Por Miguel do Rosário
“Os massacres do Egito nos ensinam muita coisa. A
mais importante delas é o risco de arruinar a democracia quando se a substitui
descuidadamente por uma suposta “voz das
ruas”. A demoracia é um regime baseado numa teoria de Estado já milenar, e
que, apesar de seus incontáveis defeitos e contradições, revelou-se mais
estável e progressista que todas as outras. E a base da democracia é o direito
de cada um, não só nas ruas, mas nos campos, na beira dos rios, nas montanhas
longínquas, ou mesmo apenas com impossibilidade de sair de casa por alguma
razão, de ter o mesmo direito à opinião e o mesmo peso em decisões políticas do
que um manifestante acampado diante da casa do governador.
É incrível a hipocrisia da nossa imprensa. Quando
governos de esquerda decidiram consultar a população através da realização de
plebiscitos, que são instrumentos legais e mesmo tradicionais, para ouvir a
opinião da sociedade sobre temas importantes, nossos jornalões, repetindo a
opinião do império, acusaram a tentativa de se criar uma “democracia
plebiscitária”.
E aí, quando eles acham que a voz das ruas pode
favorecer os seus interesses, eles dão uma pirueta conceitual e afirmam
idiotices como “a voz das ruas ser a
expressão da vontade do cidadão”, como fez Merval domingo em sua coluna.
Eu cito sempre Merval, quero deixar claro, porque
ele é o porta-voz dos interesses daqueles que mandam na Casa Grande, dos mesmos
que sempre se locupletaram com nossa miséria e subdesenvolvimento, a começar
pela família Marinho. Merval é um lacaio deles.
E também porque é absolutamente chocante que, em
pleno século XXI, vejamos a nossa grande mídia defendendo, despudoramente,
teses linchatórias.
Está me parecendo que tudo é planejado. A grosseria
de Joaquim Barbosa visa intimidar os outros juízes, como ele já fez na primeira
fase do mensalão. Como imaginar as delicadas Carmen Lúcia e Rosa Weber
enfrentando uma besta fera truculenta como esse homem?
Estaria certa a ex-ministra Ellen Gracie, quando
reagiu assustada ao saber da nomeação de Barbosa e disse: “Vai vir para cá um espancador de mulher?”
A crítica da imprensa à Barbosa é mascarada e
maquiavelicamente preparada para fazê-lo parecer o “justiceiro do povo”. Tão grosso e tão justo! Como bons filisteus,
eles criticam sua truculência de dia, mas a festejam à noite, entre risos e
copos de uísque.
Alguns nem fingem. Merval acusou domingo, criminosamente, o ministro Lewandowski:
“desde o início do julgamento [Lewandowski] denota a intenção de
retardá-lo ao máximo”
Isso não é acusar um ministro de fazer chicana?
A repreensão da Casa Grande midiática aos maus
modos de Joaquim Barbosa visa parecer, deliberadamente, a crítica de um inglês
pedante à maneira desleixada de Robin Wood se vestir. Só que Wood roubava dos
ricos para dar aos pobres. Barbosa quer prender um punhado de pobres para
agradar aos ricos. Sim, pobres. Pizzolato é pobre e sem poder. José Genoíno é
pobre e sem poder. Os publicitários condenados já devem estar hoje empobrecidos
e, definitivamente, não têm e nunca tiveram poder. Entre os réus do mensalão,
estão secretárias subalternas, sem dinheiro e sem poder, condenadas a décadas
de prisão, porque o STF tem de cumprir o teatro organizado pela “Globo”, de
prender “poderosos”…
Prender José Dirceu, sem prova nenhuma, acusando-o
do crime capital de fazer política, ganhar eleições e lutar pela
governabilidade, será uma dulcíssima vingança para os donos da mídia. Mas ele
também não tem dinheiro ou poder. Quando teve poder, era um poder alcançado via
sufrágio universal. Era um poder imantado de democracia e soberania popular.
Não era um poder amealhado com a venda do Brasil a interesses estrangeiros, nem
com a entrega de nossa democracia à sanha de ditadores, como é o poder da “Globo”.
Um poder que permitiu à família Marinho acumular uma fortuna hoje avaliada em
52 bilhões de reais!
Mas a “Globo”, com apoio de seus coxinhas de
estimação, chama Pizzolato, um homem pacato que nunca exerceu cargo importante
no PT, nunca foi influente no governo e jamais foi rico, de “réu poderoso”; e
ameaça o STF com uma revolução egípcia se não prendê-lo. Diante da “voz das
ruas” e dos editoriais raivosos, quem se importará com o sofrimento de sua
família, não é? Um pequeno sacrifício humano aqui e ali não vai fazer mal a
ninguém… Como diria Barbosa, em entrevista recente, ele é “personagem menor”…
Sem argumentos, os donos da mídia estão apelando,
assim como Barbosa, à truculência, à ameaça. Enquanto Barbosa violenta o
direito de um de seus pares de expor seu voto, e o calunia publicamente diante
das câmeras da TV Justiça, a Globo e seus satélites sabotam o direito à
informação de seus leitores, usando concessões públicas que ganharam no regime
militar para defender seus interesses politicamente reacionários e
financeiramente escusos.”
FONTE: escrito por Miguel do
Rosário no blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/a-truculencia-de-barbosa-e-a-mesma-da-globo/).
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