sexta-feira, 11 de junho de 2010

ELO ISRAELENSE PESA NO BASTIDOR DA DECISÃO

MARCELO NINIO, DE JERUSALÉM

“A possibilidade de um ataque militar israelense às instalações nucleares do Irã, mesmo que raramente mencionada publicamente como parte da barganha diplomática, permeou a campanha americana por novas sanções na ONU.

Para o cientista político Gerald Steinberg, está claro que entre os argumentos americanos para convencer Rússia e China a apoiar as sanções havia uma advertência de que a alternativa poderia ser bem pior.

"Um ataque israelense ao Irã teria consequências econômicas devastadoras, principalmente para a China", afirma Steinberg, especialista em resolução de conflitos da Universidade Bar Ilan.

A suposição é a de que o Irã fecharia o estreito de Ormuz, por onde passa 25% do petróleo mundial, causando uma disparada nos preços.

A China seria diretamente afetada -metade do óleo que alimenta sua sedenta economia vem do Oriente Médio.

A cartada deu ao pequeno Israel um desproporcional poder de barganha diante da poderosa China.

No começo do ano, uma delegação que incluiu o economista Stanley Fischer, presidente do Banco Central israelense, foi a Pequim fazer uma projeção dos danos que um bombardeio ao Irã causaria à economia chinesa.

Embora afirme preferir uma solução diplomática, o governo de Israel mantém nas entrelinhas a ameaça de um ataque como último recurso para impedir que o Irã tenha a bomba.

Diplomatas israelenses admitem que a hipótese é lembrada sutilmente para persuadir chefes de Estado em visita a Israel, e que o ritual aconteceu na recente passagem do presidente Lula ao país, em março.

"Se o governo concluir que sanções não são suficientes para parar a bomba, certamente o risco de ataque aumentará", diz Alon Liel, veterano diplomata israelense.

O pacto Brasil-Turquia-Irã é visto amplamente em Israel como um truque de Teerã. Shlomo Avineri, cientista político da Universidade de Jerusalém, acha que Lula fez uma jogada arriscada: ajudou o Irã a ganhar tempo e pode ter tornado mais próximo um confronto militar. "Aliar-se ao Irã de hoje é como aliar-se aos fascistas nos anos 30", critica Avineri, um dos mais respeitados cientistas políticos do país.”

FONTE: reportagem de Marcelo Ninio, de Jerusalém, publicada na Folha de São Paulo (10/06).

Nenhum comentário: