Por Miguel do Rosário, no "Tijolaço"
“A revista 'IstoÉ' desta semana traz mais uma bomba
contra os tucanos. A revista revela a existência de uma conta secreta,
conhecida como “Marília”, aberta num banco de Genebra. Os documentos foram
entregues por autoridades suíças ao Ministério da Justiça.
Será que Merval
continuará dizendo que a corrupção do PSDB é do tipo “boa”, em oposição à
corrução “malvada” do PT?
Leia a íntegra
da reportagem da "IstoÉ":
"A CONTA SECRETA
DO PROPINODUTO
Documentos
vindos da Suíça revelam que conta conhecida como “Marília”, aberta no "Multi
Commercial Bank", em Genebra, movimentou somas milionárias para subornar homens
públicos e conseguir vantagens para as empresas Siemens e Alstom nos governos
do PSDB paulista.
Por Claudio Dantas Sequeira e Pedro Marcondes de Moura
Na edição da
semana passada, ISTOÉ revelou quem eram as autoridades e os servidores públicos
que participaram do esquema de cartel do Metrô em São Paulo, distribuíram a
propina e desviaram recursos para campanhas tucanas, como operavam e quais eram
suas relações com os políticos do PSDB paulista.
Agora, com base
numa pilha de documentos que o Ministério da Justiça recebeu das autoridades
suíças com informações financeiras e quebras de sigilo bancário, já é possível
saber detalhes do que os investigadores avaliam ser uma das principais contas
usadas para abastecer o propinoduto tucano. De acordo com a documentação obtida
com exclusividade por ISTOÉ, a até agora desconhecida “conta Marília”, aberta
no "Multi Commercial Bank", hoje "Leumi Private Bank AG", sob o número 18.626,
movimentou (se contar apenas entre 1998 e 2002) mais de 20 milhões de euros, o equivalente
a R$ 64 milhões. O dinheiro é originário de um complexo circuito financeiro que
envolve 'offshores', gestores de investimento e lobistas.
Uma análise
preliminar da movimentação da “conta Marília” indica que Alstom e Siemens
partilharam do mesmo esquema de suborno para conseguir contratos bilionários
com sucessivos governos tucanos em São Paulo. Segundo fontes do Ministério
Público, entre os beneficiários do dinheiro da conta secreta está Robson
Marinho, o conselheiro do Tribunal de Contas que foi homem da estrita confiança
e coordenador de campanha do ex-governador tucano Mário Covas. Da “Marília”
também saíram recursos para contas das empresas de Arthur Teixeira e José
Geraldo Villas Boas, lobistas que serviam de intermediários para a propina paga
aos tucanos pelas multinacionais francesa e alemã.
O lobista
Arthur Teixeira personifica o elo entre os esquemas Alstom e Siemens. Como
ISTOÉ já revelou numa série de reportagens recentes, com base nas investigações
em curso, Teixeira e seu irmão Sérgio (já falecido) foram responsáveis por
abrir as empresas "Procin" e "Constech", além das 'offshores' "Leraway Consulting" e "Gantown Consulting", no Uruguai, com o único objetivo de servir de ponte ao
pagamento de comissões a servidores públicos e a políticos do PSDB. Teixeira
tinha acesso privilegiado ao secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir
Fernandes, e ao diretor de Operação e Manutenção da CPTM (Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos), José Luiz Lavorente, o encarregado da distribuição em
mãos da propina.
Até 2003
conhecido como "Multi Commercial Bank", depois "Safdié" e, a partir de 2012, "Leumi
Private Bank AG", a instituição bancária tem histórico de parcerias com
governos tucanos. Em investigações anteriores, o MP já havia descoberto outra conta bancária nesse banco em nome de Villas Boas e de Jorge Fagali Neto,
ex-secretário de Transportes Metropolitanos de SP (1994, gestão de Luiz Antônio
Fleury Filho) e ex-diretor dos Correios (1997) e de projetos de ensino superior
do Ministério da Educação (2000 a 2003) na gestão Fernando Henrique Cardoso.
Apesar de estar fora da administração paulista numa das épocas do pagamento de
propina, Fagali manteria, segundo a Polícia Federal, ascendência e contatos no
governo paulista. Por isso, foi indiciado pela PF sob acusação de formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Fagali Neto também é irmão
de José Jorge Fagali, que presidiu o Metrô na gestão de José Serra. José Jorge
é acusado pelo MP e pelo Tribunal de Contas Estadual de fraudar licitações e
assinar contratos superfaturados à frente do Metrô.
Para os
investigadores, a “conta Marília” era usada para gerenciar recursos de outras
contas destinadas a abastecer empresas e fundações de fachada.
