terça-feira, 22 de junho de 2010

BRASIL SAI DA LINHA DE FRENTE NAS NEGOCIAÇÕES DE ACORDO COM O IRÃ


O ministro Amorim: “algumas pessoas não poderiam ter ’sim’ como resposta”

“O Brasil está abrandando sua tentativa de mediar um acordo sobre o programa nuclear do Irã, uma questão que tem esfriado as relações entre as administrações Lula e Barack Obama.

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil, disse ao “Financial Times” que o país não poderia mais procurar resolver a disputa nuclear depois que os Estados Unidos rejeitaram um acordo turco-brasileiro com o Irã para a troca de metade dos estoques de urânio enriquecido de Teerã por combustível nuclear para um reator para pesquisas. “Ficamos com os dedos queimados por fazer coisas que todo mundo disse que poderiam ajudar e no fim descobrimos que algumas pessoas não aceitariam ’sim’ como resposta”, disse Amorim, em clara referência a Washington.

Segundo ele, se o Brasil for instado a negociar novamente na linha de frente, talvez ainda possa ser útil no processo, mas isso só vai acontecer atendendo a pedidos. Um representante de alto escalão do governo americano congratulou-se com a notícia de que Brasília já não se coloca mais na vanguarda das negociações tendo em vista a decisão do Brasil e da Turquia para votar contra as sanções da ONU ao Irã este mês.

“Eu realmente não vejo o Brasil ou a Turquia em posição para atuar como mediador”, afirmou a autoridade. “Depois de terem votado contra as sanções, eles realmente não são neutros”. Os comentários de ambos os lados revelam as cicatrizes residuais deixadas pelo conflito sobre o Irã.

“Nós estávamos diretamente envolvidos na busca de uma solução e fomos encorajados a fazer isso”, disse Amorim. “E então, quando nós produzimos um resultado, isso não teve consequência. No mesmo dia que o acordo foi produzido, antes mesmo de ele ter sido analisado, a resposta imediata foi o pedido de resolução [da ONU] sobre as sanções”.

Em uma indicação de que EUA e Brasil estão tentando superar suas dificuldades, Brasília decidiu não prosseguir com a retaliação contra os EUA sobre os subsídios aos produtores de algodão, apesar de ter recebido luz verde da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas os dois países seguem em desacordo sobre a conduta no conflito Irã.

O Brasil argumenta que seu acordo com o Irã respeitou os termos de uma carta detalhada do presidente Barack Obama enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril especificando algumas das principais preocupações dos EUA sobre um possível acordo de troca de combustível.

As autoridades brasileiras também se irritaram com as afirmações dos EUA e de outras nações de que o Brasil vai exportar etanol para o Irã, mesmo após as usinas brasileiras afirmarem que não têm tais planos. As vendas de etanol não são proibidas pelas sanções da ONU, mas qualquer fornecimento para o setor energético do Irã seria considerado [pelos EUA] uma violação do “espírito” da resolução da ONU...

FONTE: publicado no “Financial Times”, no jornal “Valor” e no blog de Luis Favre [entre colchetes no último parágrafo colocado por este blog].

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