“[Na
semana passada], o papel da CIA no golpe ao governo de Mohammed Mossadegh no
Irã finalmente foi admitido. O site norte-americano “Foreign Policy” publicou breve história dos casos confirmados de golpes apoiados pela CIA.
Por J. Dana Stuster, no “Foreign Policy”
Por J. Dana Stuster, no “Foreign Policy”
A ditadura militar brasileira foi uma das que teve
apoio da CIA e dos EUA.
A era de golpes apoiados pela CIA despontou de maneira dramática: um general norte-americano viaja até o Irã e encontra “velhos amigos”; dias depois, o Xá ordena que o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh deixe seu cargo. Quando os militares iranianos hesitam, milhões de dólares são injetados em Teerã para corromper os apoiadores de Mossadegh e financiar protestos de rua. Os militares, reconhecendo que a balança do poder começou a pesar mais do outro lado, derrubam o primeiro-ministro, que vive o resto de sua vida sob prisão domiciliar. Esse foi, como um documento da CIA atesta, “uma operação norte-americana do começo ao fim”, e um dos muitos golpes apoiados pelos EUA que aconteceram pelo mundo durante a segunda metade do século 20.
Alguns líderes, tanto ditadores quanto eleitos democraticamente, foram pegos em meio ao conflito entre EUA e URSS da Guerra Fria - uma posição que custaria seus postos (e, para alguns, suas vidas) conforme a CIA tentava instalar “seus homens” no comando dos Estados. O governo dos EUA reconheceu publicamente algumas dessas ações secretas; na verdade, o papel da CIA no golpe de 1953 tornou-se público [na semana passada]. Em outros casos, o envolvimento da CIA ainda está somente sob suspeita.
O legado do envolvimento secreto dos EUA em sete golpes militares bem sucedidos (para não mencionarmos o número de intervenções militares norte-americanas contra regimes hostis, insurgências apoiadas pelos EUA, e tentativas fracassadas de assassinatos, incluindo o caso do plano para matar Fidel Castro com um charuto explosivo), transformaram a mão secreta dos EUA em um bicho-papão nas tensões políticas de hoje. Mesmo hoje, não obstante a minguante influência dos EUA no Cairo, teorias da conspiração sugerem que tanto a Irmandade Muçulmana quanto o governo militar possuem uma sociedade com os Estados Unidos.
Abaixo, uma breve história de casos confirmados de golpes apoiados pela CIA espalhados pelo mundo:
IRÃ, 1953
Muito se
especula sobre o papel da CIA no golpe que instalou, em 1949, um governo
militar na Síria. Apesar disso, a derrubada do primeiro-ministro iraniano
Mohammed Mossadegh é o primeiro golpe durante a Guerra Fria que o governo dos
EUA reconheceu. Em 1953, depois de quase dois anos de governo Mossadegh - durante o qual ele desafiou a autoridade do
Xá e nacionalizou a indústria do petróleo iraniana antes operada por companhias
britânicas - Mossagedh foi tirado de seu gabinete e preso, passando o resto
da vida sob prisão domiciliar. De acordo com documentos da CIA, “foi a possibilidade de deixar o Irã aberto
para uma agressão dos soviéticos - quando a Guerra Fria estava em seu auge
e os EUA estavam envolvidos em uma guerra não declarada na Coreia contra forças
da União Soviética e da China – que nos
fez planejar e executar o TPAJAX [nome da operação do golpe]”.
GUATEMALA, 1954
GUATEMALA, 1954
Apesar de
os EUA no início apoiarem o presidente guatemalteco Jacobo Árbenz - o Departamento de Estado sentia que sua
ascensão apoiada num exército armado e treinado pelos EUA seria um trunfo -
o relacionamento amargou assim que Árbenz tentou realizar uma série de
reformas-agrárias que ameaçavam as posses da empresa norte-americana “United
Fruit Company”. Um golpe em 1954 tirou Árbenz do poder, colocando uma sucessão
de juntas militares em seu lugar. Detalhes secretos do envolvimento da CIA na
derrubada do líder guatemalteco, que incluíam a equipagem de rebeldes e tropas
paramilitares enquanto a marinha dos EUA bloqueavam a costa guatemalteca,
vieram à luz em 1999.
CONGO, 1960
CONGO, 1960
Patrice
Lumumba, o primeiro primeiro-ministro do Congo (mais tarde, República Democrática do Congo), foi tirado de seu
gabinete pelo presidente congolês Joseph Kasavubu em meio a uma intervenção
militar do exército belga (apoiado pelos EUA) no país. Era um esforço
violentíssimo para manter os negócios belgas depois da descolonização do país.
Mas Lumumba manteve uma oposição armada contra os militares belgas e, após se
aproximar da União Soviética para conseguir suprimentos, foi alvo da CIA assim
que a agência determinou que ele era uma ameaça ao novo governo instalado de
Joseph Mobutu. O “Church Committee”, uma comissão do Senado formada em 1975
para fiscalizar as ações clandestinas da inteligência norte-americana,
descobriu que a CIA ''ainda mantinha um
contato bastante próximo com os congoleses que expressaram o desejo de matar
Lumumba,'' e que ''oficiais da CIA
encorajaram e ofereceram ajuda aos congoleses em seus esforços contra Lumumba.''
