“As centenas de mortes e a agitação contínua fizeram
crescer a pressão sobre a administração Obama para que corte a ajuda militar ao
Egito. Essa é a única coisa legal e ética a ser feita. Mas aqui estão algumas
razões que dificultam Washington a tomar essa decisão.
Por Juan Cole, da Universidade de Michigan, EUA
Outras
80 pessoas morreram no Egito na última sexta-feira (16) durante as
manifestações de grupos ligados à “Irmandade Muçulmana” contra o golpe militar
que já custou centenas de vidas. Parte da violência foi causada pela
truculência da polícia, outra parte foi causada por um ataque armado da
Irmandade contra um posto policial. A agitação contínua fez crescer a pressão
sobre a administração Obama para que corte a ajuda militar ao Egito. Essa é a
única coisa legal e ética a ser feita. Mas aqui estão algumas razões que
dificultam Washington a tomar essa decisão:
1. Os EUA não dão grande ajuda ao povo do Egito. Somente 250 milhões de dólares por ano, de um total de US$ 1,55 bilhões, são para civis. A ajuda serve, na verdade, para consolidar um relacionamento entre os oficiais do exército egípcio e o Pentágono.
2. A ajuda militar de US$ 1,6 bilhões de dólares ao ano é uma garantia de armamentos. Ela deve ser gasta com armas fabricadas nos EUA. São fabricantes de armas como a Lockheed-Martin e a General Dynamics (e todos os seus funcionários) que sofreriam as consequências de um corte na ajuda ao Egito.
3. O Congresso deu aos generais do Egito um cartão de crédito para a compra de armamento, e eles o estouraram em 3 bilhões de dólares na compra de F-16 e tanques M1A1. Se os EUA cancelarem a ajuda, ainda terá de honrar esse compromisso.
4. Até mesmo a ajuda dada aos civis deve ser quase toda gasta com bens e materiais norte-americanos. Ela é, na verdade, um crédito corporativo para os EUA.
5. A ajuda foi dada como uma propina para que a elite egípcia fosse gentil com Israel. Dado o caos no Sinai e a instabilidade do Egito, o Congresso está mais preocupado com essa questão agora do que em qualquer um dos últimos 40 anos.
6. Os israelenses pediram aos EUA que não suspendessem a ajuda.
7. O Congresso estruturou a ajuda econômica de forma que parte dela auxiliasse iniciativas conjuntas entre Israel e Egito no próprio Egito. Então, parte dessa ajuda vai, de fato, para Israel.
8. Isso geralmente não é reconhecido, mas o exército egípcio provê um "guarda-chuva de segurança" à Arábia Saudita, ao Kuwait e aos Emirados Árabes Unidos contra o Irã (e às vezes contra o Iraque). Os estados petrolíferos do Golfo possuem poderosos lobbies de Washington e querem que o Egito continue a ser um aliado.
9. Muitos no Congresso dos EUA não discordam das ações dos generais egípcios para derrubar o “Partido da Liberdade e da Justiça” (apoiado pela “Irmandade Muçulmana”), pois “concordam que ele é uma organização terrorista”.
10. Por trás das cortinas, a inteligência militar egípcia ajudou os EUA a perseguir extremistas muçulmanos. Durante a era Mubarak, havia locais secretos onde torturavam, a serviço de Washington, pessoas suspeitas de pertencerem à “Al-Qaeda”. O Estado secreto dos EUA gostaria de reconstruir esses laços com o Egito.”
FONTE: escrito por Juan Cole, professor de história na Universidade de Michigan e especialista em Oriente Médio. Transcrito no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22540) [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].
1. Os EUA não dão grande ajuda ao povo do Egito. Somente 250 milhões de dólares por ano, de um total de US$ 1,55 bilhões, são para civis. A ajuda serve, na verdade, para consolidar um relacionamento entre os oficiais do exército egípcio e o Pentágono.
2. A ajuda militar de US$ 1,6 bilhões de dólares ao ano é uma garantia de armamentos. Ela deve ser gasta com armas fabricadas nos EUA. São fabricantes de armas como a Lockheed-Martin e a General Dynamics (e todos os seus funcionários) que sofreriam as consequências de um corte na ajuda ao Egito.
3. O Congresso deu aos generais do Egito um cartão de crédito para a compra de armamento, e eles o estouraram em 3 bilhões de dólares na compra de F-16 e tanques M1A1. Se os EUA cancelarem a ajuda, ainda terá de honrar esse compromisso.
4. Até mesmo a ajuda dada aos civis deve ser quase toda gasta com bens e materiais norte-americanos. Ela é, na verdade, um crédito corporativo para os EUA.
5. A ajuda foi dada como uma propina para que a elite egípcia fosse gentil com Israel. Dado o caos no Sinai e a instabilidade do Egito, o Congresso está mais preocupado com essa questão agora do que em qualquer um dos últimos 40 anos.
6. Os israelenses pediram aos EUA que não suspendessem a ajuda.
7. O Congresso estruturou a ajuda econômica de forma que parte dela auxiliasse iniciativas conjuntas entre Israel e Egito no próprio Egito. Então, parte dessa ajuda vai, de fato, para Israel.
8. Isso geralmente não é reconhecido, mas o exército egípcio provê um "guarda-chuva de segurança" à Arábia Saudita, ao Kuwait e aos Emirados Árabes Unidos contra o Irã (e às vezes contra o Iraque). Os estados petrolíferos do Golfo possuem poderosos lobbies de Washington e querem que o Egito continue a ser um aliado.
9. Muitos no Congresso dos EUA não discordam das ações dos generais egípcios para derrubar o “Partido da Liberdade e da Justiça” (apoiado pela “Irmandade Muçulmana”), pois “concordam que ele é uma organização terrorista”.
10. Por trás das cortinas, a inteligência militar egípcia ajudou os EUA a perseguir extremistas muçulmanos. Durante a era Mubarak, havia locais secretos onde torturavam, a serviço de Washington, pessoas suspeitas de pertencerem à “Al-Qaeda”. O Estado secreto dos EUA gostaria de reconstruir esses laços com o Egito.”
FONTE: escrito por Juan Cole, professor de história na Universidade de Michigan e especialista em Oriente Médio. Transcrito no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22540) [Imagem do Google acrescentada por este blog ‘democracia&política’].
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