domingo, 2 de agosto de 2015

O PESSOAL DO "BOMBARDEIE O IRÃ" NÃO DESISTE




O pessoal do "Bombardeie o Irã" não desiste

Por Pepe Escobar, no "Russia Today" RT

"Já antes do recesso de agosto na Colina do Capitólio, os cães da guerra atiçados por controle remoto por Telavive, e como se podia prever que fizessem, estão tentando rasgar em tiras o acordo nuclear Irã-P5+1, atacando por todos os lados.

Nem faz diferença que o National Iranian American Council – que é amplamente respeitado na mesma Washington – tenha saído em empenhada defesa do acordo.

Nem faz diferença que o governo Obama possa contar com os esforços combinados dos embaixadores dos chamados E3 (Grã-Bretanha, França e Alemanha) em Washington, que se consomem explicando o óbvio: é um tratado internacional já aprovado pela ONU, não é acerto de bate-boca de paróquia em Idaho.

Por outro lado, faz diferença, sim, que o governo Obama não se tenha empenhado suficientemente para defender sua estratégia bem como o resultado de negociação tão longa e cheia de percalços traiçoeiros.

Assim sendo, o que se tem são duas narrativas que vão modelando a batalha à frente, em Washington.

1) Irã é nação bandida, ameaça existencial a Israel e não merece confiança. Vão desrespeitar o acordo, portanto o acordo tem de ser rejeitado em benefício de… ou sanções perpétuas, ou guerra.

2) Irã é nação bandida, que não merece confiança, mas temos os mecanismos necessários para verificação e controle e, no instante em que o Irã "cometer fraude" – como sem dúvida cometerá –, lançaremos imediatamente sanções "de retaliação".

Não surpreende que, nessas circunstâncias, ninguém em Teerã confie em Washington.

Quem é realmente digno de confiança?

Agora, quanto ao outro lado da narrativa.


Dia 18 de julho, quatro dias antes de o acordo ser assinado em Viena, o Líder Supremo do Irã Aiatolá Khamenei – pressentindo de que lado sopraria o vento de [Washington] D.C. – tratou logo de ir direto ao ponto. A intervenção dele delineou os parâmetros pelos quais o Irã trabalharia ativamente para vencer a máquina de propaganda massiva que continua a demonizar a República Islâmica ao mesmo tempo em que promove uma vitória da diplomacia ocidental.

Em Viena, sim, foi vitória da diplomacia – Oriente e Ocidente trabalhando juntos.

Mesmo antes de seu discurso, Khamenei já tocara o ponto chave, numa mensagem curta que enviou ao presidente Hassan Rouhani, na véspera do acordo ser firmado.

O parágrafo que vale ouro é o seguinte:

“…é necessário estudar muito cuidadosamente o texto que foi preparado, para assegurar que pode andar na direção legal que foi determinada para o acordo. Na sequência, no caso de ser ratificado, é necessário estar alerta para possíveis brechas, pelo outro lado, nos acordos, e bloqueá-las. Você sabe muito bem que alguns dos seis governos no campo oposto não são de modo algum confiáveis.

Os E3 podem não ser inteiramente "confiáveis", mas aqui, tudo é business; não há o que Grã-Bretanha, França e Alemanha – e o resto da União Europeia, vale lembrar – desejem mais do que reiniciar os negócios com o Irã no front da energia e, desse, adiante.

A batalha em Washington, por seu lado, será cruel, mesmo com o governo Obama confiante de que os cães da guerra não têm número suficiente de votos para bloquear a ratificação do acordo, como diplomatas iranianos confirmaram pessoalmente a mim, em Viena, durante as negociações.

Em Teerã, por sua vez, o acordo deve obter sem problemas a aprovação da Assembleia Consultiva.

O resumo da história em termos de realpolitik, como o próprio Khamenei definiu, é que o Muro de Desconfiança EUA/Irã parece destinado a permanecer onde está – e muito além do acordo nuclear. Múltiplas facções de Washington, para nem falar do Pentágono, continuam a considerar o Irã como “ameaça”, nação bandida, o mal encarnado; e Teerã vê Washington como “o coração da arrogância global”.

Por tudo isso, a via geopolítica futura do Irã – aconteça o que acontecer depois de o acordo ter sido ratificado nas duas capitais e de o pacote de sanções começar a ser levantado ao final de 2015/início de 2016 – é a integração à Eurásia, como discuto em detalhe em "O Big Bang eurasiano" [traduzido em Oriente Mídia (NTs)].

Implica cooperação mais próxima – e parceria estratégica de três vias – entre Irã, Rússia e China. O que por sua vez implica que os cães da guerra do "Bombardeiem o Irã" ficarão ainda mais sedentos de sangue."

FONTE: escrito por Pepe Escobar, no "Russia Today"-RT. Transcrito no site "Patria Latina" (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=25102b27fa432b4bba8b713ed83fc68e&cod=15676).

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