FASCISMO
Rodrigo Vianna
"A imprensa sul-africana dá grande destaque às informações – que vieram a público nos Estados Unidos -mostrando a estreita colaboração que existia, nos anos 70, entre o regime racista sul-africano e o Estado de Israel (http://www.mg.co.za/article/2010-05-28-more-dirt-revealed-on-apartheid-sas-cosy-israeli-ties).
A pesquisadora Sasha Polakow-Suransky teve acesso a documentos que indicam: o regime do apartheid fornecia urânio para Israel desenvolver armas atômicas. O regime do apartheid, aliás, também tinha a pretensão de desenvolver a bomba, e chegou perto de consegui-la. Israel teria colaborado pra isso?
A revelação dessa estreita ligação ganha um caráter simbólico depois do ataque criminoso à frota que tentava se aproximar da Faixa de Gaza. Ataque ocorrido em águas internacionais, ressalte-se.
Israel, mais uma vez, agiu como um Estado fora da lei. Israel impediu a chegada do comboio com ajuda humanitária. O ataque é apenas o complemento lógico e perverso da política adotada por Israel, em relação aos territórios palestinos ocupados.
Israel isola os palestinos em territórios que lembram muito Soweto - a enorme aglomeração, em Johannesburg, onde os negros eram confinados na época do Apartheid.
Já tinha lido muito sobre Soweto. Mas é impressionante ouvir as histórias aqui, em Johannesburg. Ontem, falei com uma professora negra de balé, que trabalha para uma companhia “mista” (é como eles chamam a companhia que oferece aulas para negros e brancos) de dança.
A companhia foi criada nos anos 70, por Silvia Glasser – bailarina branca que ousou desafiar o apartheid; ela levava as meninas negras para ensaiar na garagem de casa. Na época, aulas para negros e brancos – juntos – eram proibidas.
As meninas negras ensaiavam balé na casa da professora branca. E muitas vezes não podiam voltar pra casa. Se fossem paradas pela polícia, num bairro branco, seriam presas.
Os palestinos vivem drama parecido. Podem trabalhar em Israel , mas depois precisam voltar para o “soweto” árabe da Faixa de Gaza. Lá, vivem sob ameaça, sem acesso a comida, sob medo constante. Nos anos 70, os brancos chamavam os negros que ousavam resistir ao apartheid de “terroristas”. Israel (com ajuda da imprensa internacional) chama os palestinos que resistem de “terroristas”.
As trocas entre Israel e os racistas sul-africanos nos anos 70, pelo visto, não se restringiram ao urânio e à tecnologia nuclear. O povo do apartheid talvez tenha inspirado os israelenses a criar a política de segregação adotada em relação aos palestinos. Política criminosa, que merece o repúdio de qualquer humanista mundo afora.
O povo judeu é portador de uma tradição humanista impressionante. Pensadores como Marx, Freud ajudaram a mudar a forma de ver o mundo, nos séculos XIX e XX. Freud, aliás, era contra a criação de Israel (e lembremos um dos maiores defensores do novo Estado, no início do século XX, era um compatriota de Freud, o jornalista austríaco Theodor Herzl - aquele mesmo no túmulo de quem Lula se recusou a depositar flores na recente viagem a Israel).
A crítica a Israel deve ser dura em episódios como esse, do ataque ao comboio humanitário. Mas devemos, também, ficar vigilantes para que a política lamentável adotada por aquele Estado não seja pretexto para o recrudescimento do anti-semitismo.
Israel tem o direito evidente de existir como Estado independente. Afirmações como as do líder iraniano, insinuando a destruição de Israel, devem ser rechaçadas com veemência. Assim como devemos rechaçar a atuação terrorista de Israel, no ataque à frota que tentava levar suprimentos à Faixa de Gaza.
E devemos lembrar que o tratamento dado às populações palestinas tem um nome: fascismo."
FONTE: escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna e publicado em seu blog "Escrivinhador".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Com todo o respeito, pergunto a V.Sa. se teria lido a entrevista do Prof. Juan Cole, da Universidade de Michigan, versado em diversas línguas orientais, incluindo o Farsi, idioma falado por grande parte dos iranianos? Na entrevista, ele afirma que a tradução foi mal feita, originando todo este engano, que acabou favorecendo a Israel. Na verdade, o que Mahmoud Ahmadinejad declarou é que esperava o colapso do estado sionista e não a destruição do estado judeu por qualquer meio.
A entrevista poderá ser lida, em bom português, no endereço: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/201cahmadinejad-nao-ameaca-atacar-israel201d/view ou basta procura "Juan Cole; Brasil de Fato" na rede.
Postar um comentário