quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SILÊNCIO CONSTRANGEDOR SOBRE A LÍBIA


Por Mário Augusto Jakobskind

“A Líbia, praticamente, saiu do noticiário desde a morte-assassinato de Muammar Khadafi. O filho dele, Islam al Khadafi foi preso e, no início, informou-se que ele estava ferido e até com risco de gangrena. Depois, o referido, que estava cotado para ser o herdeiro político do pai, desapareceu das páginas.

Nos últimos dias, as agências informaram que as forças pró-Khadafi recuperaram a cidade de Bani Walid, um dos últimos redutos khadafistas a cair sob controle do “Conselho Nacional de Transição” (CNT). Depois disso, veio a informação segundo a qual o CNT recuperou o reduto, mas as notícias seguem desencontradas.

Já a “Agência Venezuelana de Noticias” (AVN) informava que os Estados Unidos estão preparando a ocupação da Líbia, com o envio de 12 mil “mariners”, o que seria a primeira fase de mobilizações para ocupação da nação norte-africana.

O diário árabe “Asharq Alawsat” divulgou a informação de que as tropas estadunidenses chegarão a Brega, sob o suposto pretexto de gerar "estabilidade" e "segurança". A agência “Press TV” adiantava que se espera que as tropas estadunidenses tomem o controle dos principais poços de petróleo e demais portos estratégicos.

Vale assinalar que Brega, a importante cidade portuária, está localizada no oriente da Líbia, e conta com um dos cinco terminais de petróleo da região, além de ser uma importante refinaria.

Especulação ou não, todo o noticiário em questão não saiu na mídia de mercado. Houve até duas ou três linhas sobre os novos confrontos no país norte-africano, mas sem grandes detalhes ou aprofundamentos.

O certo é que as denúncias de organizações de direitos humanos, segundo as quais crimes de guerra e violações contra civis líbios pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foram cometidos e até agora não investigados.

Como se não bastasse, depois da morte-assassinato de Khadafi, o CNT designou Abdel-Rahim al-Kib como primeiro-ministro líbio. Esse cidadão acima de qualquer suspeita lecionou em universidades estadunidenses e dirigiu o “Instituto do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos” antes de unir-se ao CNT, em meados de 2011. E, além do mais, algumas de suas pesquisas em engenharia elétrica foram financiadas pelo Departamento de Energia dos EUA.

Pelo andar da carruagem e confirmando-se oficialmente todas as informações, o que para muitos analistas acontecerá cedo ou tarde, o retrocesso na Líbia é marcante e, ao que tudo indica, os verdadeiros vencedores da guerra civil, as potências ocidentais, estão apenas confirmando o que foi previsto logo após a tomada de Trípoli por analistas independentes, ou seja, que o país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África estava sendo submetido a novo processo de colonização ao estilo do início do século XX e XIX.

E tem ainda agravante, qual seja, a do retorno da Sharía, o que, trocando em miúdos, afeta as mulheres. Enquanto na era Khadafi elas ocupavam espaços relevantes no país, o novo governo com base na Sharía determinou que as mulheres que quiserem se deslocar para regiões distantes do local de moradia necessitam da autorização do pai, marido ou irmão.

Como para a mídia de mercado a Líbia é um caso encerrado a favor das “forças democráticas”, pouco importa agora o que se passa no país. E se algo porventura falhar, o poder imperial decide pelo envio de reforços militares para garantir a “estabilidade”.

Ao mesmo tempo em que, segundo alguns analistas, a Líbia pouco a pouco poderá retornar às primeiras páginas dos jornais, por estas bandas os jornalões e os canais de televisão a cabo estão dando grande destaque à blogueira cubana Ioany Sanchez. Até o senador Eduardo Suplicy, do PT-SP, entrou no circuito pedindo que o governo brasileiro se mobilize no sentido de permitir o ingresso da referida no Brasil. O visto de entrada foi concedido, o que não poderia ser diferente, porque se não fosse a gritaria de Miami seria enorme e com repercussão mundial.

Ioany é uma blogueira que não consegue explicar como as verbas para a aquisição do seu material de manejo na internet chega às suas mãos. É tudo muito, no mínimo, estranho que ela volta à tona aqui no Brasil exatamente no momento em que se anuncia a ida da presidenta Dilma Rousseff a Cuba, país com quem o Brasil mantém amistosas relações diplomáticas e comerciais.

É também, no mínimo, estranho que no momento em que o regime cubano está numa fase de visível distensão, as damas de branco e as baterias de Miami, que chegam até aos ouvidos do presidente Barack Obama, anunciem a morte de um dissidente político, o que é negado enfaticamente pelo governo de Raúl Castro.

Segundo o governo cubano, o preso que morreu por problemas pulmonares não era preso político, mas sim comum. Estava cumprindo pena de prisão por ter agredido a mulher, segundo denúncia da sogra, e tinha resistido a ordem de prisão. Ainda segundo o governo cubano, o preso nunca tinha feito greve de fome, ao contrário do que foi anunciado por quase todos os veículos de imprensa.

