sábado, 12 de junho de 2010

MINISTRO DO TURISMO: "NÃO SOMOS MAIS SÓ O PAÍS DO SAMBA E DO CARNAVAL"

A economia forte provocou o aumento das viagens de negócios, responsáveis por 30% das receitas turísticas.

A imagem do Brasil está mudando para melhor. O país deixou de ser conhecido apenas pelo estereótipo que combina Carnaval, samba e futebol, garante o ministro do Turismo Luiz Barretto. O que lhe dá essa confiança é um dado promissor: os visitantes estrangeiros que vêm ao país fazer negócios já são responsáveis por 30% da nossa receita turística. “É o crescimento da economia brasileira que está puxando esse movimento, e a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 só reforçam isso", diz Baretto, que ocupa o cargo há dois anos. Sociólogo, paulistano com passagem pelo Sebrae e por vários órgãos de prefeituras administradas pelo PT, Barretto faz nesta entrevista um balanço dos preparativos do governo e da iniciativa privada para a próxima Copa do Mundo e de como o setor turístico brasileiro fará para crescer 10% ao ano, chegando aos esperados 8 milhões de visitantes em 2014.

O Brasil está cumprindo o cronograma acertado com a Fifa para a Copa?

Sim, estamos todos muito empenhados nisso, e o governo está fazendo a parte dele. Para a hotelaria, por exemplo, criamos uma linha especial de financiamento do BNDES de mais de R$ 1 bilhão, em condições muito especiais, com 18 anos de prazo para novos empreendimentos e 12 anos para a reforma de hotéis. Já há um conjunto enorme de pedidos de empréstimo, e imagino que no meio do ano serão assinados os primeiros contratos. É uma linha que está aberta até 2012 e deverá passar desse R$ 1 bilhão, além disso, há fundos especiais para o Norte e o Nordeste, de R$ 800 milhões, com condições ainda melhores que as do BNDES, com prazos de 20 e 15 anos para pagar em cada caso.

E como andam os investimentos privados em hotéis?

Eles já estão hoje na ordem de R$ 16 bilhões, o que representa um acréscimo de 10 mil novos leitos à rede hoteleira atual. Claro que é preciso analisar a viabilidade econômica de cada empreendimento depois da Copa, mas também é bom que se diga que o turismo no Brasil está crescendo e vai continuar crescendo, independentemente da Copa. Vários indicadores apontam isso.

Quais são esses indicadores?

Nos três primeiros meses de 2010, por exemplo, foram transportados 32% mais passageiros do que no mesmo período do ano passado. Nas linhas internacionais, o crescimento foi de 16%. As previsões que as grandes cadeias de hotéis, como a Iberostar, a Accor e a Pestana faziam para o Brasil dez anos atrás não valem mais. Antes elas achavam que um hotel de luxo só seria viável no Brasil se 70% de seus hóspedes fossem estrangeiros. Hoje essa relação se inverteu, e quem sustenta os grandes hotéis são turistas brasileiros. Outro exemplo é a compra da CVC pela Carlyle, um fundo internacional que opera 260 empresas no mundo. A Carlyle não veio ao Brasil à toa, mas porque nosso mercado consumidor incorporou mais 25 milhões de pessoas nos últimos anos. Outro indicador importante são as novas linhas aéreas internacionais que estão sendo implantadas.

Qual a importância da Copa nesse quadro?

A Copa chegou na hora certa, porque vivemos o melhor momento da nossa economia em muito tempo.

As obras mais urgentes são as dos aeroportos?

Esse é o desafio mais urgente que vamos enfrentar. A INFRAERO acabou de divulgar um plano de R$ 6 bilhões para adequar nossos aeroportos, prevendo obras estruturais, de médio e longo prazo, e também obras emergenciais que ampliarão os terminais com módulos pré-moldados, os mesmos que vários países do mundo estão usando. Os aeroportos de Cumbica, Campinas e Brasília, por exemplo, vão receber esses módulos, porque não podem esperar para 2014, precisam aumentar a capacidade já em 2011. O aeroporto de Vancouver também foi ampliado dessa maneira para a última Olimpíada de Inverno, com pleno êxito. Ninguém falou que aquilo lá era um "puxadinho" num país de Primeiro Mundo.

O Brasil precisa criar quantos leitos de hotel para a Copa?

Depende muito de cada cidade-sede. São Paulo, por exemplo, com 42 mil leitos, não precisa de nenhum. O Rio tem 28 mil leitos, suficientes para a Copa, mas vai precisar de mais 40 mil para a Olimpíada. Com cinco anos para atingir isso, não vejo problema. As cidades mais problemáticas são Manaus e Cuiabá, mas elas poderão suprir o déficit de hotéis com hospedagem em navios, em casas de família e em universidades, como já ocorreu em outros países. Falta de hotel não será problema para a Copa no Brasil. Das 12 cidades-sede sete são banhadas pelo mar ou por grandes rios da Amazônia, o que nos dá a oportunidade de complementar a capacidade hoteleira de terra com a dos navios de cruzeiro que atracarem nessas cidades.

Seu colega de ministério, o ministro Orlando Silva, dos Esportes, admitiu que o atraso nas obras poderia reduzir o número de cidades-sede de 12 para oito. Corremos mesmo esse risco?

