Por Antonio Delfim Netto, na “Folha”
“É preciso estar muito desatento à
realidade brasileira para não perceber a profunda mudança de comportamento do
governo na política econômica, na tentativa de melhorar as suas relações com o
Congresso Nacional e na abertura de um melhor diálogo com os possíveis
investidores nos projetos de infraestrutura.
Na política fiscal, há explícito repúdio a novas alquimias e um
esforço no sentido de manter o déficit nominal abaixo de 2,5% do PIB e a
relação dívida bruta/PIB abaixo de 60%. Ela ainda é desconfortavelmente
"expansiva", contudo não sinaliza qualquer tragédia.
Na política monetária, não há (e nunca houve) ameaça de perda de
controle da taxa de inflação, que teima em permanecer em torno do limite
superior da "meta". Recentemente, entretanto, o Banco Central vem
tentando reduzi-la. Recusou a dominância fiscal que aceitou até há pouco e
aumentou a taxa de juro real.
As contas externas que produziram um déficit em conta-corrente de
quase US$ 250 bilhões entre 2009 e 2013 vão sendo corrigidas endogenamente e
trabalham no sentido de aumentar ligeiramente a taxa de crescimento do PIB.
Três movimentos na direção correta.
Outra mudança tão importante quanto
essas ocorreu também nas relações entre os negociadores do governo com o setor
privado investidor na infraestrutura.
Na busca da necessária e desejada
modicidade tarifária, o insistente "achismo
axiomático ideológico" que produziu tanto atraso foi substituído pela
flexibilização do diálogo e por um esforço de compreensão dos problemas
espinhosos que envolvem todas as concessões de serviços públicos, cercadas no
país por regulações irrealistas. Um exemplo paradigmático foi a aceitação de
que as licenças ambientais dos projetos devem ser objeto da ação preliminar do
governo.
Finalmente, mas não menos
significativo, é o recente esforço do Executivo para melhorar suas relações com o Legislativo. Ele está
reduzindo as tensões que haviam transformado num cabo de guerra a harmonia que
deve prevalecer entre os dois Poderes para o exercício de uma eficiente
administração pública.
É evidente, por outro lado, um
avanço na disposição do governo no sentido "pró-mercado", não "pró-negócio". Assume-se
claramente a ênfase na prioridade da competição em lugar da escolha de
"campeões".
Tudo isso deve tranquilizar as
relações políticas e aumentar a probabilidade de sucesso da política econômica
e das concessões de estradas de rodagem, portos e energia, que poderão ser um
estímulo ao aumento dos investimentos do setor privado em geral. Será também um
fator importante na superação do dramático desânimo [incentivado pela grande mídia, oposicionista, de direita] que se apropriou da
economia nacional.”
FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto, na “Folha”. Transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-mudanca-da-politica-economica-por-delfim-netto). [Imagem do Google e trecho entre colchetes acrescentados por este blog ‘democracia&política’].
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