Por Rogério Maestri
QUAL O VERDADEIRO MOTIVO PARA
INTERVENÇÃO NA SÍRIA? O IRÃ, A ARÁBIA SAUDITA OU A EUROPA?
“Quanto mais velha fica uma
superpotência, maior é o número de jogadas de xadrez que são antecipadas no
jogo internacional, e quanto maior o número manobras diversionistas que forem
feitas, melhor será o jogo.
A possível intervenção na Síria é
tida pela maior parte dos “analistas
internacionais de geopolítica” como uma estratégia de cercar o Irã, porém,
se for olhado com cuidado, essa hipótese mais parece uma manobra diversionista
do que o verdadeiro jogo.
Nos últimos cinco anos, os Estados
Unidos estão num novo surto de produção de hidrocarbonetos, o gás do xisto e as
areias betuminosas do Canadá. Ambas as fontes de combustível têm duas
características em comum, são abundantes e caras.
Para a extração do gás através do fraturamento
hidráulico ou o refinamento do betume das areias do Canadá, é necessário um
preço do petróleo próximo aos US$ 100,00 o barril. Isto é facilmente
verificável pela produção do gás por fraturamento, pois todas as vezes que esse
preço atingiu valores da ordem de US$ 60,00 o barril, a produção dessas fontes
despencam. Um poço que produz gás por fraturamento hidráulico tem, nos dois
primeiros anos, perda de produtividade em torno de 60%. Logo, para manter a
produção, é necessária a abertura de novos poços, encarecendo em muito o
produto final.
Devido a isso, os Estados Unidos
precisam de preço alto no petróleo, não para a segurança de abastecimento, pois
tanto uma como outra fonte está no seu território ou está no seu quintal, mas
sim para manter a competitividade internacional e, de preferência, acabar com a
concorrência.
Quem compete com os Estados Unidos
no mercado internacional? Europa, China e Índia. Logo, é necessário
inviabilizar, ou pelo menos tornar cara, a produção industrial dos países que
dependem de energia importada. Para isso, o melhor que eles podem fazer é
manter caro o preço do petróleo no mercado internacional e ter fontes de
energia de menor custo no seu mercado, mesmo que essa seja cara. O importante é
ser mais barata do que nos outros mercados.
Pode-se pensar que um dos objetivos
dos Estados Unidos seja de dominar o mercado internacional de petróleo.
Conquistando Iraque e a Líbia, e se for conquistado o Irã, eles poderiam manter
o preço alto artificialmente. Porém, como seus aliados europeus participam do
saque do Iraque e da Líbia, não têm como garantir esse truste.
Agora, vamos aos fatos para tentar
compreender a estratégia norte-americana. Tanto o Iraque como a Líbia não
conseguem, e provavelmente não vão conseguir tão cedo, retomar a produção de
petróleo que tinham antes das intervenções militares, pois zelosamente os
verdadeiros amigos, os “radicais islâmicos”, não deixarão que isso ocorra.
Por outro lado, a produção de
petróleo do Irã e de outros países detentores de grandes reservas (como Nigéria
e Venezuela) não deslancha e nunca deslancharão. Ações de boicote às
tecnologias mais sofisticadas de pesquisa e exploração de novos campos, que
podem ser levadas por poucas empresas detentoras dessas tecnologias,
inviabilizam o aumento da produção.
Resta somente um perigo, a Arábia Saudita.
O reino, com suas dezenas de príncipes e com uma voracidade de dólares para
sustentar toda a família real, pode simplesmente pensar em aumentar a sua
produção para gerar receitas. A produção de petróleo da Arábia Saudita está
estagnada a anos. De forma confortável, ela gera riquezas e satisfaz o “status
quo” local. Porém, isso é garantido pelo atual Rei, ninguém sabe qual e como
será o próximo!
Há pouco, se começa a, de um lado
para outro, ouvir-se vozes de príncipes contra a brutal e medieval dinastia
saudita, algo muito conveniente. Prepara-se com tempo o próximo Rei; um Rei
talvez mais permeável aos ditames norte-americanos e que terá uma primeira e
grande missão. Desorganizar e diminuir a produção de petróleo da Arábia Saudita
através de mais uma longa guerra.
Uma conclusão simples de tudo isso,
é que o cerco é contra o Reino Saudita e o objetivo não é conquistar o domínio
da produção do petróleo. É simplesmente inviabilizar o seu crescimento.”
FONTE: escrito por Rogério
Maestri e publicado no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-motivos-para-a-intervencao-na-siria).
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