Não acredito. O Brasil lutou para ter as 12 cidades-sede e vai trabalhar por todas elas. Elas estão bem distribuídas e representam bem a nossa diversidade. Daqui a seis meses, tenho certeza de que teremos coisas mais concretas para mostrar, a sensação será outra.

E as grandes obras de transporte público, que dependem de verbas federais?

O presidente Lula lançou uma linha de financiamento de R$ 10 bilhões para os projetos de mobilidade urbana e vários deles já foram licitados. Estão nesse caso o corredor de ônibus que ligará o Aeroporto Tom Jobim à Barra e o metrô de São Paulo, que vai chegar próximo ao Estádio do Morumbi e ao Aeroporto de Congonhas.

Como está a preparação dos profissionais de turismo para a Copa?

Estamos com vários programas de qualificação desses profissionais, feitos em parceria com entidades de classe e fundações. Vamos investir R$ 440 milhões nesse esforço, em convênio com cinco entidades de classe. Não vai dar para atender todos os 870 mil profissionais que deverão ter contato direto com turistas na época da Copa, mas vamos atingir boa parte deles.

O mundo vai conhecer um novo Brasil na Copa?

O Brasil ganhou uma expressão no panorama internacional que nunca teve antes, e temos de reconhecer que o presidente Lula foi fundamental nisso. Não somos mais só o país do Carnaval, do samba e do futebol. Hoje temos muitos destinos turísticos e vamos valorizar isso cada vez mais. Criamos a Casa Brasil para divulgar o Brasil durante a Copa na África do Sul e, tão logo termine a competição, entraremos com uma forte campanha publicitária mostrando em vários países do mundo as nossas riquezas e a nossa diversidade. Nosso foco principal será a América do Sul, e a campanha irá se estender por dois anos.

A entrada de turistas no Brasil está crescendo? O que se espera para 2010?

Não temos ainda os dados de entrada de turistas no primeiro trimestre de 2010, mas a receita subiu 16% em relação a 2009. Foi superior também ao mesmo período de 2008, que foi nosso melhor ano, com receita de US$ 5,8 bilhões. Esperamos receber perto de 5,5 milhões de turistas este ano e alcançar US$ 6 bilhões de arrecadação. Nossa meta é continuar crescendo cerca de 10% ao ano e chegar a 8 milhões de visitantes em 2014.

O Brasil é mais emissor do que receptor de turistas?

Em 2009 entraram 5 milhões de viajantes estrangeiros e saíram 4 milhões de brasileiros. Mas a emissão de turistas do Brasil está crescendo num ritmo ainda maior do que a entrada de estrangeiros, e nós gastamos mais lá fora do que eles aqui.

Qual é o setor do turismo com maior potencial de crescimento no Brasil?

O turismo de negócios é o que tem crescido mais nos últimos anos. O Brasil já é o sétimo país em número de eventos internacionais, e São Paulo, a 12ª cidade do mundo nesse ranking. É um resultado natural do crescimento da nossa economia.

O segmento mais forte continua sendo o turismo de sol e praia, mas o de "business" já responde hoje por 30% do que arrecadamos com quem nos visita. As viagens de negócios representam mais de 50% do ingresso dos americanos no Brasil. Para suprir essa demanda, há o Prodetur, Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo, que conta com uma linha de US$ 2 bilhões do BID e da CAF, Cooperação Andina de Financiamento, para infraestrutura, hotelaria, qualificação e promoção turística.

A meta brasileira de receber 600 mil durante a Copa de 2014 não é modesta?

Não, porque a Copa em si não atrai todo tipo de turista, só aquele mais ligado em esporte. Temos de considerar também os turistas brasileiros que viajarão dentro do país durante os jogos, que devem chegar a 3 milhões. O mais importante da Copa é a divulgação que ela traz para o país, em mídia espontânea, antes, durante e depois do evento.

Se estivéssemos mais próximos da Europa...

Seria muito mais fácil! Veja o caso do México. Noventa por cento dos 20 milhões de turistas que vão ao México são americanos, sendo a maioria deles dos Estados da fronteira. Por isso nós vamos reforçar cada vez mais a nossa presença no mercado sul-americano. Recebemos 1 milhão de argentinos e podemos receber ainda mais, porque o argentino tem o hábito cultural da viagem. Podemos também aumentar a presença de chilenos, hoje por volta de 300 mil ao ano. Mas não vamos nos iludir: pelas nossas características, o Brasil sempre será um país em que 80% a 85% do turismo será interno.

Como está a preparação dos 65 destinos indutores do turismo regional? Eles estão todos na órbita das cidades-sede da Copa?

Sim. Eles são atrações naturais para todos que viajarem para as cidades-sede. Quem vier a São Paulo vai querer ir ao Litoral Norte, ou a Brotas fazer ecoturismo. Quem for ao Rio pode esticar até Búzios ou Parati. Os destinos foram definidos em estudo da fundação Getulio Vargas e passam por avaliações anuais. Acompanhamos a evolução desses destinos já há dois anos e faremos isso até 2014, analisando mais de 50 variáveis. O programa está indo muito bem.”

FONTE: publicado no jornal Valor Econômico.

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