Dilma, o neto e a filha: direita vai tentar o
golpe no feriado? (Foto Marcello Casal Jr., Agência Brasil)
Da Carta
Capital n˚ 762
O
DESFILE GOLPISTA
Quem são os organizadores de um protesto contra
Dilma Rousseff no Dia da Independência
“As
manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e
de qualidade por militantes do ‘Movimento Passe Livre’ (MPL), mas depois
tomaram rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes
sociais, milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas
redes sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia
da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o
movimento nada tem de apartidário.
O alvo
da “Operação Sete de Setembro” é a
presidenta Dilma. O caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando
se identificam alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos,
consta uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio
de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia
Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni.
É uma
patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia
se eles mesmos virassem alvo de protestos.
A ONG em
questão é a “Brazil No Corrupt-Mãos Limpas”, sediada no Rio. Seus principais
integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu
filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a
OAB na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para obter o registro
de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua página na
internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de Setembro” e a campanha
“Eu Não Voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT”.
Um dos
principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual
fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações,
opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual.
Bolsonaro comanda, na Assembleia do Rio, uma frente para acabar com a prova da
OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, que encampou a idéia de extinguir o exame.
Filho do
deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre
representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento
gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e
a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da
qual eles sentem saudade.
“Naquele tempo havia segurança, saúde,
educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito
de quê? De votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não
faz muito tempo.
A ONG
adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na
internet, um vídeo batiza de “comissão da
veadagem” alguns dos críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o
comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de
teor racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao governo
do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é chamado de…
“paraibano”.
A
agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma denúncia à
Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano passado. Pai e filho
foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio Tenenblat. Em 2009 e 2010,
ambos entraram na Justiça com duas ações populares contra o exame da OAB e o
então presidente da entidade no Rio, Wadih Damous.
A
segunda ação parou nas mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de 2011. Na
sentença, o juiz acusa os autores de “litigância
de má-fé”, pelo fato de manterem outra ação semelhante. “O dolo, a deslealdade processual e a
tentativa de ludibriar o Poder Judiciário são evidentes”, anotou.
Na
apelação levada ao juiz para tentar reabrir o prazo, os Fonseca e seu advogado,
José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de favorecer a OAB “por tráfico de influência ou por
desconhecimento”, o que “demonstra claramente sua parcialidade e má-fé como
magistrado”.
Em maio
de 2012, os três foram denunciados pela procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues
por crime contra a honra. Em novembro, um acordo suspendeu o processo por dois
anos. Os acusados foram obrigados a se retratar publicamente, a se apresentar à
Justiça de tempos em tempos e a pedir autorização sempre que pretenderem deixar
o Rio por mais de 30 dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo,
o processo será retomado.
Ari
Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da “Operação
Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público. Morador de
Curitiba, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser
funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni. Nogueira é um ativo
militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara.
Por meio
do Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a notícia de que
Dilma teria recebido, na eleição de 2010, uma doação de 510 reais de uma
ex-beneficiária do Bolsa Família, chamado por ele de “bolsa preguiça”. Dias
depois, a doação, registrada na prestação de contas de Dilma entregue à Justiça
eleitoral, virou notícia nos meios de comunicação.
O
Ministério do Desenvolvimento Social acionou a doadora, Sebastiana da Mata,
para saber se a contribuição era dela mesmo. Ela negou.
Por
Twitter e Facebook, Nogueira é um dos difusores da convocação para o “maior protesto da história do Brasil”,
em 7 de setembro. Sua página no Twitter é ilustrada com o dizer “Partido
AntiPetralha”, forma depreciativa de se referir aos militantes petistas
bastante difundida na rede de computadores. No ‘orkut’, define-se como
“conservador de direita” e manifesta preferência pelo PSDB.
Até
junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como contratado
na Assembleia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do
então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em
2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa.
Em 2010,
uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito para apurar uma
lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na Assembleia. Nogueira a
integrava. Desde então, alguns suspeitos foram denunciados e julgados.
O caso
de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda uma
autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado. Espera
ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria trabalhado,
enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.
Rossoni,
antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de ‘caixa
2’ na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava
comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional
Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida
comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou
absolvido por 4 votos a 2.
Reeleito
à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de receber
benefícios de empresas donas de contratos de rodovias privatizadas no Paraná.
Durante mais de dois anos, o parlamentar conseguiu barrar a criação de uma CPI
do Pedágio no estado. Perdeu, porém, a guerra. A CPI foi instalada no mês
passado.”
FONTE: escrito
por Andre Barrocal, na revista “CartaCapital” nº 762.
Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/politica/andre-barrocal-saudosos-da-ditadura-se-juntam-a-patota-que-vai-as-ruas-contra-dilma-no-7-de-setembro.html).
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