportações. Essa cantilena estou ouvindo há anos. Enquanto isso, o Brasil veio acumulando reservas sem parar.

Essa teoria do caos parte do princípio de que o governo ficará de braços cruzados assistindo o superávit na balança comercial virar déficit. Ignora que fatalmente terá que haver redução dos juros, ainda que num segundo momento. Essa redução, aliada a medidas como exigência de prazo mínimo de permanência para o capital externo, irá conter a apreciação do real, ainda que dólar cadente seja um problema mundial para o qual país nenhum conseguiu solução que não seja interferir na taxa de câmbio.

Não tenho, obviamente, a qualificação de um Nassif para falar de economia, mas, do meu lado, há um expressivo contingente de economistas e instituições de notório gabarito dizendo que os fundamentos da economia permitirão que administremos o problema cambial. Isso sem falar de quase duas centenas de bilhões de dólares de reservas.

Vivo de fechar contratos de exportação e sei das dificuldades que o dólar barato gera, mas posso garantir que dá para as exportações agüentarem mesmo que chegue a R$ 1,50. E, se isso acontecer, será temporário O próprio dólar tenderá a reagir conforme a economia americana começar a melhorar, talvez lá para meados do ano que vem.

Claro que, para mim, particularmente, seria bom que o real fosse desvalorizado. Contudo, ainda prefiro abrir mão de lucros imediatos em prol de um país melhor para todos. Pena que meus pares prefiram a choradeira a trabalharem com mais afinco. É sempre mais fácil empurrar a conta para o país.”

3 comentários:

equeiroz disse...

Concordo quando se diz que a elevação do Brasil a grau de investimento foi anunciada como coroamento de um processo iniciado nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso.

Quanto ao mérito de Lula infelizmente não posso concordar que teria sido apenas o de dar continuidade à política econômica tucana, pois deu continuidade apenas à política fiscal incluindo juros, através do Banco Central, que foram e ainda são necessários para a estabilidade econômica do Brasil. Simplesmente não há milagres em Economia, como querem a maiorida desses populistas xenófobos.

Ainda bem que Lula, enquanto presidente é um pouco diferente de Lula oposicionista, pois era o primeiro a reclamar dos juros altos e do aperto fiscal, dizendo que assim o Brasil não crescia!

Lembro-me de Lula contra a legislação de responsabilidade fiscal. Ainda bem que parece que ele, agora, acha que é necessária...

Quanto às privatizações, que modernizaram o Brasil e toda a Europa, infelizmente o Lulismo tem uma visão retrógrada de que o Estado é que sabe gerir e definir as estratégias empresarias para o bem de uma nação (vide o que ocorreu com a URSS, Coréia do Norte e Cuba, grandes sucessos econômicos e empresariais, que levaram tantas conquistas e bem estar econômico para as respectivas populações!).

Lembro-me do Lula em passeata contra a privatização da Vale, que hoje é uma empresa muitíssimo melhor e mais respeitada no mundo de quando era apenas cabide de emprego. Só que agora gera efetivamente emprego e riqueza, não apenas baseado nos vastíssimos recursos naturais que recebeu para explorar.

Lembro-me do Lula contra a privatização do sistema telefônico brasileiro. Se ele tivesse ganho essa parada, provavelmente ainda teríamos filas de 5 anos para instalar um telefone fixo e talvez só agora o governo liberasse os celulares, a exemplo do que estão fazendo os grandes estadistas cubanos.

Infelizmente o Estado brasileiro voltou a inchar e as nomeações dentro do governo e nas empresas estatais são políticas, mais que técnicas, com raras e honrosas exceções... A Petrobrás continua fazendo um bom trabalho, o Banco Central e o Ministério da Fazenda são eficientes nas suas políticas ortodoxas. Chega de aventuras heterodoxas e populistas que depois acabam em congelamento de preços ou em fiscais do Sarney...

Como podem achar que burocratas podem gerir bem uma empresa? Lula, vamos voltar com as privatizações e deixar os políticos e burocratas cuidarem da saúde pública e segurança. O resto a iniciativa privada faz melhor, pois tem o risco do negócio, coisa que um burocrata não sabe o que é pois sempre se pode emitir mais dinheiro ou aumentar os impostos para tapar os buracos dos erros, incompetência e desvios cometidos...

Unknown disse...

Prezado Eduardo,
Obrigado pela visita e comentário. Suas idéias estão bem apresentadas. Entendi os seus pontos-de-vista. São diferentes dos meus em alguns aspectos. Por exemplo, as mencionadas privatizações que modernizaram a Europa. Eu morava lá na época de várias delas. Elas não foram feitas com passagens radicais para estrangeiros como no governo PSDB/PFL/FHC. Cito alguns exemplos para conceituar. Quando Tatcher privatizou a Rolls Royce, estabeleceu um limite máximo de 17% de ações ordinárias em mãos estrangeiras. Houve um descontrole, passou de 25%, mas tiveram que voltar ao limite de 17%.
Por falar em Rolls Royce, quando essa companhia inglesa comprou a Allison dos EUA, apesar de a Allison ser pequena em relação às demais do setor nos EUA (P&W,GE etc), o governo norte-americano exigiu vários limites. Ex.: todo o conselho de administração com norte-americanos natos; visitas dos donos ingleses à fabrica deles deveriam ser solicitadas ao gov. americano com 30 dias de antecedênca; alguns setores "secretos" da fábrica, como aqueles que que atendiam à USAF, teriam o acesso negado aos próprios donos ingleses etc. Esses são alguns exemplos entre centenas de outros que não cabem neste espaço de comentários.
A barreira protecionista legal de "by american" em compras governamentais perduram até hoje em vários setores da economia norte-americana. Aqui, o "moderno" era "abrir" tudo, sem privilégios para a indústria nacional. Ao contrário, muitos produtos brasileiros eram aqui carregados com mais impostos que o competidor estrangeiro.
Realmente, esse assunto merece ser mais ampliado, para que os brasileiros sejam melhor informados. Eles não sabem que hoje nossas brilhantes empresas, VALE, Petrobrás e outras estáo em grande parte em mãos estrangeiras, como por ex. a quase totalidade das ações (ON) da EMBRAER.
Os gordos lucros delas vão para o Exterior, desequilibrando nossa balança de pagamentos.
Obrigado
Maria Tereza

Unknown disse...

Continuando e corrigindo: onde disse "by american", leia-se "Buy american".
Maria Tereza