domingo, 4 de maio de 2008

BOLÍVIA – SEPARATISMO OU GOLPE?

No final da noite deste domingo, a agência de notícias France Presse (AFP) informou, conforme publicado no site "UOL Últimas Notícias", o texto abaixo transcrito. Indica um agravamento na direção da desintegração da Bolívia.

POPULARES FESTEJAM VITÓRIA DO “SIM” NO REFERENDO DE SANTA CRUZ (BOLÍVIA)

“Milhares de populares se dirigiram à praça de Armas, em Santa Cruz, para festejar o resultado do referendo pela aprovação do estatuto que estabelece mais autonomia para o Departamento em relação à Bolívia, segundo a agência France Presse.

O resultado oficial ainda não foi divulgado, mas uma pesquisa de boca-de-urna realizada pela rede de televisão local Red Uno aponta que a proposta de autonomia foi apoiada por 85% dos votos.

Homens, mulheres e crianças foram para a praça com bandeiras nas cores branca e verde, as cores do Departamento de Santa Cruz.

A Corte Eleitoral Departamental anunciou que começará a informar nas próximas horas os primeiros dados oficiais do referendo que, para o governo, é ilegal e representa uma intenção separatista.

Segundo o governo de Evo Morales, os 85% dos votos anunciados pela mídia não levariam em conta o abstencionismo, os votos brancos e nulos, que "somam quase 50% do total de inscritos".

Meia hora depois (22h03), outra notícia da mesma AFP informou:

PRESIDENTE DA BOLÍVIA CONCLAMA O DIÁLOGO COM PREFEITOS OPOSITORES

“O presidente da Bolívia, Evo Morales, conclamou os prefeitos da oposição a trabalharem "amanhã mesmo" por uma autonomia de verdade ao considerar que o referendo da região de Santa Cruz deste domingo "foi um fracasso", qualificando-o também de ilegal e inconstitucional.

Segundo Morales, apesar dos percentuais do “Sim” estarem próximos dos 85%, houve um elevado índice de abstencionismo.”

Essas notícias agora publicadas, tornam oportuna a leitura do artigo a seguir, que foi publicado sexta-feira (02/05) pela revista Carta Capital:

O GOLPE DO SEPARATISMO

“O domingo 4 de maio pode ser uma data decisiva para o futuro da Bolívia.

Nesse dia, o governador Rúben Costas, do departamento de Santa Cruz, pretende realizar um referendo sobre sua autonomia, apesar de a Organização dos Estados Americanos (OEA) apelar para que o suspendesse e de a medida ter sido julgada ilegal pela Justiça Eleitoral.

O governo de Santa Cruz recusou-se a considerar o “grupo de amigos” formado por Argentina, Brasil e Colômbia. A Igreja, depois de tentativas inúteis, desistiu da mediação. Uma missão da OEA deve ainda tentar uma última gestão.

Apresentada pelas autoridades de Santa Cruz como “fundação de uma Nova República, uma segunda república não centralista”, a medida tem o sentido de uma tentativa de desestabilização de La Paz, de movimento separatista de fundo racista, ou de ambas as coisas.

Evo Morales não espera de braços cruzados. No mesmo dia do referendo crucenho, serão promovidas manifestações pela unidade nacional em todo o país.

O governo boliviano também completou, no 1º de Maio, a nacionalização do petróleo com a compra do controle das quatro empresas privadas que extraíam hidrocarbonetos no país, aprofundando seu programa de centralização em favor da oprimida maioria indígena.

A proposta, segundo pesquisas de opinião, teria apoio da maioria dos habitantes de Santa Cruz. Mas para o objetivo declarado dos autonomistas – se apoderar das receitas da soja e do petróleo para uso exclusivo dos privilegiados habitantes dos departamentos detentores dessas riquezas – a mera declaração de autonomia parece inócua. Para negociá-la com terceiros, os departamentos rebeldes necessitariam do reconhecimento formal de sua independência pelos países vizinhos, o que parece inconcebível.

O verdadeiro propósito da tentativa pode ser criar uma situação politicamente insustentável e induzir as Forças Armadas a derrubar o governo democrático, possibilidade que deve ser repudiada pelos governos vizinhos com a mesma veemência com que condenam o separatismo.”

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