Em suma, seja qual seja o desfecho da “novela” autorização da blogueira sair de Cuba para vir ao Brasil, o tema ainda vai render bastante por estas bandas. Se a autorização for dada, Ioany vai ocupar amplos espaços na mídia de mercado destas e outras bandas latino-americanas, ainda por cima com direito a entrevista exclusiva na TV Globo sob a coordenação de William Waak, jornalista vinculado ao Instituto Millenium, o mesmo que acertou com a mídia de mercado um espaço da blogueira em vários jornais brasileiros. Caso o governo cubano não autorize, acontecerá exatamente a mesma coisa.

Resta, então, aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Em tempo: palmas para Dilma Rousseff, que em vez de Davos preferiu dar o recado no Fórum Social Mundial Temático realizado em Porto Alegre.”

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/silencio-constrangedor-sobre-a-libia).

2 comentários:

Probus disse...

É a tal da "AJUDA HUMANITÁRIA" praticada pelos GENOCIDAS PIRATAS SAQUEADORES da OTAN.

01/02/2012: A destruição da Líbia: uma sombra sobre o Conselho de Segurança da ONU

http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/02/destruicao-da-libia-uma-sombra-sobre-o.html

02/02/2012: Tortura alastra na Líbia

Do Avante!

A tortura e o assassinato de prisioneiros é prática comum na Líbia pós-Kahdafi e as novas autoridades ignoraram todas as denúncias feitas nos últimos meses, revelaram a Amnistia Internacional (AI) e a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/29420-tortura-alastra-na-libia.html

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Ontem mesmo eu estava lendo esta postagem resultada de um comentário meu no Conversa Afiada...

Santayana: Sarkozy e Cameron, olhem para essa criança

Publicado em 08/11/2011

O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana, extraído do JB online:

Mensagem aos “heróicos” trucidadores de crianças

por Mauro Santayana

Circula pela internet vídeo de alguns segundos, que mostra duas crianças de Sirte, sendo atendidas em algum lugar que lembra um ambulatório improvisado. São o menino, de cinco ou seis anos, e a menina, de idade parecida. O menino grita de dor, ainda que tenha as duas mandíbulas, o queixo e a garganta dilacerados, provavelmente por estilhaços de bomba. A menina está em silêncio, olhando o nada, como se o nada pudesse explicar-lhe o sofrimento do menino, e o calcanhar arrancado, o pé quase pendente da perna. O leitor Eugênio, enviou-me os links de acesso às imagens:

http://grupobeatrice.blogspot.com/2011/11/o-jornal-nacional-nao-mostrou.html#links

e

http://www.youtube.com/watch?v=hobDCtmx0xo&feature=player_embedded&oref=http%3A%2F%2Fs.ytimg.com%2Fyt%2Fswfbin%2Fwatch_as3-vflrEm9Nq.swf&skipcontrinter=1

Como veterano jornalista, que cobriu crimes bárbaros e acidentes terríveis, e a dura experiência de guerras civis e invasões militares – mas acima de tudo, como pai e avô – confesso que nada foi tão fundo na minha tristeza do que a imagem das crianças de Sirte. Das ainda vivas, e das mortas da família Khaled. Foi possível imaginar as milhares de outras crianças, mortas e feridas, na Líbia, no Afeganistão, no Iraque, na Palestina. Diante das cenas, revi o Presidente Barack Obama, sua elegante mulher e suas duas filhas, lindas, sorridentes, que o pai presenteou com um cão, para que o fizessem passear pelos jardins da Casa Branca. Revi-as viajando pelo mundo, e visitando escolas na África e na América Latina. E fiquei sabendo da alegria de Monsieur Sarkozy em ser novamente pai. Em sua relativa juventude, marido de uma cantora jovem, famosa e bela, o presidente da França terá, é o que todos esperamos, anos felizes ao lado da filha. Irá conduzi-la pela mão entre os canteiros dos jardins de Paris, e, se as coisas da política lhe permitirem, a ela contará passagens de sua própria infância. Ouvirá a mulher, com sua voz magnífica, cantar-lhe as mais belas berceuses. E quando ela ficar mocinha, se enlevará com as canções de sua mãe, como “Quelqu’un m’a dit”, e seus versos abertos: “Alguém me disse que nossas vidas não valem grande coisa/ Passam em um instante, como fenecem as rosas”.

http://www.conversaafiada.com.br/economia/2011/11/08/santayana-sarkozy-e-cameron-olhem-para-essa-crianca/


"God bless America. God save the Queen."

É DESCARADA demais a HIPOCRISIA dos SEGUIDORES dos PROTOCOLOS dos SÁBIOS de SIÃO (Eeeeeeeeeeca!!!), o pior cego é aquele que não quer ver, o último que sair que apague as luzes!!!

Unknown disse...

Probus,
Ótimos textos. Muito obrigada pelas indicações.
Maria Tereza