sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

GETÚLIO VARGAS


Por Plínio de Arruda Sampaio, no Terra Magazine

“São Paulo tem uma dívida não paga com Getúlio Vargas. Talvez nenhum outro governante tenha feito mais para o desenvolvimento econômico desse Estado do que o grande presidente.

Não fora a defesa do preço do café, certamente, os fazendeiros quebrariam pela impossibilidade de resistir aos efeitos da crise de 1929. Nessa ocasião, Vargas ordenou a queima de café, a fim de restringir a oferta e manter o preço do produto em um nível mínimo.

Seu antecessor, o "paulista" (de Macaé, RJ) Washington Luiz, que se negou a fazê-lo com uma frase que ficou histórica: "quem não pode pagar entrega o que tem".

Não apenas os fazendeiros são devedores: assumindo a chefia da nação, em 1930, um dos primeiros atos de Vargas foi decretar a legislação trabalhista, o que possibilitou a industrialização do país, da qual o principal beneficiário foi o Estado de São Paulo.

No entanto, apesar disso tudo, não há, na cidade de São Paulo, nem um só monumento, rua, praça ou edifício público importante com o nome do estadista. Políticos com muito menor importância foram aquinhoados com essas homenagens e até políticos estrangeiros tem seus nomes nas placas de lugares importantes.

A ingratidão de São Paulo não é isolada. Os governos da burguesia não dão importância a essa figura maior da política brasileira no ensino na História. Num país de muito poucos estadistas, Vargas figura entre os três maiores deles, junto com por José Bonifácio e o Padre Feijó.

É impressionante, entretanto, o número de brasileiros, entre vinte e quarenta anos, que não têm a menor ideia da personalidade de Vargas e desconhecem totalmente, não apenas o que ele fez, mas a tragédia que cercou sua morte - para ele e para o povo brasileiro.

Essa ingratidão tem um motivo: a burguesia não perdoa Vargas pela edição da legislação trabalhista, porque ela conferiu cidadania à classe trabalhadora e isto, para uma burguesia elitista, preconceituosa e reacionária, é uma afronta.

Basta dizer que, durante a Constituinte, um deputado da base janguista, coagido a votar na emenda de reforma agrária que o Presidente esposava, procurou o relator da mesma com a seguinte frase: "posso votar na sua emenda, mas com uma condição: o trabalhador que trabalha numa fazenda desapropriada não pode receber um lote de terra nessa fazenda". Diante da perplexidade do Relator, ele emendou: "É uma questão de respeito".

Cabe à esquerda resgatar a figura de Vargas. Ela tem certa dificuldade em fazer isto porque Vargas, durante o período em que fingiu flertar com o nazismo a fim de coagir os norte-americanos a ceder o know how e a conceder empréstimos para a construção da siderurgia brasileira - peça fundamental para a industrialização do país - deportou a mulher do líder comunista, Luiz Carlos Prestes, para a Alemanha, onde ela foi morta em uma câmara de gás.

O resgate dessa figura maior da nossa História é indispensável, a fim de que as novas gerações possam inspirar-se na sua visão e, sobretudo, em seu nacionalismo para defender o país das agressões externas.”

FONTE: escrito por Plínio Soares de Arruda Sampaio, advogado e promotor público aposentado. Foi deputado federal por três vezes, uma delas na Constituinte de 1988. É diretor do "Correio da Cidadania" e preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA. Publicado no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4843714-EI17081,00.html).

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