Para os
investigadores, a “conta Marília” funcionaria como uma espécie de “conta
master”, usada para gerenciar recursos de outras que, por sua vez, abasteceram
empresas e fundações de fachada, como "Hexagon Technical Company", "Woler
Consultants", "Andros Management", "Janus, Taltos, Splendore Associados", além da já
conhecida "MCA Uruguay" e das fundações "Lenobrig", "Nilton" e "Andros". O MP chegou a
pedir, sem sucesso, às autoridades suíças e francesas o arresto de bens e o
bloqueio das contas das pessoas físicas e jurídicas citadas. Os pedidos de
bloqueio foram reiterados pelo DRCI, mas não foram atendidos. Os investigados
recorreram ao STJ para evitar ações similares no Brasil.
O MP já havia
revelado a existência das contas "Orange (Laranja) Internacional", operada pelo "MTB Bank" de Nova York, e "Kisser (Beijoqueiro) Investment", no banco "Audi" de
Luxemburgo. Ou seja, “Marília” é mais um nome próprio no dicionário da corrupção
tucana. Sabe-se ainda que o cartel operado pelas empresas Siemens e Alstom, em
companhia de empreiteiras e consultorias, usava e-mails cifrados.
RELAÇÃO COM FHC
Um dos beneficiários da propina oriunda da Suíça, Geraldo Villas Boas, mantinha uma conta conjunta com Jorge Fagali Neto, ex-diretor de projetos do Ministério da Educação (2000 a 2003) na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Os novos dados
obtidos pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional
(DRCI) do Ministério da Justiça dão combustível para o aprofundamento das
investigações no Brasil. Além do processo administrativo aberto pelo CADE sobre
denúncia de formação de cartel nas licitações de São Paulo e do Distrito
Federal, outras duas ações sigilosas, uma na 6ª Vara Federal Criminal e outra
na 13ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, apuram crimes contra o sistema
financeiro, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa. Além de altos
funcionários do Metrô, como os já citados Lavorente e Fagali, as investigações
apuram a participação do ex-secretário de Energia e vereador Andrea Matarazzo,
em razão de contratos celebrados entre a Companhia de Energia de São Paulo
(CESPE) e a Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica S.A. (EPTE).
Na documentação
encaminhada pelo DRCI ao MP de São Paulo, a pedido do promotor Silvio Marques,
também constam novos dados bancários de vários executivos franceses, alemães e
brasileiros que tiveram algum tipo de participação no esquema de propinas. São
eles os franceses Michel Louis Mignot, Yves Barbier de La Serre, André Raymond
Louis Botto, Patrick Ernest Morancy, Jean Pierre Antoine Courtadon e Jean
Marcel Jackie Lannelongue e os brasileiros José Amaro Pinto Ramos, Sabino
Indelicato e Luci Lopes Indelicato, além do alemão Oskar Holenwger, que operou
em toda a América Latina. Na Venezuela, Holenwger é citado junto a Mignot, La
Serre, Morancy e Botto em investigação sobre lavagem de dinheiro, apropriação
indébita qualificada, falsificação de documentos e suposta corrupção de
funcionários públicos do setor de energia.
O apoio das
autoridades de França e Suíça às investigações brasileiras não tem sido tão
fácil, e a cooperação é mais recente do que se pensava. O Ministério da Justiça
chegou a pedir o compartilhamento de informações ainda em 2008 – auge da
investigação da Siemens e da Alstom. Mas não foi atendido. Os franceses
lembraram que, nos termos do acordo bilateral, a cooperação só pode se
desenrolar por via judicial. Dessa forma, foi necessário notificar o Ministério
Público Federal para que oficiasse junto à 6ª Vara Criminal Federal e à 13ª
Vara da Fazenda Pública. O compartilhamento só foi efetivado em dezembro de
2010.
A Suíça, ainda
em março de 2010, solicitou a cooperação brasileira na apuração das denúncias
lá, uma vez que parte do dinheiro envolvido nas transações criminosas teria
sido depositada em bancos suíços. Os primeiros dados, relativos à empresa "MCA" e
ao "Banco Audi de Luxemburgo", chegaram ao Brasil em julho de 2011. Foram
solicitadas ainda oitivas com determinadas testemunhas, o que foi encaminhado
ao MPF em São Paulo e à Procuradoria-Geral da República (PGR). Paralelamente, a
Polícia Federal abriu o inquérito nº 0006881-06.2010.403.6181, mas só no último
dia 25 de julho o procurador suíço enviou às autoridades os dados bancários
solicitados, por meio de uma decisão denominada “conclusive decrees”, proferida
em 14 e 24 de junho. Foi com base nisso que a Suíça já bloqueou cerca de 7,5
milhões de euros que estavam na conta conjunta de Fagali e Villas Boas, no
Safdié. Tratou-se de decisão unilateral suíça e a cifra não é oficial – foi
fornecida ao Ministério da Justiça por fonte informal. A Suíça só permite o uso
dos dados enviados em procedimentos criminais.”
FONTE: reportagem de Claudio Dantas Sequeira e Pedro Marcondes de Moura na revista "IstoÉ". Postada pelo jornalista Miguel do Rosário no blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/index.php/bomba-istoe-revela-conta-secreta-do-psdb-na-suica/). [Imagem do google acrescentada por este blog 'democracia&política'].
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