Depois de uma tentativa interrompida de assassinato de Lumumba, envolvendo um
lenço envenenado, a CIA alertou as tropas congolesas da localização do
primeiro-ministro deposto, além de indicar as estradas que deveriam ser
bloqueadas e as possíveis rotas de fuga. Lumumba foi capturado no final de 1960
e morto em janeiro do ano seguinte.
REPÚBLICA DOMINICANA, 1961
REPÚBLICA DOMINICANA, 1961
A
ditadura brutal de Rafael Trujillo - que
incluiu a limpeza étnica de milhares de haitianos na República Dominicana e a
tentativa de assassinato do presidente da Venezuela - terminou quando ele
foi emboscado e morto por dissidentes políticos. Apesar do atirador que matou
Trujillo sustentar que ''ninguém me mandou matar Trujillo'',
ele teve apoio da CIA. O “Church Committee” descobriu que ''apoio material, sendo três pistolas e três carabinas, foi distribuído
para vários dissidentes… os oficiais norte-americanos sabiam que os dissidentes
pretendiam derrubar Trujillo, provavelmente através de seu assassinato...''
VIETNÃ DO SUL, 1963
VIETNÃ DO SUL, 1963
Os EUA já
estavam muito envolvidos no Vietnã do Sul em 1963, e seu relacionamento com o
líder do país, Ngo Dinh Diem, crescia cada vez mais, com tensões que envolviam
a repressão de Diem sobre dissidentes budistas. De acordo com os “Pentagon
Papers”, em 23 de agosto de 1963, os generais do Vietnã do Sul que planejavam
um golpe contataram oficiais norte-americanos, falando sobre seus planos.
Depois de algumas dificuldades e um período de indecisão dos EUA, os generais
capturaram e mataram Diem com apoio norte-americano em 1º de novembro de 1963.
Avalia-se que parte do apoio consistiu em US$ 40 mil de recursos da CIA.
''Para o golpe militar contra Ngo Dihn Diem, os EUA devem aceitar sua parcela de responsabilidade,'' atestam os “Pentagon Papers”. ''No início de agosto de 1963 nós autorizamos, sancionamos e encorajamos os esforços para o golpe dos generais vietnamitas e oferecemos apoio total para um governo sucessor… nós mantivemos contatos clandestinos com eles durante o planejamento e execução do golpe e solicitamos a revisão de seus planos operacionais, além de sugerir um novo governo.''
BRASIL, 1964
''Para o golpe militar contra Ngo Dihn Diem, os EUA devem aceitar sua parcela de responsabilidade,'' atestam os “Pentagon Papers”. ''No início de agosto de 1963 nós autorizamos, sancionamos e encorajamos os esforços para o golpe dos generais vietnamitas e oferecemos apoio total para um governo sucessor… nós mantivemos contatos clandestinos com eles durante o planejamento e execução do golpe e solicitamos a revisão de seus planos operacionais, além de sugerir um novo governo.''
BRASIL, 1964
Temendo
que o governo do presidente João Goulart transformasse, nas palavras do
embaixador norte-americano Lincoln Gordon, ''o
Brasil na China de 1960'', os EUA apoiaram o golpe liderado por Humberto
Castello Branco, à época chefe do Estado-Maior. Nos dias anteriores ao golpe, a
CIA encorajou manifestações contra o governo, assim como proveram combustível e
''armas de origem não-norte-americanas''
àqueles que apoiavam os militares. ''Eu
acho que devemos tomar todas as medidas necessárias, e estarmos preparados para
qualquer coisa que precisemos fazer,'' disse o presidente Lyndon Johnson a
seus conselheiros que planejavam o golpe, de acordo com documentos obtidos pelo
“National Security Archive”. Os militares brasileiros se mantiveram no poder
até 1985.
CHILE, 1973
CHILE, 1973
Os
Estados Unidos nunca desejaram que Salvador Allende, o candidato socialista
eleito presidente em 1970, assumisse seu posto. O presidente Richard Nixon
mandou que a CIA fizesse que a economia do Chile ''gritasse'', e a agência
trabalhou com três grupos chilenos, cada um planejando um golpe contra Allende
em 1970. A agência foi tão longe a ponto de fornecer armamento, mas os planos
foram por terra depois que a CIA perdeu a confiança em seus contatos. As
tentativas norte-americanas de destruir a economia chilena continuaram até que
o general Augusto Pinochet liderou um golpe militar contra Allende em 1973. O
relatório oficial da CIA sobre a tomada do poder em setembro de 1973 aponta que
a agência ''estava consciente dos planos
de golpe dos militares, possuía relacionamentos para coleta de dados de
inteligência com os conspiradores, e - pelo fato da CIA não desencorajar a
tomada e até procurar instigar um golpe em 1970 - parecia tolerá-lo.'' A
CIA também conduziu a campanha de propaganda de apoio ao novo regime de
Pinochet depois que ele tomou posse em 1973, apesar do conhecimento de severos
abusos contra os direitos humanos, incluindo o assassinato de dissidentes
políticos.”
FONTE: escrito por J. Dana Stuster, no “Foreign Policy” (EUA). Tradução de Roberto Brilhante, para a “Carta Maior”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=222108&id_secao=9).
FONTE: escrito por J. Dana Stuster, no “Foreign Policy” (EUA). Tradução de Roberto Brilhante, para a “Carta Maior”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=222108&id_secao=9).
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