domingo, 13 de junho de 2010

DECLÍNIO EUROPEU E DESENVOLVIMENTO DESIGUAL: A INGLATERRA PATINA

“Em franco contraste com o desempenho das economias chinesa, indiana e brasileira, a produção industrial do Reino Unido caiu 0,4% entre março e abril. A atividade de mineração e exploração ficou estável e a de petróleo e gás teve queda. No comparativo anual, porém, houve elevação de 2,1% na atividade fabril, pois o país enfrentava recessão 12 meses atrás.

No setor manufatureiro, a produção declinou 0,4% na passagem de março para abril e apresentou incremento de 3,4% no comparativo com abril de 2009. Os dados são da agência de estatísticas ONS.

DECLÍNIO

O desempenho medíocre da indústria britânica é sintomático da crise que atormenta a Europa e que reforça o processo de declínio histórico do velho continente. A Inglaterra também está às voltas com um déficit público assustador, “pior” do que se imaginava, segundo o primeiro-ministro David Cameron, do Partido Conservador.

O rombo nas contas públicas chega a 156 bilhões de libras ou 224,6 bilhões de dólares. O governo já anunciou que pretende cortar gastos, retirando verbas de programas sociais, para contornar o problema. Tal iniciativa deve reduzir a taxa de consumo e criar novos obstáculos à recuperação da economia.

ESTILO DE VIDA EM XEQUE

O custo social das medidas que foram e serão adotadas pode ser alto para a população, que terá de conviver com a estagnação econômica e supressão de direitos e conquistas. O primeiro-ministro conservador declarou que o estilo e padrão de vida dos britânicos terão de ser alterados.

“A forma como enfrentaremos essas coisas afetará nossa economia, nossa sociedade e certamente nosso estilo de vida", ressaltou. "As decisões que tomarmos afetará cada um neste país. E os efeitos dessas decisões nos acompanharão durante anos, talvez décadas à frente."

Já o ministro das Finanças, George Osborne, disse que o Tesouro conseguiu identificar 6,25 bilhões de libras (cerca de US$ 8,99 bilhões) em gastos que podem ser imediatamente cortados neste ano. Acrescentou que os cortes, que ocorrerão no atual ano fiscal, são apenas o início de um doloroso processo para combater o déficit orçamentário nacional.

Decisões ainda mais duras devem ser tomadas no futuro, previu ele. "Nós precisamos tomar ações urgentes para manter nossas taxas de juros mais baixas por mais tempo e para fortalecer a confiança na economia", afirmou Osborne.

QUEM PAGA?

Os cortes anunciados afetam a classe trabalhadora e os segmentos mais pobres do povo britânico. Incluem algumas medidas capazes de gerar tensão política, como o fim de um programa do governo anterior, chamado Child Trust Fund, que destina dinheiro para crianças em seu nascimento, mas que elas só podem retirar após os 18 anos. Também estão nos cortes alguns pontos dos programas para gerar empregos criados durante a recessão.

Até agora o governo manteve sua promessa de proteger os gastos na saúde, na defesa e em ajuda ao exterior. Também acrescentou uma promessa de, este ano, manter os gastos totais com escolas e vários programas educacionais, mas medidas futuras podem ser mais abrangentes e controversas.

O corte mais doloroso entre os anunciados nesta segunda-feira é o do programa para as crianças, que dá aos pais uma pequena quantia para investir no futuro de seus filhos. Esse programa acabará progressivamente a partir do verão local e será concluído até 2011. Osborne disse que o governo economizará cerca de 600 milhões de libras ao cortar gastos em algumas agências do governo. Além disso, deve economizar mais 120 milhões de libras com o congelamento no recrutamento para serviços civis.

MENOS EMPREGOS

As medidas de Osborne foram criticadas por seu antecessor na pasta, Alistair Darling, do Partido Trabalhista. Darling afirmou que estava claro que "esses cortes irão afetar seriamente o apoio aos negócios, significando menos empregos para os jovens e atingindo os estudantes”.

Os cortes também foram condenados pelo movimento sindical. Brendan Barber, secretário-geral do Congresso de Sindicatos do Comércio, disse que a retirada de dinheiro da economia neste momento é perigoso, pois há o risco real da volta da recessão ao país.

Apesar disso, o vice-ministro das Finanças, David Laws, disse que as economias imediatas são apenas o início de um processo para conter o déficit de 156 bilhões de libras. "Quanto mais fundo formos neste processo, mais difíceis ficarão as decisões a serem tomadas", previu. Nem Laws nem Osborne quiseram comentar sobre quantos empregos podem ser perdidos com os cortes.

DESENVOLVIMENTO DESIGUAL

A crise mundial, cujo epicentro migrou dos EUA para a Eueopa, parece estar respaldando e incrementando o desenvolvimento desigual das nações e o progressivo deslocamento do poder econômico do Ocidente para o Oriente, com o progressivo declínio do poderio relativo dos EUA e da União Europeia e o avanço das potências emergentes, com destaque para a China.

A produção avançou 16,5% em maio na China em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo informações do Departamento Nacional de Estatísticas do país. Na Índia, a atividade das indústrias 17,6% em abril, no comparativo com mesmo período de 2009. Refletiram no resultado o bom desempenho do setor manufatureiro, os gastos maiores com infraestrutura e a melhoria das exportações. Foi o aumento mais expressivo desde dezembro de 2009, quando o indicador subiu 17,7%.

FONTE: escrito por Umberto Martins e publicado no portal “Vermelho